Plano com 3 equívocos
Pedro J. Bondaczuk
O presidente peruano, Alan Garcia Perez, que no início do
seu mandato presidencial, em julho de 1985, revelou até uma certa criatividade
ao limitar o pagamento do serviço da dívida externa do seu país, de US$ 14 bilhões,
a 10% das exportações nacionais, está cometendo um grande equívoco com seu
projeto de estatização de dez bancos, seis financeiras e dezessete seguradoras.
Não pelas razões levantadas pelo escritor Mário Vargas
Llosa, no maior comício da oposição já realizado contra o atual governo desde
que ele assumiu o poder, levado a efeito anteontem à noite, em Lima. O intelectual disse
que essas expropriações são “um cavalo de Tróia” para o comunismo no Peru.
Exagero, claro. Não se chega a tanto.
O México nacionalizou, no ano passado, o seu sistema
bancário e nem por isso o Partido Revolucionário Institucional perdeu qualquer
parcela de domínio ou se viu arriscado a perder sua hegemonia pelo PC mexicano.
O motivo é muito mais prático do que ideológico e, portanto, mais grave.
Três razões principais se destacam para caracterizar o
equívoco do presidente peruano. A primeira é que (e isto até já virou um
clichê, de tanto que vem sendo repetido) o Estado é mau patrão. Gere, em geral,
de maneira desastrada e equivocada as empresas que controla. Vejam os exemplos
da China e mais recentemente da União Soviética, tentando encontrar fórmulas
para transformar seus elefantes brancos em companhias modernas e produtivas.
A segunda razão para caracterizar o equívoco do presidente
peruano diz respeito ao principal motivo alegado por Alan Garcia para a
estatização. O de que, em mãos do governo, as instituições financeiras vão
facilitar financiamentos aos que deles necessitem.
Ora, isto é uma bobagem sem tamanho. Os empréstimos feitos
por essas entidades obedecem (e continuarão a obedecer) a uma regra fixa, que é
a de exigir garantias do tomador do dinheiro emprestado de que ele dispõe de
condições de saldar o débito. Isto vale para bancos estatais e particulares.
Nenhum deles é Papai Noel, a distribuir benesses aos incompetentes e aos que
não têm iniciativa ou a premiar maus pagadores.
A terceira razão para caracterizar o equívoco refere-se às
indenizações que o Estado terá que pagar aos expropriados. Por que o governo
não usa “esse” dinheiro para emprestar a juros subsidiados a quem precise, sem
investir contra o patrimônio alheio? Esse é o caminho das pedras!
(Artigo publicado na página 21, Internacional, do Correio Popular, em 23
de agosto de 1987).
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