Brutalidade
criminosa
Pedro J. Bondaczuk
As cenas gravadas por um cinegrafista amador,
exibidas pelo Jornal Nacional, da Rede Globo, no dia 31 de março passado,
mostrando agressões, extorsões e assassinato de um mecânico, por parte de
policiais militares, na favela Naval, em Diadema, na Grande São Paulo, chocaram
e causaram indignação em todo o País.
É inconcebível que pessoas pagas para proteger a
sociedade ajam no sentido de ameaçar cidadãos que nada devem à lei, se
prevalecendo de um símbolo de autoridade, que é o seu uniforme. São maçãs
podres de uma corporação que precisam ser extirpadas, para que esta ganhe, aos
olhos da população, a dignidade, a confiança e a credibilidade que de fato
merece.
É uma atitude injusta, senão irresponsável,
generalizar. A Polícia Militar, enfrentando carências de toda a sorte, tem
prestado excelentes serviços à comunidade, enquanto instituição encarregada da
segurança pública, protegendo a vida e o patrimônio alheios.
Milhares de seus integrantes, agindo anonimamente,
expõem suas vidas diuturnamente na proteção de uma sociedade omissa, que em
geral sequer os valoriza. São pessoas abnegadas, íntegras, honestas, que passam
por privações e ainda assim não fogem ao dever e jamais exorbitam da autoridade
de que são investidas.
Mas a corporação precisa ter mais cuidado na seleção
dos que vão vestir sua gloriosa farda. Não pode permitir que bandidos,
degenerados, paranóicos e torturadores manchem o seu nome. Até por uma questão
de justiça para com os soldados cumpridores e defensores da lei, felizmente a
maioria.
Casos como o de Diadema, desgraçadamente, não são
isolados. Repetem-se quase todos os dias – e só não são divulgados porque não
têm por perto um cinegrafista amador ou profissional que os testemunhe e
registre – em várias partes do Estado.
Não faz muito, tivemos, por exemplo, o episódio de
um comerciante de Santo André, desvairado por ter ido à falência com suas
empresas, assassinado por PMs, quando já estava dominado e não oferecia perigo
a ninguém, conforme comprova recente laudo divulgado pela Universidade Estadual
de Campinas (Unicamp).
Múltiplos fatos semelhantes são noticiados por
jornais, mas o espírito corporativista tem prevalecido. E os infratores ou
ficam impunes ou recebem meras punições administrativas, quando não são
condecorados por seus crimes.
A lei existe para todos e com os que são pagos para
atuar em sua defesa é preciso agir com maior rigor quando a infringem. Abuso de
autoridade é uma dessas infrações. Lesões corporais é outra. Extorsão também é
um delito grave. Homicídio é o pior deles. É inconcebível que tais criminosos,
duplamente traidores – traem a corporação a que servem, manchando seu nome, e a
confiança da sociedade que os sustenta – escapem impunes.
O País espera por providências, para que aberrações
como a de Diadema, de Santo André e tantas outras não se repitam. Os PMs
honestos merecem que a imagem da corporação seja preservada e que os maus
elementos sejam expulsos e encarcerados, como delinqüentes que são.
(Texto escrito em 31 de março de 1997 e publicado
como editorial na Folha do Taquaral).
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