Ultimatos dos terroristas
O grupo terrorista Jihad Islâmica, que no dia 17 passado
mandou um duro recado às autoridades norte-americanas e ao emirado do Kuwait,
deu, ontem, sua assinatura numa tentativa de morte do xeque kuwaitiano, Jaber
al Ahmad al Jaber.
Atrevidamente, após a explosão de
uma bomba nesse país do Golfo Pérsico, que feriu, sem muita gravidade, o
monarca, esclareceu que o ataque era mero lembrete. Assegurou que se tratava de
um complemento prático da ameaça feita na semana passada.
O Kuwait mantém presos 17
terroristas do Jihad, que o grupo deseja soltar a qualquer preço. E na
exigência feita pelos extremistas, no dia 17 passado, eles garantiram que a
recusa kuwaitiana de soltar os seus asseclas iria resultar em “um inferno para
seus conselheiros e embaixadores, em todo o mundo”.
Na oportunidade, a propósito de
aviso semelhante feito aos Estados Unidos, nós comentávamos, aqui neste espaço,
que, conhecendo os antecedentes e o fanatismo dos guerrilheiros, dificilmente
as ameaças se tratavam de blefe. E, como se vê, o grupo não estava, de fato,
blefando.
Até hoje as autoridades, que têm
de se haver com esse tipo de problema, ainda não sabem como fazer para evitar
que extremistas cumpram ameaças desse tipo. A maioria dos governos tem por
princípio jamais negociar com terroristas. Isso ficou bem claro, em relação aos
Estados Unidos, no discurso que o secretário de Estado, George Shultz, proferiu
na Sociedade Americana para a Segurança Industrial, na Virgínia, em janeiro
passado.
Ele disse, na oportunidade, que,
“quando a intimidação terrorista consegue mudar nossas diretrizes políticas e
forçar o fechamento de nossas empresas no Exterior, estamos dando a eles uma
vitória. Isso só pode contribuir para o aumento do terrorismo”.
Então, o que fazer? Porque de
prático, de realmente efetivo, nada, ainda, foi feito, até hoje, contra grupos
que realmente têm expressão. O governo italiano, por exemplo, recusou-se a
negociar com as Brigadas Vermelhas em 1978, no caso do seqüestro do primeiro-ministro
Aldo Moro, ocorrido em 16 de março daquele ano.
E o que aconteceu? Algum policial
localizou os brigadistas e resgatou o premier? Todos sabem que não. Moro acabou
sendo encontrado morto, em 9 de maio daquele ano. Valeu a pena o sacrifício de
uma vida tão preciosa, quanto era a desse eminente professor de Direito Penal,
um dos políticos de maior projeção da Itália? É claro que não! Então, o que
deve ser feito?
Apelar para os sentimentos de
justiça e de moral dos extremistas, como fez o papa João Paulo II, em Ayacucho,
no Peru, no dia 3 de fevereiro deste ano, também é contraproducente.
Dirigindo-se aos guerrilheiros do grupo Sendero Luminoso, naquela oportunidade,
o Sumo Pontífice advertiu: “O mal jamais é o caminho para se chegar ao bem.
Vocês não podem destruir a vida de seus irmãos. Não podem continuar a semear o
pânico entre as mães, esposas e filhos. Vocês não podem continuar a intimidar
os idosos. A lógica cruel da violência não conduz a parte alguma”.
A resposta do Sendero foi um
blecaute em Lima, na hora em que o avião do Papa pousava, colocando a sua vida
em perigo. No discurso mencionado acima, de George Shultz, o secretário de
Estado deu uma receita, em tese eficaz, para combater o terror. “No correr dos
anos, a experiência nos ensinou que um dos melhores fatores de dissuasão do
terrorismo é a certeza de que serão adotadas medidas rápidas e seguras contra
os que realizam ações terroristas”, afirmou.
Mas é aí que reside o âmago da
questão. Até hoje, nenhuma providência foi tomada nesse sentido, nem segura e
muito menos rápida. Sentindo-se impunes (e, virtualmente eles estão), os
terroristas chegam ao cúmulo do atrevimento de ameaçar até o governo de uma
superpotência, como são os Estados Unidos. Imaginem se um dia eles tiverem
condições de fazer uma chantagem nuclear! Dá arrepios só de pensar o que pode
acontecer!
(Artigo publicado na página 19, Internacional, do Correio Popular, em 26
de maio de 1985).
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