Wednesday, January 14, 2015

Luta solitária e desigual



Pedro J. Bondaczuk


A China, nos últimos anos, tem assumido uma postura contrária às invasões a países da Ásia. Por exemplo, condenou, acidamente, a União Soviética, por sua intervenção no Afeganistão. Opôs-se, severamente, à permanência dos soldados vietnamitas no Camboja. E vem criticando, embora na surdina, a presença de tropas norte-americanas na Coréia do Sul.

No entanto, há 39 anos, esse país submete à servidão todo um povo, que até 1950 era independente e soberano, mutilando a sua cultura e seu modo de vida. Trata-se da população tibetana, impedida de gozar de independência, pela prepotência chinesa.

O estranho é que os que foram ou são criticados pelos líderes marxistas da China nunca mencionaram a situação do Tibete, reduzido a mera colônia numa época em que estava começando o processo mundial de descolonização.

Desde anteontem, este antigo reino aristocrático, situado numa região conhecida como o “Teto do Mundo”, a mais de 4 mil metros de altura, num planalto vasto e desolado, caracterizado pelo clima extremamente frio e hostil, está submetido ao regime de “lei marcial”. Ou seja, todos os direitos e garantias civis foram suspensos.

Lhassa, a sua capital, está ocupada por tropas militares e dezenas de cidadãos estão sendo arrastados de seus lares, sabe-se lá para onde. E ninguém reage em defesa desse povo oprimido. Frise-se que no Tibete foi registrado, a partir da invasão chinesa, em 1º de novembro de 1950, um dos maiores genocídios dos tempos modernos, quando 5 milhões de patriotas tibetanos, que se recusavam a ver o seu país perder a liberdade, foram executados. Em 1951, esse território foi declarado província autônoma da China.

De início, as autoridades de Pequim ainda permitiram que o Dalai Lama, uma espécie de “deus vivo” dos budistas locais, permanecesse em Lhassa. Mas em junho de 1959, os patriotas do “Teto do Mundo” tentaram fazer uma rebelião. Certamente contavam receber alguma ajuda do Exterior. Mas...decepcionaram-se.

Ninguém saiu em seu socorro, por uma questão política: por medo de desagradar o gigante chinês. Como castigo pela rebeldia, o líder espiritual teve que partir para o exílio, em Nova Delhi, na Índia, onde permanece até hoje. Com ele, seguiram outras 100 mil pessoas, que não se conformavam com a perda da identidade nacional.

Mas o sentimento de independência está muito longe de estar morto no Tibete. Passadas quase quatro décadas da invasão, uma nova geração assume, corajosamente, essa bandeira. É verdade que os heróis anônimos de agora lutam de forma solitária. Ninguém deseja se arriscar a desagradar a potência asiática.

Poucos ousam erguer a voz em favor desse povo injustiçado nos organismos internacionais. Enquanto isso, essa gente pacata, que nada mais deseja do que cultivar suas tradições em paz, segue tendo seus direitos humanos duramente espezinhados, justamente por quem se arroga em ser o defensor de populações oprimidas.

(Artigo publicado na página 12, Internacional, do Correio Popular, em 9 de março de 1989).


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