Ano inesquecível
Pedro J. Bondaczuk
O ano de 1994 foi, para os
brasileiros, um período de emoções fortes, positivas e negativas, mais as
primeiras. O País perdeu, por exemplo, seu grande ídolo esportivo, Ayrton
Senna, na curva Tamborello, em Ímola, sacrificado pelos frios “big boss” do
automobilismo, que confundem o homem com a máquina e o trituram literalmente.
Além
do nosso campeão, ficamos sem o escritor Mário Quintana, sem o nosso mago dos
transplantes cardíacos, Euryclides de Jesus Zerbini, e sem o poeta que fazia
seus versos literalmente com flores, o paisagista Burle Marx, para citar apenas
alguns dos grandes nomes que se foram.
Mas
se o esporte nos trouxe a mágoa da perda do nosso astro maior da Fórmula-1, foi
ele, também, que nos deu os maiores momentos de euforia, com a conquista do
sofrido tetracampeonato de futebol, por parte da tão criticada seleção de
Carlos Alberto Parreira, nos campos dos Estados Unidos.
Não
bastasse esse título, buscado com tanta intensidade desde 1970, as meninas do basquete
se consagraram nas quadras da Austrália e as do vôlei ganharam a Liga Mundial e
obtiveram a honrosa medalha de prata no mundial realizado no Brasil.
Nesse
aspecto, portanto, não há muito que se queixar. Poderia ter sido melhor, claro.
Sempre pode! Mesmo no esporte, nem tudo se constituiu num mar de rosas. O
basquete e o vôlei masculino, por exemplo, decepcionaram. E mesmo no futebol,
paradoxalmente, num ano em que o Brasil voltou a impor a sua hegemonia no
mundo, não tivemos nenhum clube brasileiro campeão de qualquer torneio
internacional. Nem na Libertadores da América, nem na Supercopa, nem na Recopa
e provavelmente sequer na Comenbol. Nada é perfeito.
No
plano econômico, o País conseguiu a façanha de derrubar uma inflação de 50% ao
mês para algo em torno de 3%. Pena que esse ajuste ainda não tenha redundado em
benefícios concretos para a grande maioria da população, aquele povão sofrido e
carente, miserável e não instruído, à míngua de pão, emprego, estudo e
esperança.
Espera-se
que na Segunda fase do Plano Real, quando a moeda de fato vier a se impor como
forte e a salvo de corrosão, esse contingente, de cerca de 110 milhões de
pessoas, venha a ser tratado da forma que merece. As bases de um sistema
econômico racional e coerente estão lançadas. Falta a seqüência, o complemento.
No
terreno político, vivemos uma orgia democrática. O brasileiro somente não
votou, neste ano, para prefeitos e vereadores. No mais, teve em suas mãos o
poder de “demitir” sumariamente da vida pública quem tanto o aborreceu. E o fez
zelosamente.
Tanto
que, dos 18 citados no relatório da Comissão Parlamentar de Inquérito que
apurou o escândalo da manipulação do Orçamento da União, nenhum foi reconduzido
à Câmara ou ao Senado. Falta a segundo e mais importante parte do castigo:
fazer com que os que cometeram o hediondo crime de “lesa-pátria”, devolvam o
dinheiro que surrupiaram.
Preocupante,
no correr de 1994, a exigir urgentíssima solução já nos albores do novo ano, é
a escalada da violência. É a ocupação de espaços em termos de poder real,
deixados por policiais corrompidos, pelos crápulas do crime organizado. É o
aumento de furtos, roubos, assaltos, assassinatos e do tráfico de drogas.
Trata-se
de uma situação que não condiz com o espírito cordato e alegre do brasileiro.
Mas não há nada perdido. As coisas poderão e têm que ser revertidas, com a
cooperação de todos: empresários, trabalhadores, políticos, responsáveis pela
segurança, militares e homens de comunicação.
Por
este ligeiro balanço de 1994, ficou claro que dificilmente, pelo bem e pelo mal
que nos trouxe, este ano será esquecido por alguém. Que os erros cometidos no
seu transcorrer sejam didáticos e nos ensinem o caminho do progresso e da
felicidade.
(Artigo publicado na página 2, Opinião,
da Folha do Taquaral, em 12 de novembro de 1994).
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