Tuesday, June 16, 2015

O país das versões



Pedro J. Bondaczuk


O Brasil, em termos de informações acerca de sua realidade econômica e social, continua a ser um "país das versões". Estimativas são informadas como sendo dados estatísticos, palpites são considerados avaliações técnicas e as coisas seguem por aí afora.

Provavelmente, nem o governo nem instituições públicas e privadas possuem um diagnóstico correto, preciso, exato, ou que pelo menos se aproxime um pouco da realidade, da nossa situação. Quem, como nós, se debruça sobre os problemas brasileiros, com o objetivo de escrever um livro, entende o que queremos dizer. Há uma falta absoluta de material que seja confiável. Abundam palpites.

As estatísticas disponíveis, além de contar com grotescos erros técnicos, na maioria dos casos são antigas, embora apresentadas como atualizadas. Em geral, os problemas são exagerados e para pior. Entendem, os que se valem dessa prática, que apenas agindo dessa maneira conseguirão sensibilizar a sociedade para as principais aberrações que existem no País. Como se fosse preciso exagerar!

Incorre-se no erro de se achar que a quantidade de indivíduos atingidos pelas distorções sociais que nos afligem é mais importante do que a existência dos males, não importa quantos sejam os afetados. Pessoas, portanto, são reduzidas a simples cifras. E quanto maiores estas forem, melhor será, raciocinam aqueles que não se preocupam com a verdade, mas se contentam com a "metade" dela.

Comentando a esse respeito, Fúlvia Rosemberg, psicóloga que trabalha na Fundação Carlos Chagas, constata, em matéria publicada na segunda-feira (4 de julho de 1994) pelo jornal "O Estado de São Paulo": "Há uma tendência de se carregar nas cores dramáticas, como se isso fosse indispensável para chamar a atenção para o problema e encontrar soluções".

Ou seja, aposta-se na "meia verdade", que é bem pior, mais perversa e perigosa, do que a mentira pura, por possuir verossimilhança. Diagnostica-se uma "reles enxaqueca" como sendo um "tumor cerebral maligno", para usar uma figura médica.

Fúlvia acrescenta que "na verdade, isso banaliza a violência a que é submetida a população pobre, dificulta as soluções e ainda difunde a idéia de que os problemas, de tão grandes, tornaram-se insolúveis". Aliás, parece ser essa a intenção ou pelo menos é a impressão que fica aos que se dedicam ao estudo sério e compenetrado das grandes questões que envolvem o País. O catastrofismo é o pretexto ideal para que os incompetentes justifiquem sua inércia ou, o que é pior, sua indigência mental, sua preguiça de pensar ou sua esterilidade absoluta de idéias.

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 5 de julho de 1994).


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