Num passo de caranguejo
Pedro J.
Bondaczuk
O Brasil foi colocado, ao lado do Chile, Ghana, Jamaica e
Peru, como um dos países onde o nível de miséria mais aumentou, no período de
1983 e 1984, num relatório divulgado ontem, pelo Banco Mundial, em que o organismo
faz uma análise da economia em nível planetário.
Embora os dados que a instituição
possui sejam de 4 anos atrás, a situação não se alterou, em absoluto, para
melhor. Pelo contrário (e qualquer brasileiro pode constatar por sua própria
vida pessoal), ocorreu uma degradação ainda maior, mormente agora, em 1988.
Vivendo aqui, conhecendo a
fertilidade do nosso solo e a laboriosidade da nossa gente, ficamos indagando,
com nossos botões: “Por que estamos caminhando para trás, na direção do abismo,
quando temos tudo para ser uma sociedade próspera e harmoniosa?”.
Em março do ano passado, o
advogado Antonio Cláudio Mariz também demonstrou idêntica perplexidade e igual
revolta pelo que está nos acontecendo. Disse, à agência “O Estado”: “A
fecundidade da terra, as riquezas minerais que o País possui, a força de
trabalho a ser desenvolvida na indústria e nas demais atividades produtivas,
tornam inconcebível, inaceitável, vergonhoso e absurdo o estado de carência de
significativas parcelas da população”.
O pior de tudo é que alguns
“iluminados” de Brasília, vivendo numa autêntica “ilha da fantasia”,
desvinculados da realidade, não estão enxergando isto, que no Exterior é
patente para todos. Caso não fosse, o número de emigrações (legais ou
clandestinas), numa quantidade impressionante, a tal ponto da Casa da Moeda
sequer vencer em emitir passaportes, seria um bom indicativo de que algo de
podre existe no reino da mamata, parodiando Shakespeare.
É evidente que essa “capital da
alienação” citada é o Planalto Central. Ali, fala-se de tudo, menos de como
evitar esse estado de miserabilidade, que nos humilha e atormenta a todos, até
aos ricos – a riqueza, afinal, não é nenhum pecado. Ser próspero, num país onde
a maioria também é, tem um significado. Mas possui outro, bem diferente, num
lugar onde a miséria campeia.
No Exterior, essa pessoa,
procedente de um país carente, nunca é vista com bons olhos, mesmo não tendo
nada a dever a ninguém. Todos, portanto, temos que unir esforços para acabar
com essa situação vexatória e angustiante, que está se agravando a cada dia que
passa, se transformando numa perigosa bomba de tempo de insatisfação social e
que pode trazer conseqüências muito sérias se um dia vier a explodir
incontrolavelmente.
O caminho, cabe às lideranças
políticas nacionais (tão desprestigiadas) indicar. Antes, elas têm que deixar
de lado seu inconseqüente e estúpido carreirismo de hoje e pensar um pouco mais
no amanhã. Ou seja, deixar de plantar a couve para o prato de hoje, para
plantar o carvalho, para a sombra de amanhã.
(Artigo publicado na página 10, Internacional, do Correio Popular, em 8
de julho de 1988).
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
No comments:
Post a Comment