Sunday, January 04, 2015

Crianças desprotegidas


Pedro J. Bondaczuk


A região de Campinas, embora a mais desenvolvida do Estado, tanto em termos econômicos quanto sociais, apresenta, embora em grau menor, os mesmos desníveis de renda que caracterizam o País. A remuneração média dos trabalhadores não-qualificados – a grande maioria da mão de obra – é baixíssima, entre um e três salários-mínimos, isto quando tais pessoas têm renda e não estão desempregadas.

Se perdem o emprego, sua situação fica trágica. Alguns, enveredam para a economia informal. Outros, descambam para a marginalidade. Outros, ainda, caem na indigência absoluta. O País não conta com nenhum sistema de proteção social. Daí, não ser de se estranhar a incidência de doenças ditadas pela miséria, que consomem milhões dos cofres públicos no tratamento, quando seria mais lógico, racional e confortável prevenir esses males.

Os mais atingidos pelas seqüelas da pobreza crônica são, evidentemente, os dois extremos da escala humana: crianças e idosos. É certo que a mortalidade infantil no Estado não atinge cifras alarmantes, como em outras regiões do País, principalmente Norte e Nordeste. A da região, inclusive, é menor do que a média do próprio Estado. Mas poderia ser ainda mais baixa com a adoção de programas preventivos simples e inclusive baratos, em âmbito municipal.

Não deixa de ser alarmante a avaliação médica feita junto a estudantes do Centro de Atenção Integral à Criança no Distrito de Nova Veneza, de Sumaré, que constatou um índice de desnutrição de 5% entre os alunos, mormente na faixa etária dos 4 aos 6 anos.

Se levarmos em conta o potencial econômico da região e suas condições consideradas até privilegiadas em termos de País, trata-se de um dado assustador. E nem tanto pelos números, relativamente baixos, mas pela simples existência do fenômeno. É o futuro que está sendo comprometido e que requer proteção.

Tais crianças estão em uma idade em que o cérebro ainda está em desenvolvimento. Portanto, as seqüelas da desnutrição tendem a acompanhá-las pelo resto de suas vidas. Seu desempenho escolar será aquém do desejado, estarão mais expostas a doenças e daí para a mortalidade infantil é só um passo.

A própria sociedade poderia, e deveria, mobilizar-se para corrigir distorções como essa, sem esperar por providências do Poder Público, já que, de uma forma ou de outra, todos acabam afetados por esse problema social. O Brasil precisa desenvolver mais o espírito comunitário, característico de países mais avançados e que entre nós parece não encontrar muito espaço.  

(Artigo publicado na página 2 do caderno Metropolitano do Correio Popular, em 20 de abril de 1995)


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