Ameaças para o real
Pedro J. Bondaczuk
A
economia brasileira, embora aparente saúde, com a inflação registrando taxas
baixíssimas e projetando encerrar o ano com um acumulado de 6%, índice
praticamente de Primeiro Mundo, não está tão saudável quanto aparenta.
Um
dos grandes nós, provavelmente o maior deles, é o déficit na balança comercial.
Ou seja, o País continua comprando no mercado externo muito mais do que vende.
No final do ano passado, vários economistas fizeram uma projeção, vista como
sombria na ocasião, de que a diferença negativa no comércio exterior poderia
atingir US$ 7 bilhões até dezembro.
Hoje
precisam rever esses números. Tal cifra, caso atingida, dever ser
considerada uma vitória para o governo, levando-se em conta que esse saldo já acumula
US$ 4,2 bilhões, quando sequer terminou o primeiro trimestre de 1997.
As
expectativas são no sentido de que a equipe econômica venha a adotar medidas de
arrocho para a contenção de consumo, já que em decorrência de acordos
internacionais, não pode impor barreiras às importações.
Ademais,
as providências tomadas no ano passado, com a redução de alguns impostos, para
incentivar as exportações, não vêm produzindo (ainda) os efeitos desejados. O
País pode, e tem condições, de vender muito mais do que agora. Ocorre que o
brasileiro não tem muita agressividade no mercado internacional. Não vendemos,
"os outros é que compram de nós", o que é muito diferente.
Outro
ponto que pode comprometer toda a estrutura econômica, e a médio prazo ameaçar
o real, é o crescente déficit público. Entra governo, sai governo, e as várias
administrações, embora prometam austeridade, acabam ficando apenas nas
promessas.
Estados
e municípios insistem em se endividar, interna e externamente, sem que depois
honrem essas dívidas. E isto quando o endividamento é legítimo e legal. Pior
quando decorre de operações ilegais com títulos públicos, como é o caso do
atual escândalo dos precatórios.
A
conta para pagar, não tenham dúvidas, acabará sobrando para o governo federal.
Tais papéis nada mais são do que "notas promissórias", que um dia
terão que ser resgatadas junto aos seus detentores. E quem fará esse resgate?
Não os que emitiram os títulos, certamente. Em última análise, a conta vai
ficar, mesmo, para o atormentado contribuinte. Enquanto instituições
financeiras lucram, toda a sociedade sai perdendo.
Todos
esses nós retardam o crescimento econômico e a conseqüente geração de empregos,
agravando o quadro social, já não muito favorável. Havia previsões, no final do
ano passado, de que a economia cresceria 4% em 1997, cifra já bastante
irrisória para as nossas necessidades. Com muita sorte, porém, vai crescer 2%.
Abaixo, portanto, da taxa de aumento vegetativo da população.
(Texto
escrito em 17 de março de 1997 e publicado como editorial na Folha do
Taquaral).
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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