País da jogatina
Pedro J. Bondaczuk
O Brasil, país em que o jogo é oficialmente
proibido, lembra, em certos momentos, um gigantesco cassino. Há jogatina,
ostensiva ou disfarçada, por toda a parte. Agora, por força do desvirtuamento
da chamada “Lei Zico”, a nova mania na praça passou a ser o bingo, promovido em
nome de clubes, mas que já deu margem a muita confusão e a várias ocorrências
policiais, com incautos sendo lesados em sua boa fé.
Joga-se por todas as formas e meios. Desde as
tradicionais apostas em corridas de cavalo, aos clandestinos carteados, este
vício já se incorporou aos hábitos do brasileiro. Quem nunca fez uma “fézinha”,
digamos, na famosa loteca ou em outra modalidade qualquer de sorteio? Raros,
não é mesmo? E rifas? Há uma infinidade delas sendo promovidas todos os dias.
O Estado banca boa parte dos jogos, como por exemplo
as loterias federal e estaduais, a esportiva, os vários tipos de raspadinhas, a
sena, a loto e vai por aí afora, sem esquecer o bicho, que mesmo sendo uma
contravenção penal, resiste há quase um século e dá margem a subornos e outros
tipos mais graves de corrupção.
A idéia da criação do bingo foi a de obter recursos para
os clubes que mantenham pelo menos três esportes olímpicos. O dinheiro
arrecadado deveria ser utilizado para dar condições à preparação de atletas,
com vistas às competições internacionais. Tomara que esteja sendo.
Como se vê, trata-se de uma intenção meritória e
louvável. O risco é o de que sirva somente de fachada, em vários casos, a
espertalhões que não sejam muito chegados ao trabalho. Oxalá estejamos
enganados. Claro que não se pode e nem se deve generalizar.
Mas como fiscalizar? Como verificar se cada promotor
desses jogos realmente está dentro do espírito que norteou a sua criação? E
muitos certamente não estão. Da mesma forma que neste país existem “contas
fantasmas” em bancos, “eleitores fantasmas” em muitos feudos de caciques
políticos, “cheques fantasmas” e outras tantas fantasmagorias por aí, há clubes
também com essa característica. Ou seja, existem apenas no papel. Onde há
ingênuos, evidentemente existem os espertalhões.
Muitos ainda não se conscientizaram de que raros,
raríssimos conseguem o que quer que seja na vida sem trabalho, sem esforço, sem
sacrifício, sem um contínuo aperfeiçoamento e uma rígida autodisciplina. Em
geral, acabam por se machucar. Quem não sonha com a ação do acaso, vulgarmente
chamado de “sorte”, que mude radicalmente sua situação financeira e lhe permita
comprar aquela casa há tanto desejada, aquele carro tão cobiçado ou que
assegure um futuro tranqüilo para os filhos?
Raros, raríssimos, no entanto, têm uma, uma única
chance objetiva de êxito. Há jogos em que, mesmo pressupondo absoluta lisura e
total transparência dos seus promotores, as probabilidades de se ganhar chegam
a ser de uma em um quatrilhão! Ou seja, raiam ao impossível! A menos,
evidentemente, que se seja um João Alves, o famoso “anão” do Orçamento,
recordista em prêmios da loteria. Mas esta é uma outra história...
(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio
Popular, em 1º de novembro de 1994).
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