Caso difícil para um fim de
mandato
Pedro J. Bondaczuk
A
hipótese de que a causa da queda do Jumbo da Pan Am, ocorrida ontem à noite, na
Escócia, tenha sido uma bomba a bordo, ganhou corpo nas últimas horas, após a
recuperação da "caixa preta" do Boeing 747. Esta vem a ser o
dispositivo que grava tudo o que acontece durante o vôo. Para reforçar tal
suspeita, um grupo pró-Irã, desconhecido até agora, telefonou para várias
agências noticiosas internacionais em Londres assumindo a responsabilidade por
um eventual atentado.
Caso
isso venha a se confirmar nas próximas horas, mais um ano vai ser encerrado com
um chocante ato terrorista, o que parece ter se tornado costume nos últimos
tempos. As ameaças que a Pan Am recebeu, dias atrás, em Frankfurt, na Alemanha
Ocidental, reforçam essa possibilidade. E fanáticos insensatos, capazes de
praticar tal ato contra pessoas inocentes, não faltam, convenhamos.
A
organização extremista que assumiu a autoria da possível explosão de bomba
disse que a suposta ação de terror foi em vingança pela derrubada do Airbus da
Iran Air, ocorrido em 3 de julho passado, através do cruzador norte-americano
"USS Vincennes". O governo iraniano, pelo seu primeiro-ministro
Hussein Musavi, apressou-se em vir a público para desmentir que a República
Islâmica tenha qualquer participação no desastre. E seria de se estranhar se
tivesse, já que o país agora está empenhado na árdua tarefa de reconstrução
nacional, após uma guerra de oito anos contra o Iraque.
Os
indícios colhidos nas últimas horas parecem reforçar, mesmo, a hipótese de que
tenha havido um atentado. Caso seja comprovado isso, o presidente
norte-americano, Ronald Reagan, forçado a tomar decisões difíceis e até
polêmicas ao longo de seus dois mandatos, se verá diante de uma outra, não
menos penosa. O que ele fará se for comprovada a suspeita?
Determinará
retaliações, como fez em relação à Líbia, quando da explosão de uma bomba na
discoteque "La Belle", em Berlim Ocidental? Ordenará o afundamento de
alguma plataforma petrolífera iraniana no Golfo Pérsico, como mandou em duas
ocasiões no corrente ano, antes que o cruzador da Marinha norte-americana
derrubasse o Airbus iraniano em julho passado?
De
qualquer forma, um final de governo, que parecia dos mais tranqüilos, pode
terminar de maneira agitada. Este é o preço que o ocupante da Casa Branca tem
que pagar pelo cargo que exerce. Como contrapeso do poder que possui, ele não
pode se furtar de decisões que em questão de segundos podem alterar todo o
panorama mundial para melhor ou pior. Inclusive com condições de ditar o
momento da ocorrência do terrível "doomsday" nuclear, o impensável
instante do ato final da tragédia humana que se desenrola neste atormentado
planeta azul do Sistema Solar.
(Artigo
publicado na página 11, Internacional, do Correio Popular, em 23 de dezembro de
1988)
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