Pesadelo que já dura 14 anos
Pedro J.
Bondaczuk
A capital libanesa, a outrora aprazível e pacata Beirute,
viveu, ontem, outro dia de horror, na interminável guerra civil que afeta esse
país e que já vai completar 14 anos no próximo mês, sem que ninguém atine com
uma solução para restabelecer o equilíbrio que outrora existiu nessa comunidade
nacional.
O Exército, comandado por
oficiais cristãos, combateu, durante o dia todo, com milícias muçulmanas,
afetando uma grande quantidade de bairros residenciais dos dois setores da
cidade, divididos pela chamada “Linha Verde”. Como todos os confrontos que ali
se verificam, ninguém sabe, com certeza, como este se originou. E nem se
atina, muito menos, como irá acabar.
O tempo passa, outros conflitos
sangrentos vão sendo solucionados, nas várias partes do mundo, mas o drama do
Líbano permanece, como uma maldição sobre esse povo bom e generoso, que
subitamente foi atacado pelo vírus do ódio e da vingança.
Já houve de tudo o que se possa
imaginar em matéria de terror nesse país. Seqüestros, capturas de aviões,
carros-bombas, ataques-suicidas a quartéis e embaixadas e outros tipos de
violências, característicos de guerras civis. Há terroristas libaneses julgados
e condenados na França, na Itália, na Alemanha Ocidental, na Suíça e nos
Estados Unidos.
Alianças, ali, são mais frágeis
do que o cristal e se rompem com uma facilidade incrível. Cristãos combatem
cristãos, como ocorreu há poucos dias. Xiitas pró-sírios – milícia Amal – lutam
contra xiitas pró-iranianos – do grupo Hezbollah. Desde setembro de 1988, o
Líbano possui dois governos e ninguém obedece a nenhum deles. Não se sabe qual
é o legítimo e ambos querem impor sua legitimidade, não obtida por qualquer
meio democrático, a poder da força.
Um deles, sediado na parte
ocidental de Beirute, é muçulmano e liderado pelo primeiro-ministro, que
acumula o cargo de presidente, Selim Hoss. O outro é chefiado pelo general
cristão, Michel Aoun, imposto pelo ex-mandatário Amin Gemayel, quando o
Parlamento, que há muito não se reúne, não conseguiu se entender para eleger um
sucessor à Presidência.
Esse clima todo de desordem e de
caos somente é propício para traficantes de drogas – e há muitos atuando hoje
no país – malfeitores que vivem de resgates cobrados a familiares de comerciantes
seqüestrados, terroristas perversos que sequer sabem a razão porque cometem
seus atos extremistas e fanáticos tresloucados, que conseguem ver “santidade”
nos horrores da guerra. Fala-se tanto na estabilidade do Oriente Médio, na
situação dos territórios ocupados por Israel, mas o Líbano permanece esquecido,
entregue à sua triste sorte. Até quando?
(Artigo publicado na página 12, Internacional, do Correio Popular, em 15
de março de 1989).
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