Portuguesa de todos paulistas
Pedro J. Bondaczuk
A
Associação Portuguesa de Desportos, único representante paulista nas semifinais
do Campeonato Brasileiro deste ano, é, não apenas agora, mas há muito tempo uma
espécie de segundo time de todo o torcedor paulista. E isso ocorre por várias
razões.
Em
primeiro lugar, por sua torcida, que embora em número razoável e aguerrida, não
tem rivalidades sérias com as demais. Em segundo, pelo fato de, embora sendo um
dos chamados "grandes" da Capital, não contar em seu currículo com
nenhum título nacional.
Mesmo
em São Paulo, foi campeã apenas por três vezes e (sem nenhum demérito) todas em
circunstâncias muito especiais. Em 1935 e 1936, aliás, obteve um bicampeonato,
mas não na liga principal onde despontava o chamado "trio de ferro"
(São Paulo, Corínthians e o então Palestra Itália, hoje Palmeiras). O Santos,
que na ocasião tinha um timaço, com Feitiço e Friedrich, entre outros, também
participava do campeonato com os já chamados "grandes".
A
Portuguesa disputava o da Associação Paulista de Esportes Atléticos (APEA). Foi
nessa federação que se tornou bicampeã. Na Liga Paulista de Futebol o campeão,
em 1935, foi o então fenômeno Santos, do goleiro Athiê Jorge Cury, que 20 anos
depois presidiria o time que descobriu Pelé e se tornou o mais poderoso do
mundo e que, se disputasse campeonatos hoje, ainda seria praticamente
imbatível. Em 1936, o t¡tulo da LPF ficou com o Palestra Itália.
O
terceiro campeonato que a Lusa conquistou, em 1973, tem gerado controvérsias
até hoje, o que não lhe tira os méritos. Mas não se pode negar que teve uma
"mãozinha" do árbitro Armando Marques. O título foi decidido nos
penais com o "rolo compressor" Santos, de Pelé
Os
santistas converteram as três penalidades que bateram. A Lusa uma, em três.
Armando Marques encerrou as cobranças e declarou o Santos vencedor. Errou nas
contas, evidentemente. Por isso, a Federação Paulista de Futebol, numa decisão
"salomônica", deu o título para os dois.
Além
disso, a Portuguesa foi campeã do Torneio Rio-São Paulo em 1952 e 1955 e vice
em 1964. Recebeu o título de "bi-fita azul" do futebol brasileiro em
1952 e 1953, depois de duas excursões vitoriosas pelo Exterior, de onde
retornou invicta, tendo enfrentado e vencido as maiores forças da Europa.
O
número de craques revelados, que se destacaram nas seleções brasileiras,
paulistas e em outros grandes clubes do País e do Exterior, é incontável.
Pode-se citar, entre os mais óbvios, Júlio Botelho, Djalma Santos, Pinga,
Ipojucã, Edmur, Simão, Brandãozinho, Nininho, Atis, Leivinha, Zé Maria, Ivair,
Servílio, Ditão, Enéas, Félix, Dener e mais dezenas e dezenas de excepcionais
atletas.
Mas
por tudo o que a Portuguesa representa, a sua quantidade de títulos ainda é
muito pequena e não condiz com a sua grandeza. Tem enfrentado, como a maioria
dos clubes brasileiros, grandes problemas financeiros, mas com galhardia e
dignidade.
Ao
contrário dos demais, tem uma política realista, "pés no chão", sem
contratações bombásticas e negociando seus maiores craques para equilibrar o
orçamento o que, no fim das contas, se reflete sobre o time. Está na hora,
portanto, da Lusa mostrar o que vale e de voltar a fazer história.
Esta
é a oportunidade de ressaltar a sua grandeza. Está perto, muito perto, seu
primeiro (de muitos que virão pela frente com certeza) título de campeã
brasileira. Todo paulista, amante do futebol, torce para isto.
(Artigo
publicado no caderno de Esportes do Correio Popular em 6 de dezembro de 1996)
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