Thursday, June 04, 2015

Portuguesa de todos paulistas


Pedro J. Bondaczuk


A Associação Portuguesa de Desportos, único representante paulista nas semifinais do Campeonato Brasileiro deste ano, é, não apenas agora, mas há muito tempo uma espécie de segundo time de todo o torcedor paulista. E isso ocorre por várias razões.

Em primeiro lugar, por sua torcida, que embora em número razoável e aguerrida, não tem rivalidades sérias com as demais. Em segundo, pelo fato de, embora sendo um dos chamados "grandes" da Capital, não contar em seu currículo com nenhum título nacional.

Mesmo em São Paulo, foi campeã apenas por três vezes e (sem nenhum demérito) todas em circunstâncias muito especiais. Em 1935 e 1936, aliás, obteve um bicampeonato, mas não na liga principal onde despontava o chamado "trio de ferro" (São Paulo, Corínthians e o então Palestra Itália, hoje Palmeiras). O Santos, que na ocasião tinha um timaço, com Feitiço e Friedrich, entre outros, também participava do campeonato com os já chamados "grandes".

A Portuguesa disputava o da Associação Paulista de Esportes Atléticos (APEA). Foi nessa federação que se tornou bicampeã. Na Liga Paulista de Futebol o campeão, em 1935, foi o então fenômeno Santos, do goleiro Athiê Jorge Cury, que 20 anos depois presidiria o time que descobriu Pelé e se tornou o mais poderoso do mundo e que, se disputasse campeonatos hoje, ainda seria praticamente imbatível. Em 1936, o t¡tulo da LPF ficou com o Palestra Itália.

O terceiro campeonato que a Lusa conquistou, em 1973, tem gerado controvérsias até hoje, o que não lhe tira os méritos. Mas não se pode negar que teve uma "mãozinha" do árbitro Armando Marques. O título foi decidido nos penais com o "rolo compressor" Santos, de Pelé

Os santistas converteram as três penalidades que bateram. A Lusa uma, em três. Armando Marques encerrou as cobranças e declarou o Santos vencedor. Errou nas contas, evidentemente. Por isso, a Federação Paulista de Futebol, numa decisão "salomônica", deu o título para os dois.

Além disso, a Portuguesa foi campeã do Torneio Rio-São Paulo em 1952 e 1955 e vice em 1964. Recebeu o título de "bi-fita azul" do futebol brasileiro em 1952 e 1953, depois de duas excursões vitoriosas pelo Exterior, de onde retornou invicta, tendo enfrentado e vencido as maiores forças da Europa.

O número de craques revelados, que se destacaram nas seleções brasileiras, paulistas e em outros grandes clubes do País e do Exterior, é incontável. Pode-se citar, entre os mais óbvios, Júlio Botelho, Djalma Santos, Pinga, Ipojucã, Edmur, Simão, Brandãozinho, Nininho, Atis, Leivinha, Zé Maria, Ivair, Servílio, Ditão, Enéas, Félix, Dener e mais dezenas e dezenas de excepcionais atletas.

Mas por tudo o que a Portuguesa representa, a sua quantidade de títulos ainda é muito pequena e não condiz com a sua grandeza. Tem enfrentado, como a maioria dos clubes brasileiros, grandes problemas financeiros, mas com galhardia e dignidade.

Ao contrário dos demais, tem uma política realista, "pés no chão", sem contratações bombásticas e negociando seus maiores craques para equilibrar o orçamento o que, no fim das contas, se reflete sobre o time. Está na hora, portanto, da Lusa mostrar o que vale e de voltar a fazer história.

Esta é a oportunidade de ressaltar a sua grandeza. Está perto, muito perto, seu primeiro (de muitos que virão pela frente com certeza) título de campeã brasileira. Todo paulista, amante do futebol, torce para isto.


(Artigo publicado no caderno de Esportes do Correio Popular em 6 de dezembro de 1996)

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