Jornalista paga sem dever
Pedro J. Bondaczuk
O
drama vivido pelo cidadão Terry Anderson é dos mais terríveis e até aqui, a
despeito da solidariedade que lhe foi hipotecada, pouca coisa foi feita para
que viesse a terminar. Ele é um jornalista, considerado brilhante por seus
companheiros e que chefiava, até 16 de março de 1985, o escritório da agência
"The Associated Press" em Beirute, com responsabilidade de cobrir os
eventos referentes ao Oriente Médio. Somente este fato já diz muito da sua
capacidade. Afinal, nesta época, a região era o pivô do noticiário
internacional, face à guerra civil libanesa, com as diversas nuances pelas
quais tal conflito passou até aqui. Há cinco anos, todavia, Anderson foi
estupidamente privado do exercício da sua espinhosa profissão, da companhia dos
seus amigos e, o que é pior, do convívio de seus familiares.
Quando
um grupo radical xiita seqüestrou o jornalista, em Beirute, há exatos 60 meses,
sua esposa estava grávida. A criança nasceu, cresceu, começou a andar, a falar.
E tudo isso sem contar com a companhia do pai, que não a conhece. E tudo por
que? Em virtude de um bando de fanáticos tê-lo escolhido para bode expiatório
por aquilo que ele em absoluto não fez. Anderson foi apanhado porque estava à
mão, já que em função da sua atividade, precisava circular por toda Beirute,
indiferente aos perigos que tinha que correr, numa cidade há tempos em ruínas,
onde a vida das pessoas, nos últimos 15 anos, deixou de ter grande valor.
De
todos os reféns ocidentais em mãos de extremistas islâmicos ele é o que está
mais tempo em cativeiro. Dá para qualquer um imaginar o que significa ficar em
tais condições por alguns dias! O vice-presidente do grupo Pão de Açúcar,
Abílio Diniz, permaneceu cativo somente por algumas semanas, no ano passado, em
São Paulo, e acabou ficando traumatizado com a experiência. Calcule o leitor o
que é estar em mãos tão hostis por cinco anos! Imagine a insegurança, a saudade
da família, a preocupação quanto ao futuro (que ele sequer atina se terá algum)
de Anderson!
E
tudo por que? Por ser um profissional íntegro e zeloso. Por fazer parte de uma
categoria que somente em 1989, conforme a Comissão para a Proteção de
Jornalistas, entidade cujo presidente de honra é Walter Cronkite, teve 53 de
seus integrantes assassinados. Por acreditar naquilo que faz e executar sua
tarefa com amor e dedicação. Que crime covarde, hediondo e estúpido é o
seqüestro, principalmente de pessoas inocentes, alheias às turbulências
políticas de uma sociedade desorganizada!
(Artigo
publicado na página 12, Internacional, do Correio Popular, em 17 de março de
1990)
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