Hora
da decisão
Pedro J. Bondaczuk
A campanha sucessória norte-americana começa a
assumir, a partir de hoje, seu clímax, quando estamos exatamente a um mês do
pleito presidencial nos EUA. Nesta noite, na cidade de Louisville, Estado de
Kentucky, os dois postulantes a quatro anos na Casa Branca terçam forças,
frente a frente, no primeiro de dois debates através de uma rede nacional de
TV, com retransmissão para diversos outros países, inclusive o Brasil.
Esse “tour-de-force” final, que já está virando uma
tradição entre os norte-americanos, vem crescendo de importância a cada nova
eleição, desde 1960, quando o então candidato John Kennedy deu um verdadeiro
banho em seu adversário, Richard Nixon, e com isso reverteu as expectativas
anteriores, favoráveis ao oponente, que era apoiado pela máquina oficial do
Estado e contava com a ajuda do presidente da época, o republicano Dwight
Eisenhower.
O desafiante acabou nocauteando o campeão, isto é,
foi eleito em novembro daquele ano com uma margem que não deixou dúvida a
ninguém. No debate de hoje, e no que se vai travar no próximo dia 21 de
outubro, Walter Mondale terá que mostrar “todas as suas cartas” (se é que as
tem), já que conta, contra si, com uma enorme desvantagem em relação ao atual
ocupante da Casa Branca, que varia entre 13 e 20%, dependendo da prévia que se
tome por referência.
O tema desta noite, contudo, não lhe é o mais
favorável, já que serão abordadas, apenas, questões internas, que são os
principais trunfos de Ronald Reagan para tentar a reeleição.
Mondale é tido e havido como um grande debatedor, já
que é advogado militante, acostumado às lides e querelas forenses
características dos tribunais. E certamente partirá para o ataque, buscando
confundir seu experiente adversário, adotando, contra ele, a mesma tática que o
mesmo usou há quatro anos, diante de Jimmy Carter, na oportunidade com raro
sucesso.
Procurará acossá-lo, brandindo, como arma, os
números do astronômico déficit da balança de pagamentos dos EUA, andando aí
pela casa dos US$ 180 bilhões. Buscará irritá-lo, ao demonstrar que a chamada
“Reaganomic” – um pretenso milagre de recuperação norte-americana – é, na
verdade, um engodo, uma bomba-relógio montada para explodir no futuro.
Provará, com certeza, que o crescimento do PNB do
país se deu às custas do desemprego de milhões de operários, especialmente
negros e integrantes da hoje expressiva população hispânica. Não tenham
dúvidas, Mondale vai atacar, atacar e atacar. E não tem outro caminho, se
quiser descobrir algum ponto vulnerável em seu adversário. Terá, mesmo, que
partir para o tudo ou nada.
Ronald Reagan, por sua vez, deve abrir a sua
participação no debate mostrando o quadro econômico desolador que encontrou
quando assumiu a presidência, deixado pelo seu antecessor (do qual Mondale foi
vice), Jimmy Carter. Exibirá estatísticas, dando conta de uma inflação
avassaladora, há quatro anos. Mostrará números de uma interferência crescente
do Estado na vida dos cidadãos, com novos e cada vez mais vorazes impostos,
tirando fatias enormes dos lucros das empresas e das pessoas.
Demonstrará a eficácia das providências que tomou
para reverter o processo inflacionário, com a obtenção das mais baixas taxas de
inflação dos últimos trinta anos da História dos EUA. Comprovará que o
desemprego cedeu e que milhares de novas empresas foram criadas. Em outras
palavras, pintará a “Reaganomic” como um milagre do conservadorismo e da livre
iniciativa.
Ronald Reagan, em vários aspectos, leva nítida
vantagem sobre Walter Mondale em termos de aparição em TV. Em primeiro lugar,
como ex-ator, que atuou em mais de trinta filmes, tem a exata noção da
importância do ponto, isto é, de como mostrar sempre o seu melhor ângulo para
que as câmeras projetem exatamente a imagem que ele deseja exibir ao público.
Como ex-cronista esportivo, faz o que quer com a
palavra, improvisando imagens que podem não ser práticas, em termos de
argumento, mas que impressionam quem as ouvem. E, principalmente, sabe
controlar os nervos, jamais deixando passar para o telespectador alguma possível
irritação que as colocações do adversário possam despertar.
Em outras palavras, como nas lutas de boxe, Reagan
tem o poder de assimilar os golpes, ou seja, não demonstrar para o espectador
que sentiu o “gancho”, ou o “hook” do oponente, que assim deixa de ter
reconhecida a sua eficiência de ataque.
Se Walter Mondale for, realmente, o grande debatedor
que afirmam ser, poderá, no tema que lhe é desfavorável, conquistar alguns
pontinhos a mais nas pesquisas eleitorais, diminuindo a distância que o separa
do oponente.
Se, porventura, tiver sucesso nessa empreitada, no
próximo dia 21 de outubro, quando estará em debate a política externa de Reagan
(reconhecidamente o ponto fraco do candidato republicano), certamente mostrará
ao povo de seu país que o “milagroso” presidente não passa, na verdade, de um
“deus com os pés de barro” e conseguirá tirá-lo da Casa Branca. Caso contrário,
pode ir se preparando para conhecer o mais acachapante revés eleitoral já
registrado na história de todos os inúmeros pleitos norte-americanos.
(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio
Popular, em 7 de outubro de 1984)
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