Wednesday, June 03, 2015

O leitor é soberano

Pedro J. Bondaczuk

A importância de Machado de Assis para a Literatura – e não me refiro só á Brasileira, da qual foi um divisor de águas, mas à atividade literária em si, seja quando e onde for que venha a ser praticada ou que tenha sido no passado – é incomensurável. Foi pioneiro, desbravador e inovador por excelência, quer no que se refira a estilo, quer à temática, quer a outro aspecto qualquer que se relacione a algum escritor. E, por mais que se escreva a seu respeito, dificilmente se fará plena justiça aos seus inúmeros e incomparáveis méritos. Embora críticos de ocasião (que existem aos montes, convenhamos) contestem, sem pleno conhecimento de causa e com base tão somente em estudos superficiais, sua real importância, só tenho uma designação para caracterizar essa personalidade ímpar: gênio, na mais lídima acepção de genialidade.

Já confessei, e em mais de uma ocasião, que em boa parte dos temas que desenvolvo, neste espaço diário de comentários e de reflexão, sou pautado por leitores, que os sugerem, às vezes me desafiam e não raro até os impõem, por e-mails. Sempre que posso, quando tenho opinião formada sobre os assuntos propostos, os atendo. Com isso, não apenas compartilho idéias, como aprendo muito, por ser induzido a pesquisar coisas que mal domino, das quais tenha conhecimento apenas parcial. Raramente deixo de atender alguém. Para mim, o leitor é soberano. Sua vontade é lei! Às vezes demoro para trazer temas mais complexos à baila. Creio que essa tardança seja compreendida pelos solicitantes, porquanto não posso opinar sobre o que não tenha opinião formada, não é mesmo? É questão de lógica, respeito e responsabilidade. Só deixo de atender os leitores quando os assuntos propostos são absolutamente irrelevantes e não têm nada a ver com Literatura. Ou quando se trate de algo que eu desconheça por completo. Afinal (para meu desgosto) não sou onisciente, ora bolas.

E o que esse bla-bla-blá todo tem a ver com Machado de Assis? Calma, eu explico. Vários leitores, e há muito tempo, insistem em me solicitar que comente, neste meu estilo de bate-papo, a vida e a obra deste gênio literário exemplar. Para tanto, porém, tenho que formar opinião – mas a objetiva, a de um analista cauteloso e meticuloso, e não a de mero admirador fanático e incondicional que sou – a propósito de alguém que se tornou referencial de todos nós que amamos Literatura (não apenas na condição de leitores, mas na de praticantes dessa complexa e fascinante arte).  Bem, essa etapa preliminar (e indispensável) já superei, após meses e meses de pesquisas, apesar da escassez de tempo para tal, dadas minhas outras atividades, “roubando”, não raro, preciosas horas de sono e de contatos sociais.

Primeiro e antes de tudo, tive que fazer criteriosa seleção de fontes pesquisadas – uma enormidade, embora muitas delas redundantes e repetitivas. A internet foi fundamental nesta tarefa. Tanto que escolhi, para fundamentar o que pretendo comentar, servindo como uma espécie de “eixo condutor” um longo, meticuloso e objetivo ensaio (posso caracterizar dessa forma) da enciclopédia eletrônica Wikipédia. Ali encontro datas, títulos e fases bem definidas da trajetória do escritor, para não correr o menor risco de me perder em pequenos detalhes, que tendem a valorizar ou desvalorizar determinados estudos. A segunda fonte, tão importante ou mais que a primeira, é “Contos: uma antologia – Machado de Assis”, organizada por John Gledson, em dois alentados volumes, na edição de 1998, lançada pela Companhia das Letras. Desse livro destaco, sobretudo, a esclarecedora introdução, a que recorrerei várias vezes, pelo tanto de informações que contém.

Os dois volumes reúnem um total de 75 contos, dos mais de duzentos que Machado de Assis escreveu. Concordo que se trata de pequena amostra de uma obra contística volumosa e variada. Todavia, são as histórias mais representativas, em termos temáticos e estilísticos, do genial autor. A introdução que mencionei leva o título de “Os contos de Machado de Assis: o machete e o violoncelo”. E quem é este John Gledson, organizador desta refinada antologia? É um tradutor, ensaísta e crítico literário inglês. O leitor deve estar estranhando o fato de eu eleger a obra de um “estrangeiro” para tratar do nosso (disparado) melhor escritor. Ocorre que (com todo o respeito aos demais organizadores de antologias de Machado de Assis), não encontrei nenhuma outra tão objetiva, tão bem cuidada e tão esclarecedora quanto esta.

Ademais, John Gledson não é um “estrangeiro” qualquer. É professor aposentado da Universidade de Liverpool. Lecionou, por décadas, em sua cátedra, a língua portuguesa, sua especialidade e... a Literatura Brasileira. Óbvio que, para transmitir tudo isso aos seus alunos teria que ter (e tinha, ou melhor, tem) absoluto conhecimento de causa. Ademais, é um dos maiores experts, fora do Brasil, na obra de Machado de Assis. Tem, portanto, todos os requisitos para ser objetivo e didático. E de fato é. Considero, pois, esta uma das melhores fontes para o estudo do nosso maior escritor, posto que, neste caso, apenas de uma de suas facetas (nem por isso a menos importante): a de contista.

Por maior que fosse meu poder de síntese (que sequer é dos mais aguçados), seria impossível tratar de Machado de Assis em um simples e reles texto. Portanto, os comentários que me proponho a fazer serão em vários e vários deles. Quantos? Não sei! Só posso adiantar que serão muitos. Em suma, serão quantos forem suficientes para dar pálida idéia de sua genialidade.  Nem sempre eles serão em sequência (embora me proponha a tentar sequenciá-los tanto quanto puder). Outros assuntos, talvez (ou certamente?) apareçam (ou aparecerão?), cujo adiamento seja inoportuno pela urgência. No mais... O leitor é, para mim (e continuará sendo para sempre) soberano.


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