Campanha equivocada
Pedro J. Bondaczuk
A propaganda política para o
plebiscito de 21 de abril, que começou a ser veiculada na sexta-feira passada,
foi decepcionante, mesmo se for levado em conta o fato dela entrar no ar em
plena época de carnaval, quando as atenções do brasileiro, obviamente, estão
voltadas para outros assuntos, nada sérios.
Ainda assim, esperava-se um
enfoque didático sobre as diferenças dos regimes monárquico e republicano e dos
sistemas de governo, presidencialista e parlamentarista. Ficou clara, contudo,
a tônica que as campanhas vão ter. E a briga, não tenham dúvidas, será
acirrada.
Os parlamentaristas vão contar,
com certeza, com um forte aliado entre os monarquistas. Até porque, mesmo os
defensores mais ferrenhos desse regime não concebem uma monarquia absoluta,
onde a palavra do rei tenha força de lei. O monarca, entre nós, teria o papel
de Juan Carlos, na Espanha. Atuaria como Poder Moderador, para dirimir
pendências surgidas no gabinete de ministros. Seria, portanto, chefe de Estado.
Os presidencialistas, já ficou
claro, vão direcionar todas as suas baterias nas eleições diretas para
presidente da República. Ocorre que o governo que emergir do Parlamento estará
longe de ser ilegítimo ou indireto, posto que o primeiro-ministro será o líder
do partido que obtiver maioria nas urnas.
O cargo será ocupado, portanto,
por um político eleito pela maioria dos brasileiros. A Presidência da República
é que será uma função quase decorativa, protocolar – se prevalecer o sistema
alemão, a nosso ver o mais adequado para o País.
Caso nosso parlamentarismo seja
como o francês, aí sim haverá enorme confusão. As crises de gabinete,
certamente, irão se suceder. Na França, o presidente e o primeiro-ministro
dividem o poder. Quando ambos são do mesmo partido, tudo funciona a contento.
Mas quem acompanha a política internacional deve estar lembrado do que ocorreu
em meados da década de 80, quando o socialista François Mitterrand precisou
compartilhar o governo com o direitista Jacques Chirac, que acumulou a função
com a de prefeito de Paris. Foi o que se convencionou chamar de “coabitação”.
As trombadas entre o
primeiro-ministro e o presidente da República foram constantes. O país tinha
uma crise atrás de outra e, em certos momentos, parecia estar acéfalo, a
despeito de ter duas cabeças para tomar decisões. Fosse outro o ocupante da
presidência, que não o experiente Mitterrand, e os rumos políticos franceses
poderiam ser bem piores do que foram naquela oportunidade.
Nossos parlamentaristas estão
empunhando esta bandeira na campanha para o plebiscito. Ou seja, parece que a
malfadada experiência da França não está sendo levada em conta, ou por
desinformação, ou até por demagogia (para que possam apregoar eleições diretas
para a Presidência, fato que no regime parlamentarista é absolutamente
irrelevante).
Com esta postura, o máximo que
vão conseguir é arrebanhar adeptos para a monarquia, cujos representantes estão
deixando clara a função do rei, de chefe de Estado, e não de governo, com a
tarefa sobressalente do exercício do Poder Moderador.
(Artigo publicado na página 2,
Opinião, do Correio Popular, em 27 de fevereiro de 1993).
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