Monday, August 03, 2015

Qualquer resultado será lucro


Pedro J. Bondaczuk


As esperanças do mundo todo estarão, a partir de segunda-feira, voltadas para Washington, onde os dois homens mais poderosos do Planeta vão estar discutindo o destino da humanidade ao redor de uma mesa.

O desejo geral, como se poderia esperar, é o de que esses dois senhores, cercados pelos respectivos séquitos de assessores, venham a concordar em praticamente tudo o que tiverem agendado para o encontro, em especial no que se refere à destruição, cada vez mais ampla e abrangente, dos superdimensionados arsenais nucleares que seus respectivos países possuem.

Afinal, pela primeira vez na história, o homem tem condições de destruir este frágil planeta do Sistema Solar, que ele não construiu, mas que insensatamente tende a arrasar. Pode acabar com uma maravilhosa estrutura, que forças extraordinárias, além da sua capacidade de entendimento, forjaram ao longo de um período desconhecido, mas certamente bastante extenso de tempo.

Todavia, entre a projeção dos desejos gerais (ou pelo menos de expressiva maioria) e a realidade, vai uma distância imensa. A própria hegemonia que as duas superpotências detêm, na atualidade, as torna antagônicas. Esse fenômeno, aliás, nem é novo.

No correr da história das civilizações, isso se verificou sempre que existiram duas sociedades evoluídas e fortes, que invariavelmente acabaram se confrontando pela preponderância de uma sobre a outra. Isto ocorreu, por exemplo, entre Egito e Mesopotâmia. Repetiu-se entre a Babilônia e a Medo-Pérsia. Tornou a acontecer entra esta e a Grécia. E, sucessivamente, um após outro, os impérios hegemônicos foram surgindo e desaparecendo.

Afinal, todos eles eram obras de seres mortais e efêmeros e, como seus construtores, nasceram, se desenvolveram e morreram. Foram passageiros, como tudo o que diz respeito ao homem, de quem apenas as idéias têm a possibilidade de sobreviver.

Mesmo que a União Soviética e os Estados Unidos não liderassem ideologias tão antagônicas, como são o comunismo e o capitalismo, por qualquer outro motivo, fatalmente, seria adversários. É a própria grandeza desses países que lhes traça esse destino.
Isso não quer dizer que, necessariamente, as duas superpotências devam ir à guerra. A simples existência das armas nucleares, que impede que haja algum vencedor, caso se confrontem militarmente, é um freio poderoso a esse confronto.

É possível que em muitos temas, sobre os quais hoje divergem, ambos acabem por se entender. Mas sempre haverá desconfiança entre as duas. A mesma, ainda que mal comparando, que existe, por exemplo, entre dois touros de idêntica força na disputa por uma novilha. Um dos dois terá que ceder, para que ambos não morram. Mas qual cederá?

Por isso, qualquer resultado que surgir da reunião de cúpula de segunda-feira, por mínimo que seja, será um êxito. E mesmo que não se obtenha nenhum entendimento, o simples fato do encontro se realizar já é uma vitória, que deve ser festejada pelos amantes da paz.

(Artigo publicado na página 11, Internacional, do Correio Popular, em 4 de dezembro de 1987).


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