Sunday, June 28, 2015

Fúria e insensatez


Pedro J. Bondaczuk


As manchetes dos jornais estampam os detalhes de mais uma chacina ocorrida no Rio de Janeiro, desta vez na Favela do Vigário Geral, localizada num subúrbio da cidade. As vítimas foram 21 pessoas, inclusive crianças, executadas por um grupo de 40 homens encapuzados, sem a mínima chance de defesa.

Esse crime hediondo vem se juntar a outros tantos com os quais a população já se acostumou a conviver nos últimos tempos. Como, por exemplo, a morte de sete menores na Candelária. Ou o ainda não esclarecido caso do massacre dos ianomâmis, de tantas e tão desencontradas versões.

Mais próximo de nós, temos o episódio do brutal assassinato de dois taxistas em Campinas, que chocou e revoltou esta laboriosa categoria. E há inúmeros pequenos delitos que sequer são noticiados, que assustam as pessoas e instalam por toda a parte um clima de insegurança e medo.

O que estará acontecendo com o Brasil? Estaríamos vivendo um quadro de guerra civil não declarada, como alguns se apressam a afirmar? O problema da violência (urbana ou não) seria uma prerrogativa apenas do Brasil? Estaríamos nos tornando insensíveis ao valor e à importância da vida?

As notícias procedentes do Exterior nos autorizam a afirmar que não. Esse retorno à barbárie é característico das grandes cidades mundiais, quer sejam do Primeiro Mundo, quer do Terceiro. No fim de semana, por exemplo, houve o massacre de 14 policiais na Colômbia.

Na semana passada, uma garotinha marroquina afogou-se num lago de Rotterdam, na Holanda, perante o olhar indiferente de 200 pessoas que presenciaram a cena e nada fizeram para salvar a menina. A cena, inclusive, foi filmada, como se não passasse de uma ficção, de um episódio dramático de um filme. E, no entanto, uma jovem vida se perdeu.

No dia 21 de agosto passado, um universitário japonês, que participava de um programa de intercâmbio estudantil internacional, foi morto por uma bala perdida, que ninguém sabe de onde veio, em Los Angeles, no mais rico e desenvolvido Estado norte-americano, o da Califórnia.

Tiroteios são freqüentes ali, por causa da guerra entre as gangues juvenis. Ainda nos Estados Unidos, 160 pessoas haviam sido mortas, de 1º de janeiro até a metade de julho, por tiros disparados a esmo na cidade de Nova York. O mesmo aconteceu em Denver, no Colorado, onde foi montado um esquema especial para a visita do papa João Paulo II, por temor de que o Pontífice pudesse ser atingido por um projétil saído da arma de um desses malucos.

E o que dizer da Rússia, onde quadrilhas de mafiosos transformaram Moscou numa Chicago dos anos 30? E de Alemanha, França, Grã-Bretanha, e vai por aí afora? A violência campeia por toda a parte. O aumento do rigor das penas tem sido insuficiente para detê-la. Califórnia e Nova York têm penas de morte, e mesmo assim a criminalidade apresenta espiral ascendente.

Leis duras, nós possuímos com fartura no Brasil, porém se todos os delinqüentes já condenados pela Justiça fossem presos, o Estado brasileiro precisaria investir US$ 5 bilhões para encarcerar toda essa gente.

O homem, que por alguma razão que caberia a antropólogos, psiquiatras, juristas, sociólogos, psicólogos e cientistas sociais explicar, está retroagindo à barbárie. Perdeu de vista o real e nobre significado da vida. “Coisificou” seus objetivos, aferrado a um materialismo estúpido e exacerbado. Daí esse quadro de fúria e insensatez em que se transformou a decantada “civilização” da Era Tecnológica.

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 1º de setembro de 1993).


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