Tuesday, August 18, 2015

Caso difícil para um fim de mandato


Pedro J. Bondaczuk


A hipótese de que a causa da queda do Jumbo da Pan Am, ocorrida ontem à noite, na Escócia, tenha sido uma bomba a bordo, ganhou corpo nas últimas horas, após a recuperação da "caixa preta" do Boeing 747. Esta vem a ser o dispositivo que grava tudo o que acontece durante o vôo. Para reforçar tal suspeita, um grupo pró-Irã, desconhecido até agora, telefonou para várias agências noticiosas internacionais em Londres assumindo a responsabilidade por um eventual atentado.

Caso isso venha a se confirmar nas próximas horas, mais um ano vai ser encerrado com um chocante ato terrorista, o que parece ter se tornado costume nos últimos tempos. As ameaças que a Pan Am recebeu, dias atrás, em Frankfurt, na Alemanha Ocidental, reforçam essa possibilidade. E fanáticos insensatos, capazes de praticar tal ato contra pessoas inocentes, não faltam, convenhamos.

A organização extremista que assumiu a autoria da possível explosão de bomba disse que a suposta ação de terror foi em vingança pela derrubada do Airbus da Iran Air, ocorrido em 3 de julho passado, através do cruzador norte-americano "USS Vincennes". O governo iraniano, pelo seu primeiro-ministro Hussein Musavi, apressou-se em vir a público para desmentir que a República Islâmica tenha qualquer participação no desastre. E seria de se estranhar se tivesse, já que o país agora está empenhado na árdua tarefa de reconstrução nacional, após uma guerra de oito anos contra o Iraque.

Os indícios colhidos nas últimas horas parecem reforçar, mesmo, a hipótese de que tenha havido um atentado. Caso seja comprovado isso, o presidente norte-americano, Ronald Reagan, forçado a tomar decisões difíceis e até polêmicas ao longo de seus dois mandatos, se verá diante de uma outra, não menos penosa. O que ele fará se for comprovada a suspeita?

Determinará retaliações, como fez em relação à Líbia, quando da explosão de uma bomba na discoteque "La Belle", em Berlim Ocidental? Ordenará o afundamento de alguma plataforma petrolífera iraniana no Golfo Pérsico, como mandou em duas ocasiões no corrente ano, antes que o cruzador da Marinha norte-americana derrubasse o Airbus iraniano em julho passado?

De qualquer forma, um final de governo, que parecia dos mais tranqüilos, pode terminar de maneira agitada. Este é o preço que o ocupante da Casa Branca tem que pagar pelo cargo que exerce. Como contrapeso do poder que possui, ele não pode se furtar de decisões que em questão de segundos podem alterar todo o panorama mundial para melhor ou pior. Inclusive com condições de ditar o momento da ocorrência do terrível "doomsday" nuclear, o impensável instante do ato final da tragédia humana que se desenrola neste atormentado planeta azul do Sistema Solar.

(Artigo publicado na página 11, Internacional, do Correio Popular, em 23 de dezembro de 1988)


 Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk    

No comments: