Assuntos não irão faltar
Pedro J. Bondaczuk
Os rumores que circulavam
insistentemente há alguns dias, de que ocorreria uma reunião de cúpula entre os
presidentes George Bush, dos Estados Unidos, e Mikhail Gorbachev, da União
Soviética, ainda no corrente ano, se confirmaram ontem. Ambos vão se encontrar,
no próximo mês, a bordo de navios de guerra de seus países, no Mar
Mediterrâneo.
Logicamente,
os diálogos deverão ocorrer alternadamente, um visitando a embarcação um do
outro. Para que não se criem expectativas exageradas em torno desse encontro, a
Casa Branca já avisou que ele terá um caráter absolutamente informal. Que a
intenção não é a de se obter qualquer acordo, ou se assinar algum eventual
tratado.
Para
isso, há uma outra cúpula prevista para maio ou junho de 1990, quando algum
profundo corte nos arsenais nucleares das superpotências deverá certamente
ocorrer.
Bush
afirmou, ontem, que a razão desse diálogo imprevisto, ainda no corrente ano, é
a de travar conhecimento com seu interlocutor. Certamente o presidente
norte-americano tentará sondar o quanto há de sinceridade nas manifestadas
intenções de Gorbachev de liberalizar o Leste europeu.
Temas
como as reformas políticas e econômicas na Polônia e na Hungria, certamente
serão obrigatórios. Na oportunidade, o presidente norte-americano aproveitará
para conferir o quanto há de verdade nas notícias procedentes de Moscou de que
o Cremlin não se oporia à eventual reunificação das duas Alemanhas e à retirada
húngara do Pacto de Varsóvia.
Enfim,
quando se trata de uma conversa entre os dois homens mais poderosos do Planeta,
chefes de governos dos dois únicos países cujas decisões realmente contam
alguma coisa na ordem geral dos acontecimentos, assuntos, certamente, não
faltam. Mesmo tratando-se de uma reunião dita informal.
Alguns
temas que outrora pontilharam no topo das pautas das cúpulas anteriores, agora
perderam sua importância, superados que foram pelos acontecimentos. Um deles
era o Afeganistão, que hoje, após a retirada soviética de fevereiro passado,
caiu no ostracismo, embora esse país permaneça em guerra.
Aliás,
desde que as superpotências começaram a se entender, vários problemas tidos
outrora como quase insolúveis foram solucionados, como que num passe de mágica.
Outros, se não foram resolvidos, pelo menos não evoluíram negativamente.
Bush
certamente está de olho no promissor mercado do Leste europeu. Gorbachev, por
seu lado, certamente deseja atrair capitais que financiem a sua “perestroika”.
Como se nota, tratam-se de interesses que se completam. Por isso, mesmo sendo
uma reunião informal, a cúpula prevista para dentro de 31 dias está fadada a
trazer muitas novidades.
(Artigo
publicado na página 13, Internacional, do Correio Popular, em 1 de novembro de
1989).
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