Luta solitária e desigual
Pedro J.
Bondaczuk
A China, nos últimos anos, tem assumido uma postura
contrária às invasões a países da Ásia. Por exemplo, condenou, acidamente, a
União Soviética, por sua intervenção no Afeganistão. Opôs-se, severamente, à permanência
dos soldados vietnamitas no Camboja. E vem criticando, embora na surdina, a
presença de tropas norte-americanas na Coréia do Sul.
No entanto, há 39 anos, esse país
submete à servidão todo um povo, que até 1950 era independente e soberano,
mutilando a sua cultura e seu modo de vida. Trata-se da população tibetana,
impedida de gozar de independência, pela prepotência chinesa.
O estranho é que os que foram ou
são criticados pelos líderes marxistas da China nunca mencionaram a situação do
Tibete, reduzido a mera colônia numa época em que estava começando o processo
mundial de descolonização.
Desde anteontem, este antigo
reino aristocrático, situado numa região conhecida como o “Teto do Mundo”, a
mais de 4 mil metros de altura, num planalto vasto e desolado, caracterizado
pelo clima extremamente frio e hostil, está submetido ao regime de “lei
marcial”. Ou seja, todos os direitos e garantias civis foram suspensos.
Lhassa, a sua capital, está
ocupada por tropas militares e dezenas de cidadãos estão sendo arrastados de
seus lares, sabe-se lá para onde. E ninguém reage em defesa desse povo
oprimido. Frise-se que no Tibete foi registrado, a partir da invasão chinesa,
em 1º de novembro de 1950, um dos maiores genocídios dos tempos modernos,
quando 5 milhões de patriotas tibetanos, que se recusavam a ver o seu país
perder a liberdade, foram executados. Em 1951, esse território foi declarado
província autônoma da China.
De início, as autoridades de
Pequim ainda permitiram que o Dalai Lama, uma espécie de “deus vivo” dos
budistas locais, permanecesse em Lhassa. Mas em junho de 1959, os patriotas do
“Teto do Mundo” tentaram fazer uma rebelião. Certamente contavam receber alguma
ajuda do Exterior. Mas...decepcionaram-se.
Ninguém saiu em seu socorro, por
uma questão política: por medo de desagradar o gigante chinês. Como castigo
pela rebeldia, o líder espiritual teve que partir para o exílio, em Nova Delhi,
na Índia, onde permanece até hoje. Com ele, seguiram outras 100 mil pessoas,
que não se conformavam com a perda da identidade nacional.
Mas o sentimento de independência
está muito longe de estar morto no Tibete. Passadas quase quatro décadas da
invasão, uma nova geração assume, corajosamente, essa bandeira. É verdade que
os heróis anônimos de agora lutam de forma solitária. Ninguém deseja se
arriscar a desagradar a potência asiática.
Poucos ousam erguer a voz em
favor desse povo injustiçado nos organismos internacionais. Enquanto isso, essa
gente pacata, que nada mais deseja do que cultivar suas tradições em paz, segue
tendo seus direitos humanos duramente espezinhados, justamente por quem se
arroga em ser o defensor de populações oprimidas.
(Artigo publicado na página 12, Internacional, do Correio Popular, em 9
de março de 1989).
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