Wednesday, January 28, 2015

Plano com 3 equívocos


Pedro J. Bondaczuk


O presidente peruano, Alan Garcia Perez, que no início do seu mandato presidencial, em julho de 1985, revelou até uma certa criatividade ao limitar o pagamento do serviço da dívida externa do seu país, de US$ 14 bilhões, a 10% das exportações nacionais, está cometendo um grande equívoco com seu projeto de estatização de dez bancos, seis financeiras e dezessete seguradoras.

Não pelas razões levantadas pelo escritor Mário Vargas Llosa, no maior comício da oposição já realizado contra o atual governo desde que ele assumiu o poder, levado a efeito anteontem à noite, em Lima. O intelectual disse que essas expropriações são “um cavalo de Tróia” para o comunismo no Peru. Exagero, claro. Não se chega a tanto.

O México nacionalizou, no ano passado, o seu sistema bancário e nem por isso o Partido Revolucionário Institucional perdeu qualquer parcela de domínio ou se viu arriscado a perder sua hegemonia pelo PC mexicano. O motivo é muito mais prático do que ideológico e, portanto, mais grave.

Três razões principais se destacam para caracterizar o equívoco do presidente peruano. A primeira é que (e isto até já virou um clichê, de tanto que vem sendo repetido) o Estado é mau patrão. Gere, em geral, de maneira desastrada e equivocada as empresas que controla. Vejam os exemplos da China e mais recentemente da União Soviética, tentando encontrar fórmulas para transformar seus elefantes brancos em companhias modernas e produtivas.

A segunda razão para caracterizar o equívoco do presidente peruano diz respeito ao principal motivo alegado por Alan Garcia para a estatização. O de que, em mãos do governo, as instituições financeiras vão facilitar financiamentos aos que deles necessitem.

Ora, isto é uma bobagem sem tamanho. Os empréstimos feitos por essas entidades obedecem (e continuarão a obedecer) a uma regra fixa, que é a de exigir garantias do tomador do dinheiro emprestado de que ele dispõe de condições de saldar o débito. Isto vale para bancos estatais e particulares. Nenhum deles é Papai Noel, a distribuir benesses aos incompetentes e aos que não têm iniciativa ou a premiar maus pagadores.

A terceira razão para caracterizar o equívoco refere-se às indenizações que o Estado terá que pagar aos expropriados. Por que o governo não usa “esse” dinheiro para emprestar a juros subsidiados a quem precise, sem investir contra o patrimônio alheio? Esse é o caminho das pedras!       

(Artigo publicado na página 21, Internacional, do Correio Popular, em 23 de agosto de 1987).


Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk    

No comments: