Tuesday, June 02, 2015

É preciso evitar a guerra


Pedro J. Bondaczuk


O tema, abordando as conseqüências de uma guerra nuclear, está, mais do que nunca, na ordem do dia. A teoria do “inverno atômico” vem sendo exposta das mais variadas formas e em diferentes meios de comunicação, tendo, inclusive, sido objeto de um extraordinário programa na TV Cultura de São Paulo, anteontem, o “Câmera Aberta”, seguido de um debate, reunindo cientistas de diferentes especialidades.

Essa discussão, não se pode negar, é um exercício saudável, na medida em que se conscientiza o grande público sobre o perigo que todos corremos e que, ao contrário do que muita gente pensa, são mais iminentes do que nunca.

A nosso ver, todavia, deveriam ser levantadas, nos meios de comunicação, questões sobre o que se pode fazer para pressionar as superpotências no sentido de evitar esse conflito nuclear tão temido, cujas conseqüências estão sendo popularizadas. Como cada cidadão deve proceder para evitar o Armagedon, o bíblico conflito do fim do mundo?

Aliás, sobre esse assunto, foi lançado, anteontem, em Londres, um livro que certamente deverá gerar grande polêmica. Trata-se de “The Year of Armagedon: The Pope and the Bomb” (“O Ano do Armagedon: o Papa e a Bomba”), de Gordon Thomas e Max Gordon-Witts.

Nele, os autores afirmam (afirmação negada, com veemência, pela Santa Sé), que o Sumo Pontífice recebe, todas as sextas-feiras, um relatório detalhado, elaborado pela CIA, sobre o andamento da política externa das superpotências, visando contar com o apoio desse líder religioso de mais de 700 milhões de fiéis, no sentido dele atuar junto aos governantes para impedir que eles destruam o mundo. 

Se a informação contida no livro não é procedente, ninguém pode negar, todavia, a preocupação de João Paulo II com a possibilidade de uma catástrofe atômica. Em várias oportunidades, o Papa fez incisivos pronunciamentos, chamando os líderes das superpotências à razão.

Em diversos encontros com os cientistas no Vaticano, ele também tem externado esse seu coerente ponto de vista. Se há alguém no mundo, na atualidade, com liderança e peso moral suficientes para tarefa de tal magnitude, esse, sem dúvida, é João Paulo II.

De qualquer forma, embora todo o debate a respeito de uma impensável (mas cada vez mais provável) guerra nuclear continue girando, apenas, em torno das suas conseqüências, o fato não deixa de ser saudável. Revela, sobretudo, que milhões de pessoas, das mais variadas ocupações e de diversos países, ainda não perderam a esperança da construção de um mundo melhor. E que estão dispostas a lutar, até o último momento, antes da explosão da primeira bomba, para fugirem de uma morte estúpida, sem sentido, diante da qual 4,8 bilhões de pessoas, até aqui, estão, literalmente, indefesas.  

(Artigo publicado na página 9, Internacional, do Correio Popular, em 25 de agosto de 1984)


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