Rico filão a ser explorado
Pedro J.
Bondaczuk
Os dias dos maciços subsídios em nome do socialismo
fraterno estão chegando ao fim. Esta advertência foi feita, anteontem, pelo
presidente soviético, Mikhail Gorbachev, ao assinar um decreto determinando a suspensão
da ajuda externa do seu país ao Terceiro Mundo.
Doravante, a superpotência
marxista vai observar os mesmos termos de comércio com todos os seus parceiros.
Não comprará mais, portanto, o açúcar cubano a preços muito mais altos do que
os do mercado internacional, por exemplo, para aumentar indiretamente o suporte
financeiro que dava até aqui – de cerca de US$ 5 bilhões anuais só em dinheiro
vivo, fora o por baixo do pano – ao governo de Fidel Castro, o que tornou
possível a manutenção desse ditador no poder por 34 anos. Nem irá adquirir o
arroz vietnamita nas mesmas condições adversas.
Vários outros países serão
afetados pela medida, de grande prudência dado o estado lamentável da economia
soviética, como a Coréia do Norte, Angola, Moçambique, Afeganistão, etc. etc.
etc. A decisão abre de imediato amplas possibilidades para o Brasil, na
colocação de vários de seus produtos agrícolas num mercado tão ávido quanto é o
da URSS.
Até porque, temos grande
necessidade de fazer saldos positivos no nosso intercâmbio comercial com o
mundo, não apenas por causa da dívida externa, mas para obter recursos
indispensáveis para financiar programas de desenvolvimento. Por exemplo, o
açúcar brasileiro, bem mais barato do que o cubano, terá chances de competir, e
ganhar, do similar da ilha.
O grande problema para negociar
com o país de Gorbachev, até aqui, sempre foi a necessidade desse comércio ter
que ser feito numa espécie de escambo, de troca de mercadoria por mercadoria,
em virtude da moeda soviética não ser conversível. Ou seja, não poder ser
trocada por outra.
Sua cotação é irreal, falsa,
artificiosa. Todavia, estão avançadas as negociações para acabar com essa
barreira. O decreto de anteontem estabeleceu, inclusive, um prazo para o início
da transição rumo à nova fase das relações comerciais da URSS com o mundo: 1 de
janeiro de 1991.
Moscou já obteve o “status” de
observadora no órgão mundial regulador de tarifas e comércio, o GATT. O Fundo
Monetário Internacional e o Banco Mundial também estudam a admissão soviética
como membro. Caindo essa barreira da moeda, estará aberto um verdadeiro
Eldorado para os empresários brasileiros.
Basta que adotem a postura ágil,
feroz e sobretudo eficiente dos chamados “tigres asiáticos” (Formosa, Coréia do
Sul, Tailândia, Malásia, Cingapura e Indonésia), que estão assombrando o mundo
não apenas com sua agressividade comercial, mas sobretudo com a produtividade,
racionalidade e eficiência da sua indústria. Por isso suas economias nacionais
estão tendo, há alguns anos seguidos, um assombroso crescimento anual de dois
dígitos.
(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 27 de
julho de 1990).
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