Qualquer resultado
será lucro
Pedro J. Bondaczuk
As esperanças do mundo todo estarão, a partir de
segunda-feira, voltadas para Washington, onde os dois homens mais poderosos do
Planeta vão estar discutindo o destino da humanidade ao redor de uma mesa.
O desejo geral, como se poderia esperar, é o de que
esses dois senhores, cercados pelos respectivos séquitos de assessores, venham
a concordar em praticamente tudo o que tiverem agendado para o encontro, em
especial no que se refere à destruição, cada vez mais ampla e abrangente, dos
superdimensionados arsenais nucleares que seus respectivos países possuem.
Afinal, pela primeira vez na história, o homem tem
condições de destruir este frágil planeta do Sistema Solar, que ele não
construiu, mas que insensatamente tende a arrasar. Pode acabar com uma
maravilhosa estrutura, que forças extraordinárias, além da sua capacidade de
entendimento, forjaram ao longo de um período desconhecido, mas certamente
bastante extenso de tempo.
Todavia, entre a projeção dos desejos gerais (ou
pelo menos de expressiva maioria) e a realidade, vai uma distância imensa. A
própria hegemonia que as duas superpotências detêm, na atualidade, as torna
antagônicas. Esse fenômeno, aliás, nem é novo.
No correr da história das civilizações, isso se
verificou sempre que existiram duas sociedades evoluídas e fortes, que
invariavelmente acabaram se confrontando pela preponderância de uma sobre a
outra. Isto ocorreu, por exemplo, entre Egito e Mesopotâmia. Repetiu-se entre a
Babilônia e a Medo-Pérsia. Tornou a acontecer entra esta e a Grécia. E,
sucessivamente, um após outro, os impérios hegemônicos foram surgindo e
desaparecendo.
Afinal, todos eles eram obras de seres mortais e
efêmeros e, como seus construtores, nasceram, se desenvolveram e morreram.
Foram passageiros, como tudo o que diz respeito ao homem, de quem apenas as
idéias têm a possibilidade de sobreviver.
Mesmo que a União Soviética e os Estados Unidos não
liderassem ideologias tão antagônicas, como são o comunismo e o capitalismo,
por qualquer outro motivo, fatalmente, seria adversários. É a própria grandeza
desses países que lhes traça esse destino.
Isso não quer dizer que, necessariamente, as duas
superpotências devam ir à guerra. A simples existência das armas nucleares, que
impede que haja algum vencedor, caso se confrontem militarmente, é um freio
poderoso a esse confronto.
É possível que em muitos temas, sobre os quais hoje
divergem, ambos acabem por se entender. Mas sempre haverá desconfiança entre as
duas. A mesma, ainda que mal comparando, que existe, por exemplo, entre dois
touros de idêntica força na disputa por uma novilha. Um dos dois terá que
ceder, para que ambos não morram. Mas qual cederá?
Por isso, qualquer resultado que surgir da reunião
de cúpula de segunda-feira, por mínimo que seja, será um êxito. E mesmo que não
se obtenha nenhum entendimento, o simples fato do encontro se realizar já é uma
vitória, que deve ser festejada pelos amantes da paz.
(Artigo publicado na página 11, Internacional, do
Correio Popular, em 4 de dezembro de 1987).
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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