De
olho nos boateiros
Pedro J. Bondaczuk
Os agentes da “indústria da inflação” estão longe de
esgotar seu estoque de boatos, na tentativa de fazer com que as taxas
inflacionárias não se contentem com os 35% que vêm registrando. Continuam
espalhando por aí que estaria em elucubração um hipotético pacote, desmentido
pela milésima vez pelo ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso.
Apenas o cidadão muito ingênuo ainda acredita na
possibilidade desse expediente tolo que, justiça seja feita, ainda não foi
usado (e, certamente, não o será) pelo governo de Itamar Franco. Mesmo que a
equipe econômica quisesse adotar medidas desse teor (e provavelmente não quer),
não há o mínimo clima para isso.
Congelamento, dolarização, desindexação, aplicação
de redutor, estes são, entre outros, os motes mais freqüentes, espalhados com
insistência pelos boateiros de plantão, com variantes, aqui e ali. Falta-lhes,
inclusive, imaginação. Fernando Henrique tem demonstrado uma paciência digna de
Jó ao desmentir essas versões, que os pseudo-bem-informados atribuem a “fontes
quentíssimas do Ministério da Fazenda”. Claro que há interesses e que não são,
e4m absoluto, os da população e, em especial, os dos trabalhadores, por trás
disso.
A inflação brasileira, capaz de chocar, pelo seu
surrealismo, o próprio Franz Kafka, escritor checo especializado em histórias
absurdas, somente será contida, e posteriormente reduzida, mediante uma
profunda reestruturação da economia. Através de um ajuste fiscal, que implante
um sistema tributário pelo menos lógico e funcional. Mediante a redução do
déficit público, com o corte de despesas supérfluas, de superfaturamentos, de
inchaços nos quadros do funcionalismo e outras providências óbvias que não vêm
sendo tomadas ou, quando adotadas, o são com uma lentidão capaz de irritar até
estátua de bronze.
O País somente conseguirá a taxa da Argentina – que
este mês será de 0,5%, acumulando, em 12 meses, 8% - se o governo ajustar suas
contas. Nossos 35% mensais equivalem às inflação de quatro anos e meio dos
nossos vizinhos dos Pampas, que apenas chegaram a esse resultado depois que
redefiniram o papel do Estado.
(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio
Popular, em 28 de outubro de 1993)
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
No comments:
Post a Comment