Impunidade e insensibilidade
Pedro J.
Bondaczuk
A violência urbana, embora não seja tema novo, está mais
uma vez nas manchetes da imprensa e não somente no Brasil. No caso brasileiro,
a onda de seqüestros que ganhou corpo desde fins do ano passado, em especial no
Rio de Janeiro, está exigindo providências mais drásticas da sociedade, em
especial das suas autoridades, para conter a inquietação e o clima de
insegurança despertados.
A legislação penal está sendo
alterada, para aumentar a dureza das penas, na tentativa de desestimular a
tentação pela prática de atos delituosos em geral, e da captura de pessoas para
exigir resgate de seus familiares, em particular. As penas para este tipo de
delito passam, agora, a ser muito mais duras. Elevam-se de sete para até 30
anos. Mas adianta?
Fica a dúvida, principalmente
quando se sabe que alguns desses atos foram comandados de dentro das próprias
instituições penais. É claro que a forma mais eficiente de se combater o fogo é
com fogo contrário. Na medida em que a criminalidade se acentua e os crimes se
tornam mais graves, a defesa da sociedade precisa, igualmente, ser mais dura.
E, sobretudo, mais eficiente.
Esta, porém, pode ser uma
situação apenas emergencial. Não basta atacar somente os efeitos da moléstia,
mas se torna indispensável que se vá às suas causas, suas raízes, suas
motivações. O maior estímulo para alguém delinqüir é a impunidade.
O sistema penitenciário
brasileiro, por exemplo, está em petição de miséria. Recentemente, notícia de
televisão deu conta que há cerca de 80 mil ordens de captura, somente no Estado
de São Paulo, de criminosos condenados pela Justiça, sem que haja vagas para
eles!
Enquanto cidadãos que cometeram
leves burlas às leis, muitas vezes até em decorrência de um inegável estado de
miserabilidade, estão atrás das grades, nessas autênticas “universidades do
crime”, gente sumamente perigosa e irrecuperável anda à solta pelas ruas, por
falta de acomodações nas cadeias, presídios e penitenciárias.
Além disso, a própria sociedade,
mergulhada numa inexplicável apatia, facilita a ação dos marginais. A
solidariedade se torna, a cada dia que passa, apenas uma palavra pomposa,
esvaziada do seu verdadeiro sentido.
O jornalista Gaudêncio Torquato,
no artigo “A besta-fera dos Trópicos” (publicado no dia 3 passado em “O Estado
de São Paulo”), alertou para uma atitude de estranha indiferença, de uma
incompreensível indiferença, que se observa cada vez mais nas grandes cidades,
ao escrever:
“Cinturões de agressão explodem
em nossas caras e não distinguimos de onde vêm. Vizinhos começam a morrer e nem
percebemos. Ou, se percebemos, não damos a mínima importância. Que importância
tem o bem, se estamos acostumados com tanto mal?”.
(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 11 de julho
de 1990).
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
No comments:
Post a Comment