Sunday, August 09, 2015

Corrida armamentista paralela


Pedro J. Bondaczuk


A corrida armamentista nuclear tem sido, até aqui, vista por um único prisma. Pelo lado mais volumoso, porém não necessariamente mais perigoso, da questão. Sempre que se fala no tema, vem logo à mente de todos o que acontece com os arsenais das duas superpotências, que continuam sendo acrescidos, dia após dia, de novas e mais destrutivas engenhocas. Pouco, ou quase nada, se tem dito dos vários outros candidatos ao ingresso no seletíssimo “clube atômico” universal.

Não estamos nos referindo, por outra parte, aos outros três países que tradicionalmente são mencionados como detentores de bombas “A” ou até das “H”: França, Grã-Bretanha e China. A eles podemos acrescentar a Índia, que já fez, com êxito, a sua primeira explosão de um artefato dessa natureza.

A menção que deveria ser feita, repetida e repisada é sobre os candidatos ao domínio da técnica de fabricação de armas nucleares. Destes, um deles, comprovadamente, pode ser colocado ao lado dos países supracitados. Trata-se de Israel, que já pode ser considerado, conforme tudo indica, membro pleno do “clube atômico”.

Dessa forma, a relação dos detentores dessas engenhocas, que de 1945 a 1949 tinha um único nome, o dos Estados Unidos, agora possui, comprovadamente, pelo menos sete. E, ao que tudo indica, terá, ainda nestes 13 anos que restam para o fim deste milênio, mais seis
”sócios”: África do Sul, Paquistão, Brasil, Argentina, Líbia e Irã ou Iraque (ambos têm projetos nesse campo e quem vencer a atual guerra poderá ser tentado, seriamente, a colocar a teoria na prática).

Destes, três chegam a causar calafrios só de pensar que poderão dispor de bombas nucleares, e por motivos diversos. No caso dos sul-africanos, o leitor já imaginou o que poderia ocorrer se os radicais do Congresso Nacional Africano –, a guerrilha que luta para que o poder passe para as mãos da maioria negra –, tiverem sucesso em sua tentativa? E se no Paquistão alguma das várias facções étnicas conseguir o mesmo?

Já o perigo representado pela Líbia e pelo Iraque é diferente. Refere-se à visão da realidade internacional de seus respectivos dirigentes. O coronel Muammar Khadafy, por exemplo, acreditas ser dotado de carisma. Crê que tem uma missão a realizar, qual seja, a de dar sustentação a todos os movimentos de rebeldia existentes no mundo, eufemisticamente chamados de “libertação nacional”.

Outro dos pontos da sua “praxis” política é a hostilidade contra o Estado de Israel, que ele não reconhece e jura expulsar da Palestina. Acontece que os israelenses já possuem um arsenal nuclear. E nem precisariam recorrer a ele para imobilizar qualquer aventura dessa espécie que alguém possa desejar tentar no Oriente Médio.

No caso do Iraque, as implicações poderiam ser idênticas às da Líbia, um pouco atenuadas, é verdade. Mas se o Irã viesse a fabricar uma bomba, sob o atual regime dos fanáticos aiatolás, seria uma tragédia para toda a humanidade. Os riscos de uma conflagração atômica seriam exponencialmente aumentados.

Todos os tratados em vigor versando sobre essa espécie de arma envolvem somente as superpotências. As críticas e condenações são todas voltadas para elas. Os pacifistas estão preocupados com cada passo no campo do desarmamento que seus respectivos dirigentes, o norte-americano Ronald Reagan e o soviético Mikhail Gorbachev, poderão dar.

No entanto, todas as guerras tiveram como causas diretas incidentes verificados em pequenos países. Pelo menos as duas mundiais deste século foram assim. A primeira foi deflagrada após o sérvio Gavril Princips ter assassinado o arquiduque Ferdinando, da Áustria.

Para a segunda, Hitler tomou como pretexto o constrangimento que os poloneses estariam, exercendo sobre os alemães da então cidade livre de Dantzing (atual Gdansk). A terceira (Deus queira que nunca aconteça), a continuarem as coisas como estão, poderá ser provocada por algum bombardeio nuclear de Israel, no Oriente Médio; do Paquistão, na Ásia ou da África do Sul, no continente africano. A idéia não deixa de ser aterradora.

(Artigo publicado na página 9,l Internacional, do Correio popular, em 25 de fevereiro de 1987).

     

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