Já comprei minha camisa
Pedro J. Bondaczuk
A
seleção brasileira, convocada a semana passada, e que embarca rumo aos Estados
Unidos amanhã, vai estrear na Copa do Mundo com 80% da capacidade física dos
jogadores, conforme previsão do fisicultor Moracy Sant'Anna. Isso é bom? É mau?
O tempo para a preparação, praticamente de menos de um mês, é curto, como se
propala? Acredito que não!
Até
porque a sua base é a mesma do grupo de 1990, que fez aquele fiasco, que todos
nós lembramos, na Itália. Ocorre que hoje esses jogadores estão mais
amadurecidos, mais experientes, mais tarimbados e mais conscientes da
importância da conquista do tetracampeonato, não apenas para a satisfação dos
150 milhões de brasileiros, mas principalmente para o fecho de suas carreiras.
Posso
dizer que vi, em uma oportunidade ou outra, a apresentação das 24 seleções que
vão disputar a Copa e não despontou entre elas nenhum "bicho-papão".
Pelo contrário, a grande maioria adota a mesma tática, o mesmo futebol-força,
com congestionamento do meio de campo, no máximo dois atacantes natos e apoio
dos laterais e miolo de zaga, como fator surpresa. Ou seja, a mesma forma com
que o Brasil joga.
A
diferença está no talento de um Romário, de um Bebeto, de um Zinho e de um
Leonardo, coisa que os nossos adversários não têm.
Ninguém,
evidentemente, pode prever quem irá conquistar a Copa. Se isso fosse possível
nem haveria disputa. A graça desse esporte e o motivo de ele empolgar multidões
é exatamente a sua imprevisibilidade. Nem sempre o melhor é o campeão. Prova
disso foi o último Mundial, o da Itália, em que a Alemanha teve uma
apresentação discretíssima e emplacou seu tricampeonato sem nenhum brilho.
Aliás, na fase de classificação, chegou a ser decepcionante, colhendo magros
resultados que lhe permitiram apenas se arrastar até a final.
Apesar
de tudo isso, por uma questão, digamos, de sexto sentido, de intuição, fiz uma
coisa inédita enquanto torcedor doente da Seleção. E olhem que esta será a 12ª
Copa do Mundo da minha vida. Comprei uma camisa canarinho, de número dez --- de
Pelé, para dar mais sorte --- na certeza de que desta vez irei, finalmente,
soltar o grito que ficou preso na garganta em 1982, por causa do "verdugo
de Sarriá", o italiano Paolo Rossi. Aquele time, apesar de haver ficado
marcado pelos fatídicos 3 a 2 para a Itália, foi empolgante, espetacular,
mágico.
Vejo,
todavia, uma determinação maior no atual grupo, que em momento algum, mesmo nos
heróicos 6 a 0 contra a Bolívia, no Recife, durante as Eliminatórias, contou
com a confiança do torcedor. Além disso, nossos adversários, convenhamos, não
são bichos-papões.
A
Rússia está às voltas com briguinhas de comadres, e muitos dos seus principais
astros não foram convocados. Camarões, apesar da autoconfiança (excessiva) de
seus jogadores, é uma seleção envelhecida em quatro anos (a base é a mesma de
1990) e sequer foi a campeã da Copa da África. A Suécia é aquilo que
conhecemos. Provavelmente foi o selecionado que o Brasil enfrentou mais vezes
em mundiais.
Daí
não ser preocupante o fato de a nossa equipe estrear com apenas 80% da sua
capacidade física. O auge será, e deve ser, atingido na grande final, quando
poderemos soltar o grito preso na garganta há sofridos 24 anos: é tetracampeão,
é tetracampeão!!
(Artigo
publicado na página 2 do caderno Esportes, na coluna "Fera" do
Correio Popular, em 23 de maio de 1994).
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
No comments:
Post a Comment