Trazendo ausentes para
junto de nós
Pedro
J. Bondaczuk
O padre Antonio Vieira
– um dos maiores, se não o maior estilista de língua portuguesa de todos os
tempos, além de destacado e notável pregador – declarou, em um dos seus tantos
e inspirados sermões: “O efeito da memória é levar-nos aos ausentes, para que
estejamos com eles, e trazê-los a nós, para que estejam conosco”. É com isso em mente e é tendo este objetivo
que, há muito tempo, há mais de quatro décadas, cultivo um hábito específico:
em cada início de janeiro, destino uma semana inteira à pesquisa das
personalidades que completam centenário – ou de nascimento (na maioria dos
casos) ou de morte (uma vez ou outra) –
em cada ano. Com esse procedimento, “mato dois coelhos com uma só
cajadada”.
Caso eu conheça os
respectivos personagens (na maior parte dos casos, artistas, e mais
especificamente ainda, escritores, embora não somente estes), consolido o
conhecimento que tenho deles. Salvo exceções, escrevo a seu respeito, após
reler suas obras (no caso dos que tenham se dedicado à Literatura) ou apreciar
seus quadros (se pintores), ouvir suas composições (se compositores) e vai por
aí afora. E teço comentários (estritamente pessoais) a propósito. Com isso,
amplio e consolido minha cultura artística, além de “engordar” minha pauta de
crônicas e ensaios a redigir. É certo que nem sempre me atenho a esse programa
informal que é bastante flexível. Mas traço um roteiro a seguir nos 365 dias
que tiver à frente.
Lucro maior, todavia,
obtenho caso não conheça as personalidades pesquisadas. Passo a conhecê-las,
ampliando assim, e muito, minha cultura artística. Em ambos os casos, como
acentuou o padre Vieira, trago estes “ausentes”, que a morte levou, para junto
de mim, em um processo em que as duas partes saem lucrando. Eu, por aprender o
que não conhecia (ou consolidar o que já sabia) e os tais personagens,
geralmente esquecidos, também lucram, pois trago à baila do público seus nomes
e seus feitos, impedindo que permaneçam no esquecimento. Pretensão à parte,
sonho que algum dia alguém aja da mesma forma, em relação a mim. Bem, é verdade
que, para ter mínima chance disso ocorrer, tenho que merecer essa distinção. É
o que venho tentando, há anos, nesta minha acidentada jornada pelas trilhas da
Literatura.
Como em 2014, 2013,
2012, 2011, 2010 etc.etc.etc. fiz, neste início de 2015, minha relação (que,
admito, é incompleta por razões que o leitor pode imaginar com facilidade) das
personalidades (com ênfase para escritores) que completariam cem anos de idade
nos próximos meses, caso estivessem vivos. É grande a probabilidade de escrever
a respeito deles, embora isso vá me exigir muito, muitíssimo trabalho. Antes de
fazê-lo terei que ler seus livros (se escritores), pesquisar suas biografias e,
sobretudo, formar opinião a respeito. Mas o tamanho da tarefa não me assusta.
Na verdade, fascina-me.
Sobre alguns, nem
precisarei escrever, por já haver escrito sob outro pretexto, que não seu
centenário. É o caso Thomas Merton, poeta, escritor e religioso francês, que
completa cem anos de nascimento em 31 de janeiro, sobre o qual tratei, não faz
muito. Não é o caso do segundo da lista. Confesso que nada sei a propósito do
jornalista e escritor José Jacintho Pereira Veiga, nascido em 2 de fevereiro de
1915. Espero suprir essa falta de conhecimento e partilhar com você, paciente
leitor, o que apurar a seu respeito. Sobre o terceiro da minha relação, cujo
centenário ocorrerá em 10 de junho, conheço muita coisa. Li diversos dos seus
livros e nem sei por que não escrevi nada sobre ele. É, no meu entender, um dos
tantos injustiçados do Nobel de Literatura. Refiro-me ao escritor
norte-americano Saul Bellow. Está aí excelente oportunidade de emitir minha
opinião sobre este polêmico intelectual.
Para julho, mais
especificamente no dia 27, terei que arregaçar as mangas e pesquisar tudo o que
possa a propósito do jornalista, poeta e historiador Rubens de Mendonça, sobre
o qual nada conheço. Farei o possível e o impossível para resgatar sua memória.
Assim como pretendo me empenhar para esclarecer-me sobre a vida e a obra do
acadêmico da ABL,. Dom Marcos Barbosa, cujo centenário se dará em 12 de
setembro. Em outubro, pretendo tratar de três personagens para mim também
desconhecidos, além de outra figura conhecidíssima dos amantes de Literatura.
No primeiro caso refiro-me às escritoras Silvina Bulrich, argentina (no dia 4)
e Marisa Villardefrancos, espanhola (14 de outubro) e ao membro da ABL, João de
Scantinburgo, que apesar do sobrenome, é brasileiro (31 de outubro). Dezesseis
dias antes, ocorre o centenário do tradutor, filólogo, lexicógrafo, ensaísta e
crítico literário Antonio Houaiss. Este (nem é preciso ressaltar) é
conhecidíssimo. Pudera!
Em novembro, três
“monstros sagrados” das letras (um estrangeiro e dois nacionais) completarão
cem anos de nascimento. No dia 12, será o francês Roland Barthes, crítico
literário, sociólogo, filósofo e semiólogo. Três dias depois, será a vez de
Bernardo Élis. E no final de novembro, no dia 27, ocorre o centenário de
Adonias Filho, jornalista, crítico, ensaísta e romancista, expoente da Academia
Brasileira de Letras. Finalmente, em dezembro... terei folga nas pesquisas.
Afinal... ninguém é de ferro, não é mesmo?
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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