Thursday, January 22, 2015

Rajiv consolida o poder


 Pedro J. Bondaczuk


O primeiro-ministro indiano, Rajiv Gandhi, de quem se dizia, na época em que assumiu a chefia do gabinete na Índia, há cinco meses, que não tinha gosto pela política, vem se revelando um exímio estadista e homem de partido.

Nas eleições parlamentares de dezembro passado, quando obteve a maior vitória eleitoral em seu país, sua performance foi atribuída, pelo menos em parte, ao fator sentimental, já que na ocasião fazia apenas dois meses que sua mãe fora assassinada.

Mas o sucesso nos atuais pleitos estaduais deve-se, sem dúvida, exclusivamente à eficiência de sua condução do Partido do Congresso, hoje o maior do mundo em número de membros e, principalmente, de eleitores.

Quando Rajiv assumiu o governo da Índia, na tarde de 31 de outubro do ano passado, menos de quatro horas após o assassinato de Indira Gandhi, o país estava convulsionado. Massacres indescritíveis registravam-se nas principais cidades, tendo por vítimas os seguidores da seita “sikh”, e a situação parecia, aos observadores locais e aos que estavam à distância, estar fugindo ao controle das autoridades.

Atrocidades de uma selvajaria brutal instituíam a baderna e o medo na Índia, causando prejuízos quase irrecuperáveis, num país sabidamente pobre.

Rajiv, entretanto, desmentindo sua auto avaliação, segundo a qual não levava jeito para questões administrativas, em menos de 48 horas retomou as rédeas da situação. Puniu severamente os chefes de polícia que fizeram vistas grossas à agressão sofrida pelos “sikhs”. E, em menos de duas semanas após as trágicas ocorrências posteriores ao assassinato de sua mãe, indenizou a comunidade agredida pelos prejuízos que ela sofreu e garantiu sua reintegração na vida indiana, prometendo castigos muito duros a quem a hostilizasse outra vez.

Agora, passados cinco meses da sua subida ao poder, o apoio a Rajiv, na Índia, é quase completo. Impressiona nele, não apenas a energia de quem sabe o que faz, mas sobretudo a moderação com que age. Assim foi no lamentável incidente de Bhopal, quando 2.500 indianos perderam a vida e mais de 50 mil sofrem, até hoje, os efeitos terríveis provocados pelo isocianato de metila, que vazou da fábrica da Union Carbide naquela cidade.

O primeiro-ministro buscou os caminhos civilizados dos tribunais para resolver a questão das indenizações pelos danos materiais e em vidas provocado pela empresa. Moderado, e sobretudo imparcial, revelou ser, também, no incidente da espionagem que vinha sendo feita (há anos) no gabinete da sua mãe. Sem muito estardalhaço, pediu, apenas, que os diplomatas envolvidos, tanto o francês, quanto os poloneses e checos, deixassem, incontinenti, o país.

Para completar um elenco de medidas de grande sabedoria política e até de prudência, demonstrando que, sobretudo aos estadistas, não cabe guardar inúteis rancores e estéril espírito de vingança, abriu um recrutamento maciço aos “sikhs” (a seita responsável pela morte de sua própria mãe) no Exército indiano, reconhecendo o valor e o extraordinário espírito de disciplina de seus integrantes.

Muita gente não entende como a Índia, com a multiplicidade de raças, línguas e religiões e com o elenco de problemas que tem, consegue se manter coesa e sobreviver. O segredo, certamente, não vem dos antigos “Vedas”, nem dos grandes mestres hinduístas.

Vem da saudável prática democrática de bem administrar os conflitos de sua sociedade, extraindo deles a energia para a sua sobrevivência, ao invés de extinguí-los, como fazem os regimes ditatoriais. Neste aspecto, a Índia, desde a sua independência, segue dando preciosas lições aos demais países da comunidade internacional.

(Artigo publicado na página 11, Internacional, do Correio Popular, em 6 de março de 1985).


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