O mistério do sonho
Pedro
J. Bondaczuk
O sonho... O que é o
sonho? Vocês já se fizeram essa pergunta? Provavelmente sim. Eu faço-a com
constância, contudo nunca cheguei a uma conclusão que fosse minimamente
convincente. Não me refiro, aqui, áqueles desejos íntimos, muitas vezes tão
secretos que não revelamos a ninguém, nem à pessoa na qual depositemos
irrestrita confiança. Não é nisso que estou pensando. E nem penso nos ideais de
extrema dificuldade de se conquistar, que desejamos ardentemente e que, se
realizados, justificariam, até, nossa existência. Essas duas situações também
são classificadas, posto que metaforicamente, de sonhos.
Refiro-me áquelas
histórias, uma espécie de filmes nos quais somos protagonistas, que nos passam
na mente quando estamos dormindo, a imensa maioria das quais esquecemos
completamente tão logo despertemos. Só conseguimos nos lembrar de alguns
poucos, daqueles que temos na fase do sono que chamaria de semi-consciência, ou
seja, quando prestes a acordar. Pois é, o que é o sonho? Há muitas explicações,
algumas ditas científicas, outras partindo para o campo da magia, da fantasia
ou até da superstição. Mas nenhuma delas nunca me convenceu. Para mim, tanto
umas, quanto outras, não passam de especulações, de palpites, de meros chutes.
Explicar, mas explicar mesmo, com a respectiva comprovação, ninguém ainda
explicou. Não de forma convincente, que não deixe o mínimo laivo de dúvidas.
Creio que jamais explicará.
Há quem se julgue
habilitado a interpretar sonhos alheios. Até “dicionários” a esse propósito há,
e em grande quantidade. Mas eles são passivos de interpretação? Ora, ora,
ora... Se nem os nossos conseguimos entender o que são – se são meras fantasias
da mente, do subconsciente, quando livre da vigilância da razão ou premonições,
avisos, alertas – imaginem os de outros!! Nos de terceiros, temos, antes e
acima de tudo, que confiar na veracidade da narrativa de quem sonhou. Ou não? E
como saber se essa pessoa está narrando fielmente o que “viu” quando dormia?
Como ter convicção de que não está, se não mentindo, pelo menos fantasiando?
Não sabemos! Não há, convenhamos, como saber. Não existe nenhuma forma de
comprovar. É algo sumamente íntimo, estritamente pessoal, impossível de ser
compartilhado.
Já li muitas, e
excelentes, histórias, em que os personagens agem em função de seus sonhos.
Posto que bem urdidas, não passam de fantasias de quem as escreveu,
provavelmente (vá se saber!) com fundo “zero” de realidade e, portanto, de
verdade. Há quem acredite que quando dormimos, nossa alma sai a passear, sem
destino, pelo mundo. Claro, é questão de acreditar ou não. Que me perdoem os
que acreditam nisso, mas para mim tal crença não passa de mega-disparate. Não
ponho a mão no fogo, óbvio, mas é o que penso.
Referências a sonhos,
no sentido metafórico, no de desejos ardentes e de ideais difíceis de
conquistar, há em imensa quantidade. Clarice Lispector escreveu, por exemplo,
que “há momentos na vida em que sentimos tanto a falta de alguém que o que mais
queremos é tirar essa pessoa de nossos sonhos e abraçá-la”. Óbvio que não
sonhamos, no sentido literal, o tempo todo com ela. “Desejamo-la”, que é outra
forma de sonhar. Outra citação, no sentido de ideal, é uma frase famosa do
ex-Beatle John Lennon. Aliás, quase tudo o que ele disse ou escreveu ganhou
enorme notoriedade, sobretudo após seu assassinato. O famoso astro afirmou: “Um
sonho que sonhes sozinho, é apenas um sonho. Um sonho que sonhes em conjunto
com outros é realidade”.
Querem outra citação,
dentro dessa mesma linha? Partilho esta, do “mago dos heterônimos”, Fernando
Pessoa: “Matar o sonho é matarmo-nos. É mutilar a nossa alma. O sonho é o que
temos de realmente nosso, de impenetravelmente e inexpugnavelmente nosso”. Ou
esta, do já saudoso Gabriel Garcia Marquez: “Não é verdade que as pessoas param
de perseguir os sonhos porque estão ficando velhas. Elas estão ficando velhas
porque pararam de perseguir os sonhos”. Ou esta, do autor dos “Lusíadas”, Luiz
Vaz de Camões: “Coisas impossíveis, é melhor esquecê-las que desejá-las”. Ou
então esta outra, da poetisa portuguesa Florbela Espanca: “Não costumo
acreditar muito nos sonhos... porque de todos se acorda”.
Citações há muitas,
referindo-se a esse fenômeno não sei se fisiológico ou se anímico e ao seu
significado metafórico. O que jamais encontrei foi uma explicação lógica,
plausível e indiscutível para o que ele é. Para mim, portanto, o sonho continua
sendo o que sempre foi: um mistério!
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