A escalada do terror
Pedro J. Bondaczuk
O terrorismo internacional
encerra o ano da mesma forma que começou. Vários grupos estão mais ativos do
que nunca, registrando atentados cada vez mais brutais, sem qualquer
consideração pela vida de quem quer que seja.
Apenas
no noticiário de hoje (e somente entre o material selecionado como sendo o de
maior interesse), temos a destacar: o atentado ocorrido numa localidade
balneária sul-africana, próxima a Durban; uma seqüência de atos extremistas em
Lima, no Peru; em Lisboa, a destruição de uma agência da Ibéria; em Pamplona,
na Espanha, o assassinato de um general reformado.
E
a coisa pode ir muito mais longe se pretendermos catalogar vários outros
delitos menos espetaculosos, mas nem por isso menos perigosos, registrados
apenas em 24 horas.
O
ano de 1985 apresentou, portanto, o extremismo agindo com uma virulência poucas
vezes vista. Os métodos foram os mais variados possíveis, concentrando-se,
especialmente, nos carros bombas e artefatos explosivos de pequeno porte,
colocados no interior de lojas, nas proximidades de oleodutos, em bases
militares, em agências de empresas aéreas e até mesmo em aviões, como foi o
caso da explosão verificada num aparelho de carga japonês, no Aeroporto de
Haneda, em Tóquio, no mesmo dia em que um Boeing indiano explodiu na costa da
Irlanda do Sul, com 329 vítimas fatais. Essa última ocorrência, segundo até
hoje se suspeita, também foi obra de extremistas, no caso os sikhs da Índia.
Os
países vítimas do terror, embora a predominância fosse, obviamente, dos Estados
Unidos, também se multiplicaram. Foram desde o Irã à Espanha. Desde o sempre
turbulento e agitado Líbano à Alemanha Ocidental. Desde o Kuwait à França.
Até
mesmo a União Soviética, que raramente havia experimentado essa espécie de
agressão, passou por tal dissabor em 1985. E não estamos nos referindo àquela
sofrida no Afeganistão, onde isso seria de se esperar, já que os russos ocupam
terras alheias, a pretexto de apoiarem um governo visivelmente fantoche e
usurpador, que eles próprios impuseram a poder de tanques e de uma onerosa
invasão.
Diplomatas
de Moscou sofreram ataques na Índia, na Grécia e principalmente em Beirute. E
isso incomodou tanto o Cremlin, que pela primeira vez os soviéticos se uniram
aos norte-americanos, nas Nações Unidas, para a aprovação de uma resolução
condenando o terrorismo.
Isso,
é evidente, não basta. Mas na ausência da possibilidade de se fazer algo de
mais prático para evitar a ocorrência desses atos de fanatismo e de insânia,
não deixa de ser um progresso. Quem sabe as superpotências passem doravante a
colaborar mais estreitamente, através dos respectivos serviços secretos, no
sentido de neutralizar os mandantes dessas tresloucadas ações.
Mas
a tendência, para 1986, nesse aspecto, não é das mais otimistas. Tudo leva a
crer que o extremismo deverá agir com maior virulência ainda e com muito mais
ousadia nos próximos doze meses. Até porque alguns grupos sofreram certos
revezes recentemente e se pode, por esse motivo, esperar atos retaliatórios, de
vingança.
O
que incomoda, de fato, é a gente verificar a participação de alguns Estados
respaldando grupos criminosos. E nem mesmo os Estados Unidos escapam dessa
prática, sumamente condenável, ao financiarem os rebeldes anti-sandinistas que,
conforme as várias entidades de defesa dos direitos humanos, praticam toda a
sorte de atrocidades contra a população civil da Nicarágua.
Washington,
depois, não pode gritar contra o Irã, contra a Líbia ou contra a Síria, tidos
como protetores e instigadores do terrorismo internacional. Nesse campo, não
existe o critério da seletividade. Tanto os grupos que buscam danificar os
oleodutos da OTAN, na Europa, quanto os que incendeiam cafezais e armazéns do
governo sandinista, no interior nicaragüense, agem ilegitimamente, ao arrepio
das leis. São, portanto, criminosos. E proteger, por qualquer meio que seja, um
infrator, é se tornar seu cúmplice. Co-autor, por conseqüência, do seu delito.
(Artigo
publicado na página 12, Internacional, do Correio Popular, em 24 de dezembro de
1985).
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