Friday, June 19, 2015

Circunstâncias distintas



Pedro J. Bondaczuk


A última vez em que Diego Armando Maradona esteve em Campinas foi há quase oito anos, em julho de 1990. Era, na oportunidade, considerado consensualmente o melhor jogador do mundo em atividade, depois de haver dado um título mundial para a Argentina (1986, no México) e o primeiro campeonato nos cem anos de história do Nápoli, time com a torcida mais fanática da Itália (em 1987), hoje à beira do rebaixamento para a Segunda Divisão, entre outras façanhas.

Pouco antes, em 1982, quando foi vendido para o Barcelona, da Espanha, protagonizou a mais cara transação do futebol mundial até então, de US$ 6 milhões. Há menos de duas semanas, em 8 de julho desse ano, havia perdido, integrando a seleção argentina, a Copa do Mundo de 1990, na Itália, em uma decisão bastante controvertida, na qual a Alemanha venceu por 1 a 0, com um gol de pênalti muito contestado.

Com o jogo, perdeu a chance da conquista do seu segundo mundial consecutivo, ele que disputou quatro em sua carreira (1982 na Espanha; 1986 no México; 1990 na Itália e três partidas em 1994, nos Estados Unidos).

Contudo, o técnico alemão Franz Beckenbauer, o legendário meio-campista que encerrou a carreira no Cosmos de Nova York, ao lado de Pelé, para abraçar a não menos vitoriosa atividade de treinador, considerou Maradona, ao lado de Edson Arantes do Nascimento, o melhor jogador do século. Opinião respeitável, partindo de quem partiu!

Há quem concorde com ela sem nenhuma restrição. Outros, no entanto, acham exagerada a avaliação, citando outros craques do presente e do passado que teriam sido melhores do que Maradona, como Zico, Di Stefano, Puskas ou na atualidade Ronaldinho, o chileno Marcelo Salas ou até o veterano uruguaio que defende o River Plate, Francescoli.

Os argentinos garantem que "El Pibe D'Oro", apelido que ganhou desde que começou a defender o Argentino Juniors, em 1976, foi melhor do que Pelé, embora esteja muito distante dos mil gols marcados pelo rei. De qualquer forma, na ocasião da visita a Campinas, o jogador estava no auge. Era, de fato, o melhor do mundo e a controvérsia que despertava era do tipo diferente da que provoca na atualidade, nos torcedores e na imprensa.

Hoje, a situação é bastante diversa. A partir de 1991, o craque envolveu-se em uma série de complicações, primeiro com o consumo de cocaína, que lhe valeu uma longa suspensão por parte da Federação Italiana, e posteriormente com várias denúncias de doping, como a do Mundial dos Estados Unidos, em 1994, e a de setembro do ano passado, sendo que esta última pode significar o fim de sua brilhante carreira.

Em 1990, nos poucos dias em que permaneceu em Campinas, na casa do amigo e então companheiro de clube no Nápoli, Careca, no elegante edifício San Francisco, na Rua Maria Monteiro, bairro do Cambuí, mostrou que era bom de drible também fora dos gramados.

Conseguiu iludir dezenas de repórteres, fotógrafos, cinegrafistas e admiradores --- mães acompanhando filhos e fãs masculinos e femininos de todas as idades --- que, se arriscando no meio dos carros, se concentravam em frente do edifício em que estava hospedado, à procura de entrevistas, de autógrafo ou simplesmente para ver de perto "um mito" do futebol mundial.

(Artigo publicado no caderno de Esportes do Correio Popular, em 28 de janeiro de 1998).

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