O romantismo não
morreu.
Pedro
J. Bondaczuk
“O romantismo está se
acabando”. Esta é uma afirmação recorrente, que ouço, amiúde, de pessoas em
geral de mais idade, descontentes com os relacionamentos interpessoais nestes
tempos duros, caracterizados pelo individualismo levado às últimas consequências,
pelo feroz egoísmo e pelo consumismo exacerbado, em detrimento da gentileza e
da cortesia. Todavia, discordo de quem pensa assim. Por que? Basicamente, por
tratar-se de generalização. E como todas as generalizações... esta, também, é
“burra”, como diria o jornalista e escritor Nelson Rodrigues, com aquele seu
jeito irreverente de dizer as grandes verdades, caso estivesse vivo.
Nem todos agem de forma
fria e distante, muitas vezes agressiva, não raro descambando para o que
chamamos, popularmente, de “falta de educação”, em seus relacionamentos. Diria
que as manifestações de romantismo estão é se transformando. E que essa
transformação ainda não é, sequer, generalizada. Tenhamos em mente que convivem
(e nem sempre harmoniosamente), ao mesmo tempo e no mesmo espaço (refiro-me ao
mesmo mundo), várias gerações diferentes. Cada uma delas cultiva seus costumes,
comportamentos, hábitos e tradições (neste caso, os mais velhos), conforme foi
educada.
É impossível, portanto,
dizer, sem risco de errar, que esse modo de agir é excelente, e aquele péssimo;
que este é o certo e aquele o errado. A menos que se trate de algo notoriamente
nocivo, claro, e que, por isso, tenha repúdio generalizado e consensual. Cada
qual sabe (ou deveria saber) o que melhor lhe convém. Entendo que o romantismo
não morreu e nem está próximo da “morte”. Em vez disso, transformou-se e segue
se transformando.
As manifestações de
amor mudaram. O namoro, hoje, por exemplo, é muito diferente do tempo dos
nossos avós e de nossos pais (e mesmo do nosso tempo, caso tenhamos algumas
dezenas de anos nas costas). As mudanças foram para melhor? Pioraram os
relacionamentos? Depende de quem avalia. Para uns, os costumes atuais são mais
adequados e os dos antepassados chegam a soar ridículos. Para outros, é o
contrário. Quem está certo? Quem está errado? Insisto, depende de quem avalia.
Hoje, por exemplo, ninguém mais escreve cartas apaixonadas para as namoradas,
ou companheiras, ou seja qual for a condição da outra pessoa pela qual se
esteja apaixonado, ou interessado, como queiram. Em vez disso, redigem-se
e-mails. Ou nem isso. Muitos (e põe muitos nisso!) limitam-se a postar
mensagens em alguma das tantas redes sociais e basta. Nem por isso quem procede
assim deixou de ser romântico. Afinal, lembrou-se da pessoa amada ou estimada
ou que lhe desperte qualquer tipo de interesse.
Os mais velhos não
agiam assim, certo? Sem dúvida. Mas isso ocorria por motivos óbvios. Não
contavam com os recursos de comunicação (computador, celular etc.) com que
contamos hoje. O hábito de escrever cartas está se acabando não apenas entre
namorados, interessados em namorar e amigos. Até mesmo a correspondência
comercial das empresas se torna, paulatinamente, coisa do passado, substituída
pelos e-mails que, entre tantas vantagens, contam com a da instantaneidade. Mal
você concluiu o texto e comprimiu a tecla de “enviar”, a pessoa à qual a
mensagem se destina, não importa a distância que esteja de você, o recebe,
quase que instantaneamente, na caixa de entrada de seu computador. Com cartas,
óbvio, isso não acontecia. Demoravam dias para elas chegarem, e isso quando não
se extraviavam.
Outra manifestação de
apreço que não se acabou é o hábito de enviar flores a determinadas pessoas em
ocasiões especiais, como aniversários (delas, ou de namoro, ou de casamento
etc,), conquistas pessoais, formaturas
etc. E isso é feito da forma que sempre foi: é o homem quem envia buquês para
mulheres e não o contrário. O que mudou, nesse caso, foi o simbolismo que antes
cercava esse tipo de gentileza. Hoje não importa quais sejam as flores mandadas
para a pessoa que se quer agradar, desde que de bom gosto, do que as várias
floriculturas se encarregam com competência. Nem sempre foi assim.
Houve um tempo em que
as flores simbolizavam sentimentos
específicos, a ponto de dispensarem cartões, cartas, bilhetes ou seja lá o que
fosse explicando o motivo de seu envio. Hoje, salvo exceções, só os poetas têm
em mente o que cada espécie floral significa simbolicamente e utilizam essa
simbologia, a título de metáforas, em seus poemas. Por exemplo, o narciso tem o
significado de perda, de morte. O jacinto simboliza lágrimas, ou seja, tristeza
causada por qualquer separação. O lírio, por sua vez, representa pureza,
inocência. O resedá, a bondade. O rosmaninho, a saudade eterna. E a rosa... era
no passado e é ainda hoje metáfora de beleza e de amor. Por isso, mesmo quem
não tem a mais remota noção do significado simbólico das flores, opta por esta
espécie específica quando quer conquistar, conservar ou reverenciar alguma
mulher.
Voltarei oportunamente
ao tema. Reitero, todavia, minha afirmação inicial. Discordo que o romantismo
tenha “morrido” ou que esteja em vias de desaparecer. Como todas as coisas no
mundo (aí incluindo, comportamentos, costumes e símbolos), está em processo de
transformação. Se para melhor ou para pior, é questão individual, opinião de
cada um. Afinal, cada pessoa sabe (ou deveria saber) o que melhor lhe convém.
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