Literatura sem preconceito
Pedro J. Bondaczuk
A ficção científica, como gênero literário, é, e sempre foi
ao longo do tempo, sobretudo polêmica. Alguns (refiro-me, aqui, a críticos)
consideram-na forma “menor” de fazer Literatura ficcional. Vão ao extremo de
raramente se darem o trabalho de sequer mencionar seus lançamentos. Ignoram-na,
solenemente, mesmo quando alguns livros tornam-se best-sellers e vendem milhões
e mais milhões de exemplares mundo afora. E quando, eventualmente, decidem ler
e abordar qualquer lançamento do gênero, esmeram-se em críticas, atacando tudo
e todos da maneira mais feroz e selvagem, posto que subjetiva. Raramente
mencionam o que lhes desagrada.
Agem de forma preconceituosa. E, como todos os que são
contaminados pelo “vírus” do preconceito, tendem às generalizações. Não deveriam,
óbvio. Mas.... Como tudo em Literatura (e, de certa forma, na vida), há bons
escritores do gênero e há os ruins e também até os péssimos. Esse julgamento,
no entanto, não deveria caber aos críticos literários, mas exclusivamente ao
leitor, que é o único que garante o sucesso ou o fracasso de qualquer autor,
comprando ou deixando de comprar seus livros. Alguns se deixam influenciar pela
crítica e decidem, pelo sim e pelo não, poupar seu suado dinheirinho e
investi-lo em outro tipo de literatura. Estão no seu direito. Não raro, porém,
cometem injustiças, condenando ao fracasso e ao ostracismo excelentes
escritores e, claro, seus livros muito bem escritos.
Às vezes acontece de alguma obra de ficção científica (e isso
ocorre em qualquer outro gênero), dessas que encalham nas prateleiras das
livrarias, ser relançada, por capricho de algum editor teimoso, muitos anos
depois (não raro décadas), após o lançamento original. E mais, se dá o caso
dessa “aposta”, comercialmente arriscada, dar certo e a obra acabar virando
best-seller. Há muitos casos como este e creio ser desnecessário citar algum
exemplo específico.. E quando isso ocorre, o único que não lucra nada com o
súbito sucesso (às vezes nem seus herdeiros) é exatamente quem escreveu esse
livro, finalmente bem-sucedido, que pode estar morto há muito tempo (geralmente
está) e que às vezes morreu prematuramente em consequência do desgosto com o
fracasso literário.
Reitero que esse tipo de coisa ocorre não apenas com obras de ficção científica, mas também com
as de outro gênero literário qualquer. Cito este caso, especificamente, em
decorrência do preconceito que há em relação a elas, principalmente de parte de
leitores (e de críticos) mais cultos e eruditos (ou que se julgam tal). Os
escritores que se dedicam à produção de contos policiais passam pelo mesmo
problema. Já vi até nomes consagrados, como Arthur Conan Doyle e Agatha
Christie, por exemplo, serem considerados meros produtores de subliteratura; Ou
seja, de se dedicarem a um gênero literário supostamente “menor”. Ora, ora,
ora.
Há quem entenda que livros de ficção científica e de contos
policiais sirvam, apenas, de passatempo, para momentos de lazer em que não
tenhamos nada de melhor para fazer. Argumentam que seus enredos não têm lições
a transmitir, e que se caracterizam, exclusivamente, pela ação. O curioso é que
essas pessoas jamais escreveram uma reles história nesses gêneros que tanto
abominam e não sabem, portanto, da complexidade que essa criação envolve.
Aliás, não raro, nem mesmo leram algum livro do tipo. Como se atrevem, pois, a
opinar?
Dizer, por exemplo, que um H. G. Wells, um Isaac Asimov, um
Júlio Verne, um George Orwell ou um Arthur Clarck, para citar, apenas, alguns
dos mais conhecidos, são escritores “menores”, que nada de útil têm a
transmitir, é não somente uma heresia, mas suprema burrice. E todos eles são
autores (consagrados, felizmente) de ficção científica!!! O mesmo se pode dizer
de mestres do conto policial, como Conan Doyle, Agatha Christie, Jeffery Deaver
e tantos e tantos outros escritores que são campeões de venda, posto que
discriminados por críticos literários obtusos e por estudiosos eruditos das
chamadas “belas letras”, por serem
autores de um gênero supostamente “menor”. Sem esquecer, claro, o genial
criador desse tipo de história, o consagrado Edgar Alan Poe.
Preconceito não cabe em momento algum da vida e muito menos
em Literatura. Nesta não há gêneros maiores ou menores, mais nobres ou de menor
nobreza. Há, sim, bons livros e bons escritores e os maus, que raramente
conseguem fazer carreira. Voltarei, certamente, ao assunto, com novos enfoques,
para que você, inteligente leitor, forme sua própria opinião e não se deixe
levar por preconceitos e preconceituosos. É de informação e de responsabilidade
que essa gente carece! E de respeito com quem faz da Literatura missão de vida.
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