Crianças
desprotegidas
Pedro J. Bondaczuk
A região de Campinas, embora a mais desenvolvida do
Estado, tanto em termos econômicos quanto sociais, apresenta, embora em grau
menor, os mesmos desníveis de renda que caracterizam o País. A remuneração
média dos trabalhadores não-qualificados – a grande maioria da mão de obra – é
baixíssima, entre um e três salários-mínimos, isto quando tais pessoas têm
renda e não estão desempregadas.
Se perdem o emprego, sua situação fica trágica.
Alguns, enveredam para a economia informal. Outros, descambam para a
marginalidade. Outros, ainda, caem na indigência absoluta. O País não conta com
nenhum sistema de proteção social. Daí, não ser de se estranhar a incidência de
doenças ditadas pela miséria, que consomem milhões dos cofres públicos no
tratamento, quando seria mais lógico, racional e confortável prevenir esses
males.
Os mais atingidos pelas seqüelas da pobreza crônica
são, evidentemente, os dois extremos da escala humana: crianças e idosos. É
certo que a mortalidade infantil no Estado não atinge cifras alarmantes, como
em outras regiões do País, principalmente Norte e Nordeste. A da região,
inclusive, é menor do que a média do próprio Estado. Mas poderia ser ainda mais
baixa com a adoção de programas preventivos simples e inclusive baratos, em
âmbito municipal.
Não deixa de ser alarmante a avaliação médica feita
junto a estudantes do Centro de Atenção Integral à Criança no Distrito de Nova
Veneza, de Sumaré, que constatou um índice de desnutrição de 5% entre os
alunos, mormente na faixa etária dos 4 aos 6 anos.
Se levarmos em conta o potencial econômico da região
e suas condições consideradas até privilegiadas em termos de País, trata-se de
um dado assustador. E nem tanto pelos números, relativamente baixos, mas pela
simples existência do fenômeno. É o futuro que está sendo comprometido e que
requer proteção.
Tais crianças estão em uma idade em que o cérebro
ainda está em desenvolvimento. Portanto, as seqüelas da desnutrição tendem a
acompanhá-las pelo resto de suas vidas. Seu desempenho escolar será aquém do
desejado, estarão mais expostas a doenças e daí para a mortalidade infantil é
só um passo.
A própria sociedade poderia, e deveria, mobilizar-se
para corrigir distorções como essa, sem esperar por providências do Poder
Público, já que, de uma forma ou de outra, todos acabam afetados por esse
problema social. O Brasil precisa desenvolver mais o espírito comunitário,
característico de países mais avançados e que entre nós parece não encontrar
muito espaço.
(Artigo publicado na página 2 do caderno
Metropolitano do Correio Popular, em 20 de abril de 1995)
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