Civilização de valores invertidos
Pedro J.
Bondaczuk
O escândalo que atinge o Pentágono, que o presidente
norte-americano, Ronald Reagan, exige que seja apurado a fundo, embora não seja
algo raro (muito pelo contrário, esse tipo de corrupção, representado pela
venda de informações sigilosas para desvirtuar o resultado de uma licitação, é
muito comum em qualquer país), explica, em parte, a razão porque muitos
círculos poderosos nos Estados Unidos se opõem tão ferrenhamente ao seu
desarmamento.
Seu armamentismo está longe de
ser ideológico. É, sobretudo, pragmático. Implica em mais dólares e,
conseqüentemente, em maior poder, para suas empresas e corporações. Os
negócios, muitas vezes, chegam a obcecar de tal forma muitos homens, a ponto de
levá-los a desprezar tudo o que não implique em transações. Incluem-se no
elenco do que é desprezado, em geral, família, religião e (por que não?), o
conceito de pátria.
Este tipo de comportamento,
frise-se, verifica-se, também, na União Soviética, embora lá as coisas terminem,
convenientemente, abafadas. Ou pelo menos acabavam assim antes do líder Mikhail
Gorbachev iniciar a sua política de transparência que, à primeira vista, parece
ser mesmo para valer.
O irônico, em tudo isso, é que o
mundo, e tudo o que nele há, principalmente a humanidade, ficam à mercê de
ambições distorcidas de um punhado de pessoas cuja única filosofia e Deus são o
dinheiro. Acabamos nas mãos de gente que não possui nenhuma noção de honra,
dever, e tantos outros conceitos abstratos, mas que são indispensáveis para dar
uma certa honorabilidade ao poder.
Estão incluídos, principalmente,
nesse estranho e perigoso elenco, os vendedores de armas do chamado mercado
informal (contrabando), que é o que abastece de equipamento bélico quase todos
os ditadores megalomaníacos e terroristas psicopatas do Planeta.
A tais indivíduos importa,
somente, que as armas fornecidas sejam pagas, e à vista. Tudo o mais não passa
de coisas que não lhes interessam de maneira alguma. Gente que age assim,
ressalte-se, é fruto, em geral, da própria distorção de valores engendrada por
esta civilização do desperdício e da alienação.
O sucesso, hoje em dia, é
definido, em livros, jornais, revistas e outros meios de divulgação, como sendo
a mera acumulação de valores pecuniários. Gerações sucessivas foram
condicionadas a pensar assim. Para essas pessoas, os bens do espírito não
passam de abstração, destinada a malucos e desocupados.
“Vencer na vida”, no seu
conceito, significa ter uma bela mansão, um carrão último tipo, uma conta recheada
no banco, um iate, belas mulheres, comidas e bebidas em profusão, e nada mais.
Mas não foi gente desse estofo que fez com que o homem saísse das cavernas,
onde vegetava como um bicho qualquer, e chegasse até a Lua. Só que “estes” é
que são os “bem-sucedidos”.
(Artigo publicado na página 10, Internacional, do Correio Popular, em 18
de junho de 1988).
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