Nova
elite esclarecida
Pedro J. Bondaczuk
A Universidade de São Paulo, USP, acaba de divulgar
um dado sumamente positivo sobre os exames vestibulares deste ano. Constatou
que foi selecionada, em 1994, a melhor turma, em termos de preparo, dos últimos
60 anos, ou seja, desde 1934.
O fato reacende as esperanças daqueles que acreditam
e, mais do que isso, que agem no sentido da transformação do País. É verdade
que no campo da educação, como em tantos outros setores, notícias más abundam e
as boas são escassas e bastante raras. Há duas ou três semanas, por exemplo, o
programa “Fantástico”, da Rede Globo, deu conta que nos exames vestibulares da
mais tradicional universidade paranaense, deste ano, cerca de 15 mil estudantes
tiraram nota zero em pelo menos uma disciplina.
Este é mais um contraste neste Brasil tão rico em
potencial e, no entanto, tão contraditório . Daí sempre alertarmos, ao tratar
de assuntos polêmicos, para os riscos das generalizações. O comentarista, em
geral, tem o hábito de enfatizar os aspectos negativos da realidade brasileira.
Não porque seja pessimista ou adepto da posição do “quanto pior, melhor”.
Tal atitude, embora pareça paradoxal, é uma
manifestação de fé, de confiança, praticamente de certeza, no futuro do País. A
ênfase dada ass injustiças sociais, à inadequação (para não dizer perversidade)
do atual modelo econômico, à violência, à corrupção, à frouxidão moral e a
tantos outros desvios tem um sentido construtivo.
É impossível a cura de qualquer doença sem que ela
seja corretamente diagnosticada. Esse é o papel do formador de opinião pública,
que precisa ficar atento para não resvalar para o derrotismo, ou para a
apologia da falsa esperteza, que tanto tem prejudicado o comportamento do
brasileiro.
A constatação da USP, da qualidade dos novos
universitários, reforça a tese de que, enquanto muitos políticos seguem
praticando suas mazelas; enquanto as chagas sociais ficam cada vez mais
visíveis e a maior parte da população está às voltas com a miséria, com a
violência e com a fome que ronda seus lares; enquanto o analfabetismo cresce, a
saúde pública adquire proporções de catástrofe e o ensino requer urgentes
mudanças, uma nova elite esclarecida está emergindo e se mostrando capaz de,
num futuro não muito remoto, arrumar a casa.
(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio
Popular, em 7 de fevereiro de 1994)
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