Tuesday, August 25, 2015

TV tem tradição de derrubar favoritos


Pedro J. Bondaczuk


O candidato democrata à presidência dos EUA, Walter Mondale, levou nítida vantagem sobre o presidente Ronald Reagan, no debate realizado, anteontem, em Louisville, no Kentucky, e que tivemos a oportunidade de acompanhar pela televisão.

Muitos observadores, contudo, estão se arriscando a afirmar que a boa performance de “Fritz”, como é carinhosamente chamado pelos seus adeptos, não será suficiente para reverter o franco favoritismo do atual ocupante da Casa Branca, levando-se em conta que exatas quatro semanas separam os postulantes das eleições.

É claro que nesse tipo de questão é muito arriscado se fazer qualquer espécie de prognóstico, sob pena de se cair em ridículo perante o público. Queremos recordar, contudo, de duas ocasiões em que candidatos estavam em desvantagem (não tão grande como Mondale, é verdade) e que, numa derradeira arrancada, conseguiram surpreender e lograr a vitória.

Em 1960, um político jovem despontava no Partido Democrata, vindo da elite de uma abastada e tradicional família de Hyannis Port, em Massachusetts. Seu adversário era um homem manhoso, experiente, conhecido nacionalmente, principalmente por ocupar a vice-presidência de Ike Eisenhower.

As pesquisas de opinião pública, há poucos dias das eleições, davam uma vantagem até folgada ao experimentado político republicano, que variava dos 6% a até 12%, em detrimento do jovem e aristocrático adversário.

Como aconteceu anteontem, ambos foram para um debate público, através da TV, dispostos a mostrar seus programas, e a convencer os eleitores contrários porque não deveriam votar no oponente. A figura do jovem candidato, todavia, caiu de tal forma na simpatia popular, transmitiu tamanha jovialidade e vigor ao público, que no dia da votação, antes mesmo que se apurassem os primeiros votos, ninguém mais tinha qualquer dúvida acerca do ganhador.

O jovem aristocrata era John Kennedy. O experimentado político, era Richard Nixon, que teve que aguardar mais doze anos para alcançar o seu objetivo de ser presidente dos EUA. Em 1980, a situação era parecida.

Até o debate na TV, Jimmy Carter, mesmo enfrentando problemas internos, como uma inflação de dois dígitos (verdadeira heresia para os norte-americanos) e a questão dos reféns na embaixada do seu país em Teerã, liderava as pesquisas de opinião.

Após se ver acuado por seu oponente, Reagan, em frente às câmeras de televisão, contudo, os números começaram a se inverter, em seu detrimento. Mesmo assim, uma prévia, divulgada em véspera das eleições, recordo bem, dava Carter como vencedor, embora por escassa margem. O que se viu na votação, entretanto, foi o maior massacre sofrido pelos democratas em quase toda a sua história. O que prova que pesquisa de opinião alguma está a salvo de erros.

O que quero afirmar, com isso, é que quatro semanas, num país como os EUA, que tem o melhor sistema de comunicações do mundo, podem ser suficientes para alterar, radicalmente, qualquer situação. Ainda mais levando-se em conta que Reagan não teve condições de garantir anteontem, aos seus eleitores, que a atual recuperação econômica não é, como afirma Mondale, uma “armadilha de tempo”.

E os norte-americanos são extremamente sensíveis quando a questão tratada é o seu próprio bolso. Não vou chegar ao extremo de garantir que “Fritz” vá reverter, dramaticamente, a tendência, que lhe é contrária. Mas não ficarei nem um pouco surpreso se isso vier a acontecer.       

(Artigo publicado na página 11, Internacional, do Correio Popular, em 9 de outubro de 1984)


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