Saturday, August 01, 2015

Pesadelo que já dura 14 anos


Pedro J. Bondaczuk


A capital libanesa, a outrora aprazível e pacata Beirute, viveu, ontem, outro dia de horror, na interminável guerra civil que afeta esse país e que já vai completar 14 anos no próximo mês, sem que ninguém atine com uma solução para restabelecer o equilíbrio que outrora existiu nessa comunidade nacional.

O Exército, comandado por oficiais cristãos, combateu, durante o dia todo, com milícias muçulmanas, afetando uma grande quantidade de bairros residenciais dos dois setores da cidade, divididos pela chamada “Linha Verde”. Como todos os confrontos que ali se verificam, ninguém sabe, com certeza, como este se originou. E nem se atina, muito menos, como irá acabar.

O tempo passa, outros conflitos sangrentos vão sendo solucionados, nas várias partes do mundo, mas o drama do Líbano permanece, como uma maldição sobre esse povo bom e generoso, que subitamente foi atacado pelo vírus do ódio e da vingança.

Já houve de tudo o que se possa imaginar em matéria de terror nesse país. Seqüestros, capturas de aviões, carros-bombas, ataques-suicidas a quartéis e embaixadas e outros tipos de violências, característicos de guerras civis. Há terroristas libaneses julgados e condenados na França, na Itália, na Alemanha Ocidental, na Suíça e nos Estados Unidos.

Alianças, ali, são mais frágeis do que o cristal e se rompem com uma facilidade incrível. Cristãos combatem cristãos, como ocorreu há poucos dias. Xiitas pró-sírios – milícia Amal – lutam contra xiitas pró-iranianos – do grupo Hezbollah. Desde setembro de 1988, o Líbano possui dois governos e ninguém obedece a nenhum deles. Não se sabe qual é o legítimo e ambos querem impor sua legitimidade, não obtida por qualquer meio democrático, a poder da força.

Um deles, sediado na parte ocidental de Beirute, é muçulmano e liderado pelo primeiro-ministro, que acumula o cargo de presidente, Selim Hoss. O outro é chefiado pelo general cristão, Michel Aoun, imposto pelo ex-mandatário Amin Gemayel, quando o Parlamento, que há muito não se reúne, não conseguiu se entender para eleger um sucessor à Presidência.

Esse clima todo de desordem e de caos somente é propício para traficantes de drogas – e há muitos atuando hoje no país – malfeitores que vivem de resgates cobrados a familiares de comerciantes seqüestrados, terroristas perversos que sequer sabem a razão porque cometem seus atos extremistas e fanáticos tresloucados, que conseguem ver “santidade” nos horrores da guerra. Fala-se tanto na estabilidade do Oriente Médio, na situação dos territórios ocupados por Israel, mas o Líbano permanece esquecido, entregue à sua triste sorte. Até quando?

(Artigo publicado na página 12, Internacional, do Correio Popular, em 15 de março de 1989).

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