Grande entre os grandes
Pedro
J. Bondaczuk
O britânico Arthur
Charles Clarcke destacou-se por feitos excepcionais. E não somente na ficção
científica – posto que, nesta, sua performance foi de tal sorte grandiosa, a
ponto de ser tido e havido como um dos integrantes do “trio de ferro” do
gênero, ao lado de Isaac Asimov e de Robert A. Heinlein – mas em tantos outros
aspectos, literários ou não. Foi, por exemplo, um dos escritores que mais viveu: nascido em Minehead, em 16 de dezembro
de 1917, morreu em 19 de março de 2008, em Colombo, capital do Sri Lanka, aos
91 anos de idade. Escreveu muito, e não apenas ficção, mas artigos, ensaios e
livros “sérios” de ciências. É verdade que sua produção não foi tão copiosa
quanto a de Asimov, que publicou 509 livros. Mas foi extensa. Além do que, ele
foi o autor de ficção científica que levou o homem mais longe, pelas galáxias,
em seus enredos fascinantes. Classifico-o, portanto, sem pestanejar, como “grande
entre os grandes”.
Na minha mente, o nome
de Arthur C. Clarcke está sempre associado à grandeza. Seus feitos inusitados
começaram na infância. Quando garoto, sua paixão pela astronomia era tamanha,
por exemplo, que, munido, apenas, de rústico telescópio caseiro, desenhou um
meticuloso mapa da lua, com suas crateras e planícies. Estava na cara qual
seria seu futuro. Apaixonado, como era, pelo espaço, seria ou astrônomo ou
escritor de ficção científica. Optou pela segunda das duas atividades e se deu
bem.
Outra de suas grandes
paixões era a fotografia, sobretudo a submarina. É certo que não se destacou
nisso. Mas teve importância decisiva em sua vida. Como? Pela opção que fez de
se mudar, em 1956, para Sri Lanka, país insular, vizinho da Índia, famoso pelas
águas cristalinas, do Oceano Índico, que o banham. Viveu, ali, 52 dos 91 anos
de sua existência. Há uma série de curiosidades em torno do seu nome,
literárias ou não. Cito o fato de uma espécie de dinossauro Ceratopsiano,
descoberta na Austrália, haver sido batizada com seu nome (seria uma alusão à
sua longevidade? Creio que sim, mesmo que subconscientemente). Trata-se do
“Serendipaceratops Arthurclarckei”, cujos ossos foram encontrados na localidade
australiana de Inverloch.
Está certo que isso nada
tem a ver com sua condição de escritor de ficção científica e muito menos com o
espaço. Atesta, todavia, seu prestígio e sua importância no mundo científico,
já que foi grande divulgador dos mais variados campos de ciência com seus
artigos e ensaios. Outra homenagem que recebeu, esta com características
espaciais, foi o fato do asteróide 4923 haver sido batizado com seu nome. Como
se observa, mesmo os que não o conhecem ou não venham a conhecer como escritor
de ficção científica, sabem (e saberão) que existiu e que foi importante (desde
que, claro, atuem nos campos da astronomia ou da paleontologia).
O leitor,
provavelmente, está estranhando que, em vez de comentar seus feitos de
ficcionista, eu tenha tratado, até aqui, de outros aspectos que cercam seu nome.
Ocorre que seus dotes de escritor são para lá de conhecidos, mesmo por leitores
que não sejam apreciadores do gênero em que se consagrou. Mas... citemos sua
atuação literária. Seu principal romance, transformado no filme que o consagrou
definitivamente, nasceu de um conto, “The sentinel”. Trata-se de “2001: uma
odisséia no espaço”. Quem não conhece essa obra, ou pelo menos nunca ouviu
falar dela? Claro, refiro-me a pessoas razoavelmente informadas, que nem
precisam ser uma espécie de “enciclopédia ambulante”. Qualquer amante de
cinema, mesmo que nunca tenha assistido a esse filme, rodado em 1968 e dirigido
por Stanley Kubrick, conhece essa produção, pelo menos de ouvir falar.
Outro romance de Arthur
C. Clarcke também foi apropriado por Hollywood, com idêntico sucesso. Refiro-me
a “2010: o ano em que faremos contato”, que contou com a competente direção de
Peter Hyams, datado de 1984. Destaque-se que “2001: uma odisséia no espaço” é
considerado, quase consensualmente, um paradigma, um ícone, uma espécie de
parâmetro de qualidade da ficção científica, tanto em livros, quanto nas telas.
É tido e havido por muitos como um dos melhores filmes de qualquer gênero, de
todos os tempos. A enciclopédia eletrônica Wikipédia lembra que “especialistas
lhe atribuem forte influência sobre a maioria das produções cinematográficas”
de ficção científica que lhe sucederam.
Os sucessos literários
de Arthur C. Clarcke, todavia, não foram, apenas, os dois romances que citei.
Somente dos que me lembro, assim de estalo, de memória, sem precisar recorrer a
nenhum arquivo, cito “Areias de Marte”, “Ilhas no céu”, “A cidade e as
estrelas”, “Encontro com Rama”, “Terra imperial”, “As canções da Terra
distante” e vai por aí afora. São dezenas e dezenas de sucessos. Em 2001,
Arthur Clarcke foi alvo de uma homenagem, da parte do compositor francês, Jean
Michel Jarre, com um concerto intitulado “2001: “A rendez-vous in Space”, com
participação direta do homenageado. Wikipédia destaca que “talvez sua contribuição de maior
importância seja o conceito de satélite geoestacionário como futura ferramenta
para desenvolver as telecomunicações. Ele propôs essa ideia em um artigo
científico intitulado ‘Can Rocket Stations Give Worldwide Radio Coverage?’,
publicado na revista Wireless World em outubro de 1945. A órbita
geoestacionária também é conhecida, desde então, como órbita Clarke”.
Isso tudo posto, creio que nem meu mais implacável crítico
deixará de concordar comigo quando associo, sempre, o nome de Arthur C. Clarcke
a “grandeza”, para o bem ou para o mal. Confesso que seus enredos nem estão
entre meus preferidos, notadamente por entender que sua fantasia foi longe
demais ao levar o homem muito além da mais distante galáxia, quando este não
conseguiu, ainda, sequer retornar à Lua, que em termos cósmicos, é “logo ali”,
super próxima da Terra. Mas sua capacidade narrativa, seu profundo conhecimento
científico e seu inquestionável talento são dignos de reverência e, se
possível, de imitação.
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