Circunstâncias distintas
Pedro J. Bondaczuk
A
última vez em que Diego Armando Maradona esteve em Campinas foi há quase oito
anos, em julho de 1990. Era, na oportunidade, considerado consensualmente o
melhor jogador do mundo em atividade, depois de haver dado um título mundial
para a Argentina (1986, no México) e o primeiro campeonato nos cem anos de
história do Nápoli, time com a torcida mais fanática da Itália (em 1987), hoje
à beira do rebaixamento para a Segunda Divisão, entre outras façanhas.
Pouco
antes, em 1982, quando foi vendido para o Barcelona, da Espanha, protagonizou a
mais cara transação do futebol mundial até então, de US$ 6 milhões. Há menos de
duas semanas, em 8 de julho desse ano, havia perdido, integrando a seleção
argentina, a Copa do Mundo de 1990, na Itália, em uma decisão bastante
controvertida, na qual a Alemanha venceu por 1 a 0, com um gol de pênalti muito
contestado.
Com
o jogo, perdeu a chance da conquista do seu segundo mundial consecutivo, ele
que disputou quatro em sua carreira (1982 na Espanha; 1986 no México; 1990 na
Itália e três partidas em 1994, nos Estados Unidos).
Contudo,
o técnico alemão Franz Beckenbauer, o legendário meio-campista que encerrou a
carreira no Cosmos de Nova York, ao lado de Pelé, para abraçar a não menos
vitoriosa atividade de treinador, considerou Maradona, ao lado de Edson Arantes
do Nascimento, o melhor jogador do século. Opinião respeitável, partindo de
quem partiu!
Há
quem concorde com ela sem nenhuma restrição. Outros, no entanto, acham
exagerada a avaliação, citando outros craques do presente e do passado que
teriam sido melhores do que Maradona, como Zico, Di Stefano, Puskas ou na
atualidade Ronaldinho, o chileno Marcelo Salas ou até o veterano uruguaio que
defende o River Plate, Francescoli.
Os
argentinos garantem que "El Pibe D'Oro", apelido que ganhou desde que
começou a defender o Argentino Juniors, em 1976, foi melhor do que Pelé, embora
esteja muito distante dos mil gols marcados pelo rei. De qualquer forma, na
ocasião da visita a Campinas, o jogador estava no auge. Era, de fato, o melhor
do mundo e a controvérsia que despertava era do tipo diferente da que provoca
na atualidade, nos torcedores e na imprensa.
Hoje,
a situação é bastante diversa. A partir de 1991, o craque envolveu-se em uma
série de complicações, primeiro com o consumo de cocaína, que lhe valeu uma
longa suspensão por parte da Federação Italiana, e posteriormente com várias
denúncias de doping, como a do Mundial dos Estados Unidos, em 1994, e a de
setembro do ano passado, sendo que esta última pode significar o fim de sua
brilhante carreira.
Em
1990, nos poucos dias em que permaneceu em Campinas, na casa do amigo e então
companheiro de clube no Nápoli, Careca, no elegante edifício San Francisco, na
Rua Maria Monteiro, bairro do Cambuí, mostrou que era bom de drible também fora
dos gramados.
Conseguiu
iludir dezenas de repórteres, fotógrafos, cinegrafistas e admiradores --- mães
acompanhando filhos e fãs masculinos e femininos de todas as idades --- que, se
arriscando no meio dos carros, se concentravam em frente do edifício em que
estava hospedado, à procura de entrevistas, de autógrafo ou simplesmente para
ver de perto "um mito" do futebol mundial.
(Artigo
publicado no caderno de Esportes do Correio Popular, em 28 de janeiro de 1998).
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