Estados terroristas e líderes
desajustados
Pedro J. Bondaczuk
O
presidente norte-americano Ronald Reagan, discorrendo a propósito da maneira
com que iria tratar o terrorismo, especialmente o de Estado, afirmou, em julho
do ano passado, após o término do seqüestro do Boeing da empresa TWA: "Não
vamos tolerar ataques de países proscritos, governados pela mais estranha
coleção de desajustados, lunáticos e criminosos comuns". Referia-se, na
ocasião, a uma possível colaboração iraniana no ato extremista que lhe havia
causado essa irritação. Suas palavras foram, durante muitos dias, objetos de
duras críticas, vindas de diversos setores.
Alguns
acharam um gesto deselegante do presidente classificar chefes de Estado daquela
forma (como se praticar ataques terroristas fosse um primor de elegância).
Outros, como Fidel Castro, não mediram as palavras e partiram logo para a
agressão verbal direta. O ditador cubano disse, na oportunidade: "Reagan é
um imbecil, o pior terrorista da humanidade".
Exageros
a parte, há muito de verdadeiro nas palavras do presidente norte-americano.
Hoje, como no passado, diversos países são conduzidos por desajustados,
lunáticos e até criminosos comuns. Isso, todavia, ocorre à revelia dos povos,
que têm a infelicidade de cair sob a sua tutela. Tivemos o capricho de fazer um
levantamento sobre quantas sociedades têm liberdade para escolher seus
governantes através de eleições sem partidos únicos e nem candidatos eternos. E
a conclusão é das mais deprimentes, o que explica, até certo ponto, o por quê
do atraso tão acentuado de determinados povos, em relação a outros.
Dos
168 países independentes que formam a comunidade internacional no dia de hoje,
apenas 78 podem ser classificados como democracias. Assim mesmo, com muitas
restrições. Os demais 90 ou não possuem partidos políticos, ou dispõem de um
único ou são monarquias onde os negócios de Estado ficam em família, sem muitas
(ou literalmente nenhuma) explicações à sociedade.
O
continente africano, neste aspecto, bate todos os recordes. Ali, apenas um ou
dois países constituem-se em honrosas exceções. Os demais estão submetidos a
mandos e desmandos de pessoas que se julgam predestinadas ou que se
auto-intitulam líderes carismáticos. Mas não é bem carisma o que eles dispõem,
mas sim um aparato repressivo espetacular, pronto a perpetrar as maiores
arbitrariedades a um simples aceno seu.
O
que é de se estranhar é que o presidente norte-americano, que tanto desprezo
demonstrou por essa "estranha coleção de desajustados, lunáticos e
criminosos comuns", mantenha relações até amistosas com vários desses
monstros. E que o seu país, reconhecidamente um modelo de democracia, tenha
dado condições (quando não os impôs à força) para que esses "gorilas"
ascendessem ao poder.
É
necessário ter critério para julgar indivíduos. Um assassino não se torna um
santo da noite para o dia, apenas por trabalhar para nós. Se o contratarmos
para realizar alguma operação criminosa, nós é que nos degradamos ao seu nível,
nos tornando co-autores de seu delito e não é ele que se regenera.
Aliás,
por falar em maluco, é oportuno mencionar que o mundo está repleto deles. Um
estudo, realizado em 1981, demonstrou que 30% dos habitantes deste planeta
revelavam alguma espécie de distúrbio psíquico. Mas o mais grave, é que entre
10 e 15%, demonstravam possuir problemas realmente sérios.
Não
é nada notável, portanto, a existência de tantos casos de paranóia e de sua
manifestação mais ostensiva, a mania de grandeza, ou megalomania, como é
chamada pelos especialistas. Por baixo, segundo o referido estudo, a humanidade
dispõe de 450 milhões de malucos. Não é de se estranhar, pois, o poder e a
credibilidade dos Khadafys, Khomeinis e Duvaliers da vida. Ou é?
(Artigo
publicado na página 9, Internacional, do Correio Popular, em 8 de janeiro de
1986)
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