Inocente paga por pecador
Pedro J. Bondaczuk
O atormentado contribuinte
brasileiro, que já tem que conviver com uma multiplicidade de tributos (mais de
50), passa a arcar, a partir desta semana, com mais um. Claro que nos referimos
aos 50% que pagam regularmente seus impostos e não à outra metade, que os
sonega, sem que nada lhe ocorra.
O
governo, convenhamos, não exerce com competência um dos papéis tradicionais e
históricos do Estado: o de coletor. Carece de fiscalização eficiente e tem se
mostrado moroso em excesso (para não dizer omisso) na aplicação da farta
legislação aos que burlam o Fisco. Por causa disso, mais uma vez o inocente irá
pagar pelo pecador.
Quem
podia escapar do Imposto Provisório sobre Movimentação Financeira, o malfadado
e inflacionário IPMF, já montou, há tempos, sua estratégia. A conta, todos
sabem, mais uma vez será paga pelo assalariado, que é também o consumidor.
O
novo tributo será repassado aos preços e em cascata. Não significará, portanto,
um aumento irrisório no custo das mercadorias, de 0,25%, podendo chegar, em
alguns casos, a até 15%, embora as estimativas sejam de que a média do repasse
atinja 5%.
O
governo argumenta que os salários mais baixos não serão penalizados, em virtude
da compensação que tais trabalhadores terão do desconto mensal à Previdência.
No que diz respeito à remuneração em si, isto é verdade. Só faltava o salário
mínimo, que mal dá para comprar o arroz e o feijão, ser tributado!
Todavia,
mesmo os que se situam nessa faixa, ou pouco acima dela, pagarão o IPMF
embutido no preço dos gêneros que vierem a adquirir. O novo imposto, portanto,
é economicamente irrelevante, politicamente desastroso e, o que é pior,
absolutamente inconstitucional.
Ao
invés de ser um mecanismo distribuidor de renda, como alguns de seus defensores
argumentam, certamente será outro fator concentrador a mais.
São
esperadas milhares de ações contra o tributo, maior parte das quais o governo
certamente irá perder. Trata-se, portanto, de mais uma trapalhada da gestão
Itamar Franco. Num momento em que o ministro da Fazenda, Fernando Henrique
Cardoso, promete “matar a pau” o monstro inflacionário, a entrada em vigor do
IPMF é, no mínimo, incoerente.
Trata-se
de um caça-níqueis que pode sair até mais caro do que o montante que se estima
arrecadar. O custo de vida, já pressionado por fatores sazonais, como a
entressafra de vários gêneros, a nova política salarial e os reajustes
extorsivos das tarifas públicas, vai ganhar novo alento para continuar seu
exercício de alpinismo, subindo mais um, dois ou três pontinhos percentuais (e
isto com muita sorte).
Onde
as providências para deter esta escalada? Onde o “imediatismo” do propalado
Plano de Ação Imediata, que Fernando Henrique anunciou aos quatro ventos, com
tanta pompa e circunstância? O discurso não vem sendo acompanhado das
competentes ações.
O
governo vem prometendo e reiterando arrumar suas finanças, que são as causas
reais da inflação (não confundir com o custo de vida, que é o seu efeito) e, no
entanto, a “maquininha” de imprimir dinheiro da Casa da Moeda não pára de
rodar.
Cobrir
déficits emitindo moeda qualquer pessoa consegue fazer. Não precisa ser técnico
ou economista. Só que inflação é isso. É excesso monetário (incluídos aí os
créditos e os títulos estatais de dívida pública), sem que todo esse volume
monetário esteja lastreado na produção. E o nosso cruzeiro real (que de realeza
não possui absolutamente nada), não está.
(Artigo
publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 25 de agosto de 1993).
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