Há
esperança, mas é preciso mais ação
Pedro J. Bondaczuk
Os líderes mundiais, aqueles autênticos, que
representam todas as principais atividades humanas, e não somente os negócios
de Estado, posto que tardiamente, estão despertando para uma realidade. A de
que, se não erguerem suas vozes, se não usarem seu prestígio conquistado graças
aos feitos que produziram, se não fizerem algo, em pouco tempo a humanidade
estará extinta.
Os riscos que ameaçam a vida neste Planeta são
múltiplos e não se baseiam mais somente nas armas nucleares, embora este seja o
meio mais rápido e seguro para o genocídio mundial. A depredação do meio
ambiente já está cobrando o seu preço e, caso os homens não parem de agredir a
natureza, em pouquíssimo tempo estaremos todos morrendo sufocados, tostados ou
afetados pelos raios cósmicos.
Ontem, na multissecular e tradicional Universidade
de Oxford, na Inglaterra, cientistas, líderes religiosos e personalidades
públicas, de diversos campos, estiveram reunidos. Entre os que lá se encontravam,
duas figuras corajosas se destacaram, pelo voto de pobreza que fizeram, pelo
exemplo que dão e pela clarividência que adquiriram mediante a disciplina e a
meditação: o Dalai Lama, chefe religioso exilado do Tibete, e Madre Teresa de
Calcutá, esta extraordinária monja, que tem livre trânsito (com a mesma
naturalidade) pelos palácios governamentais e pelos miseráveis casebres das
favelas do mundo todo onde atuou.
Entre todas as mensagens apresentadas no encontro,
uma nos sensibilizou em particular, por revelar uma fé imensa no homem. Foi a
do astrônomo Carl Sagan, da Universidade de Cornell, em Nova York. Ele chamou a
atenção, como todos os demais fizeram, para os perigos que ameaçam a
humanidade.
Falou da chuva ácida, ou seja, a precipitação de
ácido sulfúrico, que se forma na atmosfera em conseqüência da reação química
entre os poluentes das cidades e as nuvens de vapor de água, poluindo lagos e
rios e destruindo florestas.
Citou a gravíssima questão do desmatamento mundial,
que compromete a renovação de oxigênio do Planeta e a absorção do gás carbônico
o que, em médio prazo, pode levar a Terra ao temido efeito estufa. Alertou para
a destruição da camada de ozônio, que já está se tornando dramática. Falou de
tudo isso com a propriedade de quem sabe o que diz.
Mas Sagan não deixou de dizer uma outra grande
verdade. Assinalou que “está ao alcance do homem mudar esse quadro sombrio, da
mesma forma como no passado ele acabou com o canibalismo, com os sacrifícios
humanos e com a escravidão”.
Basta, porém, que ele se conscientize que tal
mudança não pode mais ser protelada. O processo tem que começar agora, neste
momento e precisa ser levado a sério. Ecologia não é uma questão ideológica,
como se procura dar a entender. É a diferença entre a sobrevivência do “Rei da
Criação”, dos animais e das plantas neste Planeta e a sua irreversível
extinção. A escolha ainda é nossa. Só não se pode afirmar é até quando o
será.
(Artigo publicado na página 11, Internacional, do
Correio Popular, em 13 de abril de 1988)
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