Câmara foi renovada
Pedro J. Bondaczuk
Os resultados preliminares
das eleições do dia 3 passado, para a Câmara Federal, mostram que o eleitor não
é assim tão desmemoriado quanto alguns políticos ainda teimam em achar. Os que
se dispuseram a votar em algum candidato a deputado e não anularam e nem
inutilizaram o voto (a absoluta minoria), optaram, desta vez, pela renovação,
que atingiu uma taxa ao redor de 60%.
Ou
seja, de cada 10 parlamentares atuais, que disputaram a reeleição, apenas
quatro conseguiram seu intento. Ainda é cedo para prever se a qualidade do
Congresso melhorou, piorou ou se manteve igual por causa disso.
Mas
o brasileiro mandou, através das urnas, um claro recado aos que se deixam
corromper, aos corporativistas e aos que se omitem do trabalho: o de que não
vai tolerar mais estes e outros deslizes. Os eleitos para o exercício de seu
primeiro mandato, nas primeiras entrevistas que concederam aos meios de
comunicação, foram unânimes em prometer um novo comportamento no exercício de
suas funções, baseado na honestidade, na assiduidade e na defesa das
comunidades que os elegeram. Alguns chegaram até a condenar o tempo excessivo
de recesso da Câmara Federal, que é de 90 dias, o que mostra, pelo menos,
disposição de trabalhar.
Defendem
que as férias dos deputados sejam idênticas às de todos os trabalhadores, ou
seja, de 30 dias anuais, o que é lógico e justo. O novo Congresso terá uma
pauta quilométrica para debater e votar, em conseqüência da inércia e descaso
dos próprios congressistas que exerceram suas funções na presente legislatura,
que termina em dezembro próximo. Só o que ficou para trás já é suficiente para
preencher os quatro anos que vão Ter pela frente, até as eleições de 1998.
Novos
e complexos problemas, com certeza, vão surgir e merecer sua atenção. O
presidente eleito, Fernando Henrique Cardoso, tem um programa amplo e em muitos
aspectos inovador, que precisará do veredito e dos melhoramentos dos deputados.
O
País ganhou mais uma oportunidade de se livrar de velhos problemas e lançar-se
num novo ciclo de desenvolvimento, que se pretende venha acompanhado da
indispensável justiça social. E o Congresso terá um papel importante nesse
processo. Não pode e nem deve falhar.
O
bom do resultado das eleições passadas é que, os “Anões do Orçamento”, que
escaparam de cassações em decorrência do “espírito de corpo” de seus pares, e
que se atreveram a disputar a reeleição, tiveram o que mereceram. Receberam um
sonoro “não” nas urnas.
Dos
18 mencionados no relatório final da Comissão Parlamentar de Inquérito que
investigou o caso, apenas Paulo Portugal, do PP do Rio de Janeiro, tem chance
de voltar à Câmara e ainda assim corre o risco de ficar de fora. Todos os
demais, certamente, vão cair no ostracismo.
Os
eleitores deram “cartão vermelho”, por exemplo, a Flávio Derzi, a Ézio
Ferreira, a Carlos Benevides (e a seu ilustre pai, ex-presidente do Senado,
Mauro Benevides). Os que foram cassados, sequer foram lembrados durante a
campanha, casos de José Geraldo Ribeiro, Ibsen Pinheiro, Fábio Raunhetti e
Feres Nader.
E
os que renunciaram, para evitar a cassação (Manoel Moreira, Genebaldo Correia,
Cid Carvalho e João Alves) sequer se atreveram a postular a reeleição. O mesmo
ocorreu com os “absolvidos” Ricardo Fiuza e Aníbal Teixeira. Quem disse que o
brasileiro não sabe votar?
(Artigo
publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 15 de outubro de 1994).
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
No comments:
Post a Comment