Salvaguardas
para nossa sobrevivência
Pedro J. Bondaczuk
A juventude atual, tida e havida por muitos como
alienada e desprovida de politização, está, mais uma vez, dando um exemplo de
que essa fama não condiz com a realidade. Ontem, Estádio de Wembley, em Londres, o santuário
do futebol inglês, abriu suas portas para acolher um público diferente. Um
pessoal ligado no rítmo frenético do "rock" e do "reggae",
que não ficou nada a dever para as multidões que têm comparecido ao longo do
tempo a essa praça de espetáculos para vibrar com os dribles, os lances
maravilhosos e os gols espetaculares de suas equipes.
A jornada, afinal, não era dos esportistas, mas dos
cantores. Astros renomados da música popular contemporânea abriram uma promoção
, louvável sob todos os aspectos, destinada a arrecadar fundos para as crianças
carentes do mundo todo.
Mas a finalidade desse ciclo de "shows",
que inclui São Paulo em seu roteiro --- os paulistas vão poder participar em 12
de outubro próximo--- não é exatamente a de coletar apenas dinheiro. Não, pelo
menos, a principal. O objetivo maior é o de chamar a atenção das pessoas para
algo que elas deveriam perpetuamente ter em mente: os seus direitos
fundamentais, enquanto cidadãos e, principalmente, como seres humanos.
Chega a ser chocante que na virada para o século XXI
da Era Cristã essa questão ainda precise ser ressaltada. Que necessite de
documentos, de festividades e de entidades como a extraordinária Anistia
Internacional para exigir que se respeite aquilo que deveria ser a coisa mais
natural para a totalidade dos homens. O que mais choca é que boa parte dos
países signatários da "Declaração Universal dos Direitos do Homem",
sob pretextos múltiplos, ainda não cumpram esse compromisso, tão solenemente
assumido. E eles não são poucos.
Prisões andam repletas de cidadãos, cujo único
"crime" é o de pensar de forma diferente que os poderosos de plantão.
Como se os tais tiranos que os encarceram, torturam e matam, fossem deuses, com
os dons da onisciência e da eternidade, quando não passam, tecnicamente, de
"assassinos", travestidos de líderes políticos.
Mas é confortador saber que existem organizações,
como a Anistia Internacional, que lutam incansavelmente por esses direitos, que
um dia haverão de ser respeitados por todos. É muito bom, por outro lado,
constatar que a juventude é clarividente para distinguir o herói do vilão, o
justo do injusto, o certo do errado.
São esses grupos e pessoas as grandes salvaguardas
da sobrevivência humana. É a pressão que eles exercem que induz os líderes
mundiais ao realismo e impede que eles, num assomo de fúria cega e de extrema
irracionalidade, destruam o mundo, com o simples comprimir de botões,
sepultando todos os nossos sonhos, lembranças e realizações.
(Artigo publicado na página 11, Internacional, do
Correio Popular, em 3 de setembro de 1988)
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