Sunday, August 23, 2015

Ameaças para o real


Pedro J. Bondaczuk


A economia brasileira, embora aparente saúde, com a inflação registrando taxas baixíssimas e projetando encerrar o ano com um acumulado de 6%, índice praticamente de Primeiro Mundo, não está tão saudável quanto aparenta.

Um dos grandes nós, provavelmente o maior deles, é o déficit na balança comercial. Ou seja, o País continua comprando no mercado externo muito mais do que vende. No final do ano passado, vários economistas fizeram uma projeção, vista como sombria na ocasião, de que a diferença negativa no comércio exterior poderia atingir US$ 7 bilhões até dezembro.

Hoje precisam rever esses números. Tal cifra, caso atingida, dever  ser considerada uma vitória para o governo, levando-se em conta que esse saldo já acumula US$ 4,2 bilhões, quando sequer terminou o primeiro trimestre de 1997.

As expectativas são no sentido de que a equipe econômica venha a adotar medidas de arrocho para a contenção de consumo, já que em decorrência de acordos internacionais, não pode impor barreiras às importações.

Ademais, as providências tomadas no ano passado, com a redução de alguns impostos, para incentivar as exportações, não vêm produzindo (ainda) os efeitos desejados. O País pode, e tem condições, de vender muito mais do que agora. Ocorre que o brasileiro não tem muita agressividade no mercado internacional. Não vendemos, "os outros é que compram de nós", o que é muito diferente.

Outro ponto que pode comprometer toda a estrutura econômica, e a médio prazo ameaçar o real, é o crescente déficit público. Entra governo, sai governo, e as várias administrações, embora prometam austeridade, acabam ficando apenas nas promessas.

Estados e municípios insistem em se endividar, interna e externamente, sem que depois honrem essas dívidas. E isto quando o endividamento é legítimo e legal. Pior quando decorre de operações ilegais com títulos públicos, como é o caso do atual escândalo dos precatórios.

A conta para pagar, não tenham dúvidas, acabará sobrando para o governo federal. Tais papéis nada mais são do que "notas promissórias", que um dia terão que ser resgatadas junto aos seus detentores. E quem fará esse resgate? Não os que emitiram os títulos, certamente. Em última análise, a conta vai ficar, mesmo, para o atormentado contribuinte. Enquanto instituições financeiras lucram, toda a sociedade sai perdendo.

Todos esses nós retardam o crescimento econômico e a conseqüente geração de empregos, agravando o quadro social, já não muito favorável. Havia previsões, no final do ano passado, de que a economia cresceria 4% em 1997, cifra já bastante irrisória para as nossas necessidades. Com muita sorte, porém, vai crescer 2%. Abaixo, portanto, da taxa de aumento vegetativo da população.

(Texto escrito em 17 de março de 1997 e publicado como editorial na Folha do Taquaral).



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