Thursday, June 11, 2015

A escalada do terror


Pedro J. Bondaczuk


O terrorismo internacional encerra o ano da mesma forma que começou. Vários grupos estão mais ativos do que nunca, registrando atentados cada vez mais brutais, sem qualquer consideração pela vida de quem quer que seja.

Apenas no noticiário de hoje (e somente entre o material selecionado como sendo o de maior interesse), temos a destacar: o atentado ocorrido numa localidade balneária sul-africana, próxima a Durban; uma seqüência de atos extremistas em Lima, no Peru; em Lisboa, a destruição de uma agência da Ibéria; em Pamplona, na Espanha, o assassinato de um general reformado.

E a coisa pode ir muito mais longe se pretendermos catalogar vários outros delitos menos espetaculosos, mas nem por isso menos perigosos, registrados apenas em 24 horas.

O ano de 1985 apresentou, portanto, o extremismo agindo com uma virulência poucas vezes vista. Os métodos foram os mais variados possíveis, concentrando-se, especialmente, nos carros bombas e artefatos explosivos de pequeno porte, colocados no interior de lojas, nas proximidades de oleodutos, em bases militares, em agências de empresas aéreas e até mesmo em aviões, como foi o caso da explosão verificada num aparelho de carga japonês, no Aeroporto de Haneda, em Tóquio, no mesmo dia em que um Boeing indiano explodiu na costa da Irlanda do Sul, com 329 vítimas fatais. Essa última ocorrência, segundo até hoje se suspeita, também foi obra de extremistas, no caso os sikhs da Índia.

Os países vítimas do terror, embora a predominância fosse, obviamente, dos Estados Unidos, também se multiplicaram. Foram desde o Irã à Espanha. Desde o sempre turbulento e agitado Líbano à Alemanha Ocidental. Desde o Kuwait à França.

Até mesmo a União Soviética, que raramente havia experimentado essa espécie de agressão, passou por tal dissabor em 1985. E não estamos nos referindo àquela sofrida no Afeganistão, onde isso seria de se esperar, já que os russos ocupam terras alheias, a pretexto de apoiarem um governo visivelmente fantoche e usurpador, que eles próprios impuseram a poder de tanques e de uma onerosa invasão.

Diplomatas de Moscou sofreram ataques na Índia, na Grécia e principalmente em Beirute. E isso incomodou tanto o Cremlin, que pela primeira vez os soviéticos se uniram aos norte-americanos, nas Nações Unidas, para a aprovação de uma resolução condenando o terrorismo.

Isso, é evidente, não basta. Mas na ausência da possibilidade de se fazer algo de mais prático para evitar a ocorrência desses atos de fanatismo e de insânia, não deixa de ser um progresso. Quem sabe as superpotências passem doravante a colaborar mais estreitamente, através dos respectivos serviços secretos, no sentido de neutralizar os mandantes dessas tresloucadas ações.

Mas a tendência, para 1986, nesse aspecto, não é das mais otimistas. Tudo leva a crer que o extremismo deverá agir com maior virulência ainda e com muito mais ousadia nos próximos doze meses. Até porque alguns grupos sofreram certos revezes recentemente e se pode, por esse motivo, esperar atos retaliatórios, de vingança.

O que incomoda, de fato, é a gente verificar a participação de alguns Estados respaldando grupos criminosos. E nem mesmo os Estados Unidos escapam dessa prática, sumamente condenável, ao financiarem os rebeldes anti-sandinistas que, conforme as várias entidades de defesa dos direitos humanos, praticam toda a sorte de atrocidades contra a população civil da Nicarágua.

Washington, depois, não pode gritar contra o Irã, contra a Líbia ou contra a Síria, tidos como protetores e instigadores do terrorismo internacional. Nesse campo, não existe o critério da seletividade. Tanto os grupos que buscam danificar os oleodutos da OTAN, na Europa, quanto os que incendeiam cafezais e armazéns do governo sandinista, no interior nicaragüense, agem ilegitimamente, ao arrepio das leis. São, portanto, criminosos. E proteger, por qualquer meio que seja, um infrator, é se tornar seu cúmplice. Co-autor, por conseqüência, do seu delito.

(Artigo publicado na página 12, Internacional, do Correio Popular, em 24 de dezembro de 1985).


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