Saturday, June 13, 2015

Brutalidade criminosa



Pedro J. Bondaczuk


As cenas gravadas por um cinegrafista amador, exibidas pelo Jornal Nacional, da Rede Globo, no dia 31 de março passado, mostrando agressões, extorsões e assassinato de um mecânico, por parte de policiais militares, na favela Naval, em Diadema, na Grande São Paulo, chocaram e causaram indignação em todo o País.

É inconcebível que pessoas pagas para proteger a sociedade ajam no sentido de ameaçar cidadãos que nada devem à lei, se prevalecendo de um símbolo de autoridade, que é o seu uniforme. São maçãs podres de uma corporação que precisam ser extirpadas, para que esta ganhe, aos olhos da população, a dignidade, a confiança e a credibilidade que de fato merece.

É uma atitude injusta, senão irresponsável, generalizar. A Polícia Militar, enfrentando carências de toda a sorte, tem prestado excelentes serviços à comunidade, enquanto instituição encarregada da segurança pública, protegendo a vida e o patrimônio alheios.

Milhares de seus integrantes, agindo anonimamente, expõem suas vidas diuturnamente na proteção de uma sociedade omissa, que em geral sequer os valoriza. São pessoas abnegadas, íntegras, honestas, que passam por privações e ainda assim não fogem ao dever e jamais exorbitam da autoridade de que são investidas.

Mas a corporação precisa ter mais cuidado na seleção dos que vão vestir sua gloriosa farda. Não pode permitir que bandidos, degenerados, paranóicos e torturadores manchem o seu nome. Até por uma questão de justiça para com os soldados cumpridores e defensores da lei, felizmente a maioria.

Casos como o de Diadema, desgraçadamente, não são isolados. Repetem-se quase todos os dias – e só não são divulgados porque não têm por perto um cinegrafista amador ou profissional que os testemunhe e registre – em várias partes do Estado.

Não faz muito, tivemos, por exemplo, o episódio de um comerciante de Santo André, desvairado por ter ido à falência com suas empresas, assassinado por PMs, quando já estava dominado e não oferecia perigo a ninguém, conforme comprova recente laudo divulgado pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Múltiplos fatos semelhantes são noticiados por jornais, mas o espírito corporativista tem prevalecido. E os infratores ou ficam impunes ou recebem meras punições administrativas, quando não são condecorados por seus crimes.

A lei existe para todos e com os que são pagos para atuar em sua defesa é preciso agir com maior rigor quando a infringem. Abuso de autoridade é uma dessas infrações. Lesões corporais é outra. Extorsão também é um delito grave. Homicídio é o pior deles. É inconcebível que tais criminosos, duplamente traidores – traem a corporação a que servem, manchando seu nome, e a confiança da sociedade que os sustenta – escapem impunes.

O País espera por providências, para que aberrações como a de Diadema, de Santo André e tantas outras não se repitam. Os PMs honestos merecem que a imagem da corporação seja preservada e que os maus elementos sejam expulsos e encarcerados, como delinqüentes que são.

(Texto escrito em 31 de março de 1997 e publicado como editorial na Folha do Taquaral).



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