Mediocridade
marca campanha
Pedro J. Bondaczuk
As campanhas políticas no Brasil, em especial o
horário gratuito no rádio e na televisão, têm sido caracterizadas pela
monotonia, pela falta de mensagens, pela ausência de novas idéias e até mesmo
de imaginação o que, certamente, deve estar deixando o cidadão muito preocupado
quanto ao seu futuro.
Em termos de comportamento, até que os candidatos
vêm se portando a contento, com menos ataques pessoais e retaliações,
inclusive, do que aqueles que ocorrem em países com grande tradição
democrática, como os Estados Unidos, a França, a Grã-Bretanha e a Itália.
Aqui ou ali, um ou outro dos que se apresentam na
telinha mágica ou nos palanques descambam para eventuais excessos. Mas nada de
dramático, como ocorreu, por exemplo, durante a campanha presidencial
norte-americana de 1988, quando George Bush e Michael Dukakis travaram duras
batalhas verbais, que partiram para minúcias pessoais que não tinham
absolutamente nada a ver com as eleições.
O que se observa na propaganda gratuita é uma
espécie de culto à personalidade dos postulantes ao governo do Estado mais
populoso e rico da Federação que, se fosse um país e não tivesse que sustentar
co-irmãos paupérrimos, certamente faria parte da elite mundial, do seleto e restrito
clube do chamado Primeiro Mundo.
Em termos de programa, mencionam-se itens vagos e
óbvios, que fazem parte do cargo de qualquer governador. Ou seja, os candidatos
citam suas obrigações, caso sejam eleitos, mas não dizem qual a contribuição
que pretendem dar ao desenvolvimento estadual e à solução dos grandes problemas
que os paulistas têm.
Tal personalismo, inclusive, ficou demonstrado com o
fato dos eleitores, a menos de um mês da votação, desconhecerem os candidatos a
vice-governador. Esse detalhe foi revelado por uma pesquisa realizada pela
Manager Comunicação, empresa de assessoria de imprensa, que ouviu 300 pessoas
na Capital.
O resultado foi surpreendente, não tanto pelo caso
em si, mas pelos números. Noventa e nove por cento dos consultados garantiram
desconhecer os nomes dos candidatos a vice. O pior não foi isso. Também para o
Senado o desconhecimento do eleitorado foi desconcertante, atingindo 56%.
Está aí, pois, a maior prova da mediocridade da
atual campanha. Ela não sensibilizou o público. Isto, é claro, não é motivo
para ninguém deixar de votar ou para anular seu voto. Afinal, a eleição é muito
mais do que um dever. É um direito e, sobretudo, a principal forma de alguém
exercer a sua cidadania, impedindo o acesso dos medíocres à vida pública e
dando chances de renovação de idéias, em termos administrativos, no País. Mas
que a mediocridade é a tônica da atual campanha, não há como esconder. E isto é
preocupante..
(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio
Popular, em 6 de setembro de 1990)
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