O
país das versões
Pedro J. Bondaczuk
O Brasil, em termos de informações acerca de sua
realidade econômica e social, continua a ser um "país das versões".
Estimativas são informadas como sendo dados estatísticos, palpites são
considerados avaliações técnicas e as coisas seguem por aí afora.
Provavelmente, nem o governo nem instituições
públicas e privadas possuem um diagnóstico correto, preciso, exato, ou que pelo
menos se aproxime um pouco da realidade, da nossa situação. Quem, como nós, se
debruça sobre os problemas brasileiros, com o objetivo de escrever um livro,
entende o que queremos dizer. Há uma falta absoluta de material que seja
confiável. Abundam palpites.
As estatísticas disponíveis, além de contar com
grotescos erros técnicos, na maioria dos casos são antigas, embora apresentadas
como atualizadas. Em geral, os problemas são exagerados e para pior. Entendem,
os que se valem dessa prática, que apenas agindo dessa maneira conseguirão
sensibilizar a sociedade para as principais aberrações que existem no País.
Como se fosse preciso exagerar!
Incorre-se no erro de se achar que a quantidade de
indivíduos atingidos pelas distorções sociais que nos afligem é mais importante
do que a existência dos males, não importa quantos sejam os afetados. Pessoas,
portanto, são reduzidas a simples cifras. E quanto maiores estas forem, melhor
será, raciocinam aqueles que não se preocupam com a verdade, mas se contentam
com a "metade" dela.
Comentando a esse respeito, Fúlvia Rosemberg,
psicóloga que trabalha na Fundação Carlos Chagas, constata, em matéria
publicada na segunda-feira (4 de julho de 1994) pelo jornal "O Estado de
São Paulo": "Há uma tendência de se carregar nas cores dramáticas,
como se isso fosse indispensável para chamar a atenção para o problema e encontrar
soluções".
Ou seja, aposta-se na "meia verdade", que
é bem pior, mais perversa e perigosa, do que a mentira pura, por possuir
verossimilhança. Diagnostica-se uma "reles enxaqueca" como sendo um
"tumor cerebral maligno", para usar uma figura médica.
Fúlvia acrescenta que "na verdade, isso
banaliza a violência a que é submetida a população pobre, dificulta as soluções
e ainda difunde a idéia de que os problemas, de tão grandes, tornaram-se
insolúveis". Aliás, parece ser essa a intenção ou pelo menos é a impressão
que fica aos que se dedicam ao estudo sério e compenetrado das grandes questões
que envolvem o País. O catastrofismo é o pretexto ideal para que os
incompetentes justifiquem sua inércia ou, o que é pior, sua indigência mental,
sua preguiça de pensar ou sua esterilidade absoluta de idéias.
(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio
Popular, em 5 de julho de 1994).
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