Tuesday, June 23, 2015

Mesmo tema 50 anos depois

Pedro J. Bondaczuk

A vida e a obra de Machado de Assis são tão ricas, exemplares, carismáticas e repletas de interesse, que quem se propõe a escrever sobre esse escritor, e, sobretudo, sobre esse ser humano excepcional, fica na dúvida caso tenha que fazer a opção. Qual o caminho a seguir? O que abordar? A biografia, com tantos e tamanhos episódios dramáticos, mas exemplares, que caracterizaram o que foi e o que fez? Ou partir para a vertente da crítica literária, destacando não só sua genialidade, mas seu pioneirismo na Literatura? É impossível escrever um único texto a seu respeito, tantos e tamanhos são os aspectos a considerar. Bem que tentei, mas...

Certamente Machado de Assis é um dos personagens brasileiros a respeito de quem mais se escreveu (e continua se escrevendo, mesmo passados quase 107 anos da sua morte). Detectei mais de 200 livros tratando ora de sua rica e inovadora obra (a maioria), ora de sua vida (que tem, também, muitos biógrafos). E essa aparentemente vasta bibliografia que logrei reunir é só mera fração, diminuta, ínfima e escassa,  de tudo o que já se escreveu e publicou sobre ele. A lógica indica que, diante de tamanha multiplicidade de publicações a seu respeito, é praticamente impossível, ou quase, ser original ao arregaçar as mangas e se propor a também fazer qualquer abordagem sobre Machado de Assis, seja em que aspecto for.

Todavia, se tal redator for atento, organizado  e, em especial, paciente, sempre encontrará algum ângulo, quer da sua obra, quer da sua vida, que ainda não tenha sido enfocado. Ou que, se foi, faltou alguma coisa nessas abordagens. Isso não se deve à incompetência (não necessariamente) de quem escreve, que fique claro. Prende-se, isto sim, à riqueza do que Machado de Assis foi, do que fez e do que representou e representa para a Literatura e a vida brasileira. Mesmo que se trate de aspectos praticamente esgotados por dezenas, por centenas, por quiçá milhares de outros redatores, sempre restará o recurso da opinião. Esta pode até ser parecida com a de muitos. Contudo, dificilmente será rigorosamente igual á de qualquer deles. Sempre haverá originalidade nela. Este foi o caminho que escolhi.

Não me proponho a trazer nenhuma informação nova, inédita, um “furo” (como se diz em jornalismo), daquelas que ninguém tenha, sobre o mítico escritor. Minha proposta, clara e definida, é uma só: a de opinar sobre determinados aspectos específicos, daqueles que mais me chamam a atenção, quer referentes á obra, quer á vida de Machado de Assis, sem me preocupar com outros escritores.

Neste dia 1º de março de 2015, quando o Rio de Janeiro completa 450 anos de fundação, eu havia programado abordar o estreitíssimo vínculo do “Bruxo do Cosme Velho”, com a Cidade Maravilhosa, onde nasceu, viveu, morreu e onde seus restos mortais repousam. A intenção era escrever um único texto a propósito. Todavia, as informações que colhi são tantas e tão variadas, que seria até improbidade da minha parte essa limitação. Não posso e não vou proceder assim. O assunto suscita-me uma enxurrada de comentários e de observações que, por maior que fosse meu poder de síntese (que aliás é reduzidíssimo) jamais conseguiria a façanha de resumi-los em única e reles reflexão, como esta.

Antes de entrar diretamente no assunto – o que farei nos próximos dias – registro o privilégio que a vida me concedeu, e que a maioria dos escritores não teve e nem tem. Explico. A primeira vez que escrevi sobre Machado de Assis foi em 1º de março de 1965. Na oportunidade, o Rio de Janeiro completava exatamente seu quarto centenário de fundação. E o tema que então escolhi foi, justamente, o “carioquismo” do nosso maior escritor. Na oportunidade, recém havia completado 22 anos de idade. fazia um ano que havia me estabelecido em Campinas e há dois dias começara a namorar com a mulher da minha vida, que hoje é minha esposa. Dava meus primeiros passos, tímidos, trôpegos e incertos, como comunicador. Sonhava, porém, posto que de olhos bem abertos, “chegar às estrelas”. Bem, chegar lá (ainda) não cheguei. Mas... andei bom caminho nessa direção.

Passados exatos cinqüenta anos (meio século, sem tirar e nem por), eis-me de novo às voltas com o mesmíssimo tema, mantendo admiravelmente a mesma opinião, imbuído de idêntico entusiasmo. Parece que o tempo não passou. Fica a sensação que estacionou, que me poupou (ao menos intelectualmente) do desgaste e de lapsos naturais de memória. Mas... meio século transcorreu. A vida seguiu seu curso. Alguns bilhões de pessoas nasceram. Centenas de milhões morreram. Guerras começaram e acabaram. Crises surgiram e desapareceram. E sinto-me como se os relógios todos tivessem parado naquele 1º de março de 1965, como se os calendários congelassem e como se voltassem a se movimentar somente hoje, porquanto meu entusiasmo é o mesmo de então. Talvez até tenha crescido, sei lá. Bendito Machado de Assis que me inspira e me motiva há já longos cinqüenta anos e que mantém vivíssimo meu ânimo de emulação!!!!


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