TV
tem tradição de derrubar favoritos
Pedro J. Bondaczuk
O candidato democrata à presidência dos EUA, Walter
Mondale, levou nítida vantagem sobre o presidente Ronald Reagan, no debate
realizado, anteontem, em Louisville, no Kentucky, e que tivemos a oportunidade
de acompanhar pela televisão.
Muitos observadores, contudo, estão se arriscando a
afirmar que a boa performance de “Fritz”, como é carinhosamente chamado pelos
seus adeptos, não será suficiente para reverter o franco favoritismo do atual
ocupante da Casa Branca, levando-se em conta que exatas quatro semanas separam
os postulantes das eleições.
É claro que nesse tipo de questão é muito arriscado
se fazer qualquer espécie de prognóstico, sob pena de se cair em ridículo
perante o público. Queremos recordar, contudo, de duas ocasiões em que
candidatos estavam em desvantagem (não tão grande como Mondale, é verdade) e
que, numa derradeira arrancada, conseguiram surpreender e lograr a vitória.
Em 1960, um político jovem despontava no Partido
Democrata, vindo da elite de uma abastada e tradicional família de Hyannis
Port, em Massachusetts. Seu adversário era um homem manhoso, experiente,
conhecido nacionalmente, principalmente por ocupar a vice-presidência de Ike
Eisenhower.
As pesquisas de opinião pública, há poucos dias das
eleições, davam uma vantagem até folgada ao experimentado político republicano,
que variava dos 6% a até 12%, em detrimento do jovem e aristocrático
adversário.
Como aconteceu anteontem, ambos foram para um debate
público, através da TV, dispostos a mostrar seus programas, e a convencer os
eleitores contrários porque não deveriam votar no oponente. A figura do jovem
candidato, todavia, caiu de tal forma na simpatia popular, transmitiu tamanha
jovialidade e vigor ao público, que no dia da votação, antes mesmo que se
apurassem os primeiros votos, ninguém mais tinha qualquer dúvida acerca do
ganhador.
O jovem aristocrata era John Kennedy. O
experimentado político, era Richard Nixon, que teve que aguardar mais doze anos
para alcançar o seu objetivo de ser presidente dos EUA. Em 1980, a situação era
parecida.
Até o debate na TV, Jimmy Carter, mesmo enfrentando
problemas internos, como uma inflação de dois dígitos (verdadeira heresia para
os norte-americanos) e a questão dos reféns na embaixada do seu país em Teerã,
liderava as pesquisas de opinião.
Após se ver acuado por seu oponente, Reagan, em
frente às câmeras de televisão, contudo, os números começaram a se inverter, em
seu detrimento. Mesmo assim, uma prévia, divulgada em véspera das eleições,
recordo bem, dava Carter como vencedor, embora por escassa margem. O que se viu
na votação, entretanto, foi o maior massacre sofrido pelos democratas em quase
toda a sua história. O que prova que pesquisa de opinião alguma está a salvo de
erros.
O que quero afirmar, com isso, é que quatro semanas,
num país como os EUA, que tem o melhor sistema de comunicações do mundo, podem
ser suficientes para alterar, radicalmente, qualquer situação. Ainda mais
levando-se em conta que Reagan não teve condições de garantir anteontem, aos
seus eleitores, que a atual recuperação econômica não é, como afirma Mondale,
uma “armadilha de tempo”.
E os norte-americanos são extremamente sensíveis
quando a questão tratada é o seu próprio bolso. Não vou chegar ao extremo de
garantir que “Fritz” vá reverter, dramaticamente, a tendência, que lhe é
contrária. Mas não ficarei nem um pouco surpreso se isso vier a acontecer.
(Artigo publicado na página 11, Internacional, do
Correio Popular, em 9 de outubro de 1984)
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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