Saturday, August 29, 2015

Assuntos não irão faltar


Pedro J. Bondaczuk


Os rumores que circulavam insistentemente há alguns dias, de que ocorreria uma reunião de cúpula entre os presidentes George Bush, dos Estados Unidos, e Mikhail Gorbachev, da União Soviética, ainda no corrente ano, se confirmaram ontem. Ambos vão se encontrar, no próximo mês, a bordo de navios de guerra de seus países, no Mar Mediterrâneo.

Logicamente, os diálogos deverão ocorrer alternadamente, um visitando a embarcação um do outro. Para que não se criem expectativas exageradas em torno desse encontro, a Casa Branca já avisou que ele terá um caráter absolutamente informal. Que a intenção não é a de se obter qualquer acordo, ou se assinar algum eventual tratado.

Para isso, há uma outra cúpula prevista para maio ou junho de 1990, quando algum profundo corte nos arsenais nucleares das superpotências deverá certamente ocorrer.

Bush afirmou, ontem, que a razão desse diálogo imprevisto, ainda no corrente ano, é a de travar conhecimento com seu interlocutor. Certamente o presidente norte-americano tentará sondar o quanto há de sinceridade nas manifestadas intenções de Gorbachev de liberalizar o Leste europeu.

Temas como as reformas políticas e econômicas na Polônia e na Hungria, certamente serão obrigatórios. Na oportunidade, o presidente norte-americano aproveitará para conferir o quanto há de verdade nas notícias procedentes de Moscou de que o Cremlin não se oporia à eventual reunificação das duas Alemanhas e à retirada húngara do Pacto de Varsóvia.

Enfim, quando se trata de uma conversa entre os dois homens mais poderosos do Planeta, chefes de governos dos dois únicos países cujas decisões realmente contam alguma coisa na ordem geral dos acontecimentos, assuntos, certamente, não faltam. Mesmo tratando-se de uma reunião dita informal.

Alguns temas que outrora pontilharam no topo das pautas das cúpulas anteriores, agora perderam sua importância, superados que foram pelos acontecimentos. Um deles era o Afeganistão, que hoje, após a retirada soviética de fevereiro passado, caiu no ostracismo, embora esse país permaneça em guerra.

Aliás, desde que as superpotências começaram a se entender, vários problemas tidos outrora como quase insolúveis foram solucionados, como que num passe de mágica. Outros, se não foram resolvidos, pelo menos não evoluíram negativamente.

Bush certamente está de olho no promissor mercado do Leste europeu. Gorbachev, por seu lado, certamente deseja atrair capitais que financiem a sua “perestroika”. Como se nota, tratam-se de interesses que se completam. Por isso, mesmo sendo uma reunião informal, a cúpula prevista para dentro de 31 dias está fadada a trazer muitas novidades.

(Artigo publicado na página 13, Internacional, do Correio Popular, em 1 de novembro de 1989).


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