Na contramão da história
Pedro J.
Bondaczuk
A política industrial brasileira, que ainda está recém
esboçada, e tem muitos pontos para serem definidos, vem gerando, nos últimos
dias, duras críticas de vários setores, que entendem que suas linhas básicas
irão provocar a destruição do parque fabril nacional.
Um dos que levantaram essa
possibilidade de forma mais contundente foi o senador Severo Gomes, durante um
simpósio da 42 Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da
Ciência, SBPC.
É verdade que as novas normas têm
aspectos negativos, que podem ser corrigidos, mas seu espírito é essencialmente
correto. O objetivo principal é estimular a concorrência entre as indústrias
brasileiras, tanto no que se refere a preços dos seus produtos, quanto no
atinente à sua qualidade.
A atividade econômica, como
ademais a própria vida das pessoas, é e deve ser, sobretudo, uma competição. É
claro que esta precisa ocorrer dentro de determinadas regras, igualmente
válidas para todos, para não se transformar num jogo de cartas marcadas, como
aliás vem acontecendo atualmente.
Ao Estado não compete produzir
bens de consumo e nem concorrer com a iniciativa privada, num campo nitidamente
da competência desta. Sua função é a de, através do Poder Legislativo, que conceitualmente
representa toda a cidadania, estabelecer normas, regulamentos, leis; mediante o
Executivo, cuidar para que elas sejam cumpridas e fazer do Judiciário, árbitro
em pendências levantadas. No mais, quem deve decidir o que, de onde e de quem
comprar deve ser o mercado, que desde que seja deixado funcionar, dentro de
suas próprias engrenagens, nunca deixa de ser eficiente.
Investir contra isso, impedir que
as coisas transcorram dessa maneira, é trafegar na própria contramão da
história, num momento em que países que possuam economias totalmente
planificadas e controladas pelo Estado – casos do Leste europeu praticamente
por inteiro e da União Soviética, o paradigma do estatismo neste século – estão
assumindo um novo rumo.
É preciso, todavia, que a concorrência
seja absolutamente leal e que de fato exista. Para isso, não podem persistir
cartéis, monopólios ou oligopólios. A regra que deve prevalecer é a da
qualidade, aliada ao preço justo dos produtos fabricados e comercializados.
Quem souber e puder produzir
mais, melhor e a um custo inferior, fatalmente não terá nada a temer, embora
nunca possa se acomodar. Aos ineficientes, o destino reservado é lógico e
único: a extinção. Afinal, em nenhuma atividade o chavão que diz que “quem não
tem competência não se estabelece” é mais válido do que na economia.
(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 14 de
julho de 1990).
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