Ocidente
impede genocídio curdo
Pedro J. Bondaczuk
A perseguição que os soldados do presidente
iraquiano Saddam Hussein moveram contra os curdos, após terem sufocado a
rebelião ocorrida depois da guerra do Golfo Pérsico no Norte do Iraque, só não
redundou num genocídio em virtude da providencial intervenção ocidental, em
especial dos Estados Unidos, Grã-Bretanha e França que, embora um tanto
tardiamente, se mobilizaram em socorro a essa gente.
Massacres étnicos, aliás, houve muitos no presente
século, sem que ninguém ousasse intervir em favor das vítimas. O povo armênio,
por exemplo, quase foi dizimado pelos turcos ao cabo da Primeira Guerra
Mundial. Estima-se que, na oportunidade, cerca de 200 mil pessoas foram mortas,
número que pode ter sido bem maior, já que nessas questões tem se primado pela
proposital imprecisão.
O maior genocídio dos tempos modernos, certamente,
foi o holocausto judeu, durante a Segunda Guerra Mundial, com a apregoada
“solução final” dos nazistas. O mundo terá sempre esse fato em sua consciência,
em virtude da inação, da falta de reação ou pelo menos de protestos que
caracterizou esse morticínio covarde, cruel, metódico e propositalmente
ignorado pela opinião pública internacional.
Era do conhecimento de praticamente todos os estadistas
ocidentais aquilo que ocorria nos campos de extermínio de Auschwitz, Birkenau e
vai por aí afora. Todavia, o leitor atento, que fizer uma pesquisa nos jornais
da época, não encontrará qualquer referência a esse hediondo assassinato em
massa, a essa paranóica tentativa de se eliminar todo um povo, cercado pelo
preconceito e pelo ódio gratuito, despertados pela ignorância.
Em tempos recentes, houve no Sudeste asiático um
outro genocídio em grande escala, igualmente encarado com indiferença por quem
poderia e deveria ter saído em socorro de centenas de milhares de seres humanos
trucidados por um regime ditatorial e evitado a tragédia. Foi o massacre movido
pelo grupo Khmer Vermelho, no Camboja, na década de 1970, paralelo ao
desenvolvimento da guerra no Vietnã na região.
Estimativas conservadoras falam em 1,5 milhão de
cambojanos eliminados naquela oportunidade. O que se questiona é onde estavam
as Nações Unidas, que se apressaram em sair em defesa do Kuwait tão logo o
emirado foi invadido pelas tropas iraquianas em 2 de agosto de 1990 – numa ação
meritória, deve ser ressaltado – naquela ocasião.
Mas o Camboja não é um país produtor de petróleo.
Não gera petrodólares que reacendam a economia ocidental. Por isso, o
extermínio de um número tão grande de pessoas não sensibilizou quase ninguém. E
que não se argumente com o desconhecimento desses crimes. Afinal, os serviços
de inteligência do Ocidente já contavam, naquela época, com os moderníssimos
satélites de hoje, capazes de identificar até a marca do cigarro que
determinado cidadão cambojano fumava.
Da mesma forma com que se aplaude, hoje, a presteza
do socorro dado aos curdos perseguidos pelas tropas de elite de Saddam, se deve condenar a omissão, o cinismo, o
oportunismo com que governos e organizações dedicaram ao massacre promovido
pelo Khmer Vermelho, que hoje se arroga em interlocutor confiável e é fator de
considerável peso para o término de uma guerra civil que já se aproxima de duas
décadas no torturado e semi-destruído Camboja.
(Artigo publicado na página 15, Internacional, do
Correio Popular, em 14 de maio de 1991)
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