Friday, August 28, 2015

Mediocridade marca campanha



Pedro J. Bondaczuk


As campanhas políticas no Brasil, em especial o horário gratuito no rádio e na televisão, têm sido caracterizadas pela monotonia, pela falta de mensagens, pela ausência de novas idéias e até mesmo de imaginação o que, certamente, deve estar deixando o cidadão muito preocupado quanto ao seu futuro.

Em termos de comportamento, até que os candidatos vêm se portando a contento, com menos ataques pessoais e retaliações, inclusive, do que aqueles que ocorrem em países com grande tradição democrática, como os Estados Unidos, a França, a Grã-Bretanha e a Itália.

Aqui ou ali, um ou outro dos que se apresentam na telinha mágica ou nos palanques descambam para eventuais excessos. Mas nada de dramático, como ocorreu, por exemplo, durante a campanha presidencial norte-americana de 1988, quando George Bush e Michael Dukakis travaram duras batalhas verbais, que partiram para minúcias pessoais que não tinham absolutamente nada a ver com as eleições.

O que se observa na propaganda gratuita é uma espécie de culto à personalidade dos postulantes ao governo do Estado mais populoso e rico da Federação que, se fosse um país e não tivesse que sustentar co-irmãos paupérrimos, certamente faria parte da elite mundial, do seleto e restrito clube do chamado Primeiro Mundo.

Em termos de programa, mencionam-se itens vagos e óbvios, que fazem parte do cargo de qualquer governador. Ou seja, os candidatos citam suas obrigações, caso sejam eleitos, mas não dizem qual a contribuição que pretendem dar ao desenvolvimento estadual e à solução dos grandes problemas que os paulistas têm.

Tal personalismo, inclusive, ficou demonstrado com o fato dos eleitores, a menos de um mês da votação, desconhecerem os candidatos a vice-governador. Esse detalhe foi revelado por uma pesquisa realizada pela Manager Comunicação, empresa de assessoria de imprensa, que ouviu 300 pessoas na Capital.

O resultado foi surpreendente, não tanto pelo caso em si, mas pelos números. Noventa e nove por cento dos consultados garantiram desconhecer os nomes dos candidatos a vice. O pior não foi isso. Também para o Senado o desconhecimento do eleitorado foi desconcertante, atingindo 56%.

Está aí, pois, a maior prova da mediocridade da atual campanha. Ela não sensibilizou o público. Isto, é claro, não é motivo para ninguém deixar de votar ou para anular seu voto. Afinal, a eleição é muito mais do que um dever. É um direito e, sobretudo, a principal forma de alguém exercer a sua cidadania, impedindo o acesso dos medíocres à vida pública e dando chances de renovação de idéias, em termos administrativos, no País. Mas que a mediocridade é a tônica da atual campanha, não há como esconder. E isto é preocupante..  

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 6 de setembro de 1990)


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