Como
bom enxadrista
Pedro J. Bondaczuk
O caso envolvendo o ex-chefe do Partido Comunista de
Moscou, Bóris Yeltsin, demitido do seu cargo no dia 11 passado, por Ter
irritado a ala conservadora da agremiação, demonstrou que há uma luta surda,
nos bastidores, pelo poder na União Soviética.
Com todos os expurgos feitos por Mikhail Gorbachev
no Politburo (os maiores desde a época de Stalin e em tempo bem reduzido) ainda
assim suas idéias reformistas vêm encontrando alguma resistência. Quanta,
ninguém parece saber.
Talvez o seu protegido, no afã de bajular o
protetor, tenha precipitado as coisas. Por essa razão, tem sido chamado de
imaturo. Mas outra coisa ficou, também, bem clara no episódio. O comando do
dirigente do Cremlin pode estar sendo contestado, mas não sofre, em absoluto,
nenhuma ameaça iminente.
O secretário-geral do PC da URSS já demonstrou que
uma das suas virtudes é ser hábil jogador de xadrez (o político, obviamente).
Além de tudo, parece Ter enorme ousadia em seus lances. Por essa razão, não
seria de se estranhar se nos próximos meses os membros de maior idade do Comitê
Central forem acometidos de estranhos achaques, tendo que renunciar aos cargos
por problemas de saúde.
Gorbachev, certamente, não vai querer fiscais atrás
de si, vigiando os seus passos e colocando freios nos seus atos. Mas no caso de
Yeltsin, ele provou que não costuma ser precipitado em suas decisões.
Demonstrou ser daqueles enxadristas que cedem um peão ao adversário apenas para
o enredar numa armadilha que o conduza a um fatal xeque-mate.
Ademais, talvez para apagar a má impressão que ficou
no Exterior, acerca do poder decisório de que dispõe, o líder soviético nomeou
o seu protegido para um posto de nível ministerial. Mas não agiu assim de dó,
por ele Ter sofrido um problema cardíaco. Algum motivo maior, certamente, ele
teve para uma reabilitação tão rápida, diríamos fulminante, de alguém caído em
desgraça, o que não condiz com a forma de agir dos dirigentes do Cremlin.
A impressão que fica ao observador é que o hábil
jogador de xadrez já teria iniciado a manobra decisiva contra os adversários.
Essa disputa, ao que tudo indica, ainda vai render muitos e muitos lances, até
que a parte menos hábil, ou que tiver o menor cacife, se dê por vencida. E
esta, pelas evidências, não é, em absoluto, Mikhail Gorbachev.
(Artigo publicado na página 10, Internacional, do
Correio Popular, em 20 de novembro de 1987)
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