O
que Gorbachev quer de Ronald Reagan?
Pedro J. Bondaczuk
A
recusa do líder soviético, Mikhail Gorbachev, de marcar uma reunião de cúpula,
que seria realizada ainda no corrente ano, em Washington, com o presidente
norte-americano Ronald Reagan, pegou todo mundo de surpresa. Decepcionou a Casa
Branca, os aliados da Otan, os observadores e a opinião pública mundial.
Ninguém
entendeu qual é a jogada do secretário-geral do Partido Comunista da URSS,
principalmente depois do clima de euforia que um princípio de tratado, obtido
em 19 de setembro passado na capital norte-americana, gerou em toda a parte. O
secretário de Estado George Shultz, que retornou de mãos vazias de Moscou,
disse não acreditar que o Cremlin estivesse tentando obter novas concessões
para a assinatura do tratado para a eliminação dos mísseis de média e curta
distância dos arsenais das superpotências.
O
chanceler soviético, Eduard Shevardnadze, deixou implícito que a razão do
endurecimento se prendia ao maluco projeto da Casa Branca denominado, não se
sabe por que razão, de "guerra nas estrelas". Ou seja, se foi essa,
de fato, a causa, os russos retrocederam um passo, já que haviam concordado em
não incluir, pelo menos agora, este item nas negociações.
Há
analistas entendendo que a volta atrás de Gorbachev tem um motivo mais atual,
de política exterior: o Golfo Pérsico. O dirigente, inclusive, não escondeu de
Shultz o seu desagrado pela maciça
presença naval norte-americana e de seus aliados europeus na região. Em
termos inusitadamente duros, disse ao chefe da política externa norte-americana
que essa questão estava "envenenando" o clima de cordialidade entre
as superpotências.
O
líder soviético parece entender que a aventura dos Estados Unidos nessa área de
tamanha importância para o mundo significava um desequilíbrio estratégico, uma
mudança não prevista de peças no imenso tabuleiro de xadrez em que o Planeta se
tornou para as duas nações militarmente mais poderosas deste século.
Ocorre
que esse é apenas um episódio, entre tantos que dividem Washington e Moscou. E
não deveria servir para separar ainda mais os dois lados. Ambos são os únicos
que, agindo em conjunto, podem pôr fim à estúpida guerra entre o Irã e o
Iraque, antes que os aiatolás resolvam dar o xeque-mate em Bagdá.
Todos
sabem que a despeito da superioridade aérea iraquiana, é Teerã que está mais
próxima da vitória. Numa reunião de cúpula realizada com o espírito aberto e
receptivo, a União Soviética e os Estados Unidos poderiam concordar numa ação
comum, tendente a evitar contratempos futuros. Apesar de tudo, ainda
acreditamos numa reunião de cúpula para este ano. Afinal, o Cremlin sempre
caracterizou suas atitudes pelo mistério e pelo suspense.
(Artigo
publicado na página 21, Internacional, do Correio Popular, em 25 de outubro de
1987).
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