Wednesday, January 07, 2015

Drama na vida real



Pedro J. Bondaczuk


O assassinato, em 28 de dezembro de 1992, da jovem atriz Daniela Perez, de 21 anos, de forma bárbara e brutal, é um dos crimes de maior repercussão no País, senão em todos os tempos, pelo menos de várias décadas para cá.

O interesse pelo caso é tamanho que, pela primeira vez na história dos tribunais brasileiros, o julgamento desse drama (com ingredientes de novela e de intriga), que começa amanhã e está previsto para durar três dias, vai ser transmitido ao vivo por um "pool" de emissoras de televisão, com imagens geradas pela "Rede Globo".

Algumas circunstâncias contribuíram para aumentar a expectativa. Uma foi os personagens envolvidos, em especial a vítima. Outra foi a época da ocorrência do assassinato. Daniela encarnava na ocasião da sua morte, por exemplo, a Yasmin, na novela "De Corpo e Alma", da "Rede Globo", que havia acabado de "dar o fora" no Bira (vivido por Guilherme de Pádua), justamente no dia em que foi morta.

O assassinato fez com que se misturassem, na cabeça do público, ficção e realidade. Novela e vida passaram a ser vistos como uma só coisa, despertando idêntica paixão.

O processo, passados quase quatro anos, apresenta várias falhas, cometidas durante a fase do inquérito, a cargo da polícia carioca. Por exemplo, a arma do crime nunca foi localizada. Torna-se, portanto, quase impossível de se saber se Daniela foi morta a tesouradas por Paula Tomás – conforme assegura seu ex-marido – ou a punhaladas por Guilherme, como garante sua ex-esposa.

A tarefa dos sete jurados será das mais difíceis diante do passionalismo – até compreensível, mas funesto se eles se deixarem levar por esse clima – que cerca o julgamento. Defende-se, é certo, que os culpados (ou culpado?) pelo assassinato, sejam (ou seja, se for o caso) exemplarmente punidos.

Não se concebe que a impunidade continue prevalecendo, pois se constitui em estímulo irresistível à violência, num momento em que se luta por sua redução. Mas não se pode confundir julgamento com "linchamento". Isso também seria uma inominável truculência. O júri deve  ater-se, portanto, exclusivamente às provas, honrando as tradições de Justiça dessa instituição.

À imprensa, por sua vez, cabe uma postura sóbria. Seu papel é o de informar com eqüidade e isenção. Sempre que decidiu prejulgar, cometeu erros crassos, alguns irremediáveis. Um desses prejulgamentos (de triste memória) foi feito quando alguns órgãos de comunicação deram guarida às levianas acusações contra os diretores da Escola de Base de São Paulo, que tiveram a carreira destruída por denúncias – posteriormente comprovadas como infundadas – de abuso sexual contra um garoto de quatro anos de idade. Que isso lhe sirva de lição.


(Artigo publicado na página 3, Opinião, do Correio Popular, em 26 de agosto de 1996)


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