Paradigmas
da racionalidade
Pedro J. Bondaczuk
O
homem distingue-se de outras formas de vida (e olhem que elas ascendem aos
bilhões neste peculiar planeta que orbita uma estrela de quinta grandeza de uma
galáxia que sequer é das maiores) por uma característica ímpar, única,
inexistente em qualquer outro ser vivo, pelo menos dos conhecidos: a razão. Até
aí, limitei-me a dizer o óbvio, não é mesmo?. Até uma criança, que mal começa a
entender o mundo, sabe disso. É certo que este animal peculiar nem sempre
exerce sua racionalidade. Não, pelo menos, plenamente. Diria que a maior parte
dos seus atos, se os tomarmos apenas no aspecto “numérico”, tende ao, ou é
irracional. Quando se deixa levar apenas pelo instinto, o homem tem a tendência
de ser, e é, a mais perigosa, perversa e impiedosa das feras. Tanto que é o
responsável pela extinção de milhares de espécies vivas, agindo como se fosse o
único a ter direito à vida. Claro que não é. Mas...
Há
três características essenciais cuja ausência, se houver, nos será catastrófica
para uma convivência, digamos, “normal” com nossos semelhantes, que considero
“paradigmas da racionalidade”: inteligência, sentimento e vontade. Todas têm
que estar presentes simultaneamente, para nos tornar úteis, produtivos e, enfim,
“humanos”, no aspecto tido e havido como ideal. Se faltar uma delas, mas
contarmos com as outras duas, ainda poderemos nos defender, de uma forma ou de
outra. Sem as três, porém, seremos piores do que os mais obtusos animais.
E
o que vem a ser a inteligência? A palavra é auto-explicativa. Ou seja, é a
capacidade potencial de entendimento. Há controvérsias sobre a exclusividade do
ser humano dessa característica. A maioria tem como certo que os demais seres
viventes não são inteligentes. Ou seja, que não entendem seu papel e que são
movidos exclusivamente pelos instintos. Será? Tenho lá minhas dúvidas. Como
também reluto em considerar que a inteligência seja distintiva do homem, ou
característica exclusivamente dele. Há pessoas que praticamente não entendem
nada (ou pelo menos agem de forma a passarem essa impressão): nem do que são,
nem de onde estão e muito menos de como devem agir não só para a própria
preservação, mas para uma convivência no mínimo pacífica e harmoniosa com os
semelhantes.
Por
outro lado, já tive animais (cães e gatos) que agiram ou reagiram ao meu
contato de forma a que me levasse a pelo menos desconfiar que fosse reação não
instintiva. Mostraram-se muito mais inteligentes do que determinadas pessoas
com as quais tive a desventura de cruzar. Seria inteligência, de fato?
Entenderiam quem sou e que minhas intenções para com eles não eram hostis, mas
de afeto e proteção? Como saber? Entendo que a resposta deva ser afirmativa.
Sim, esses cães e gatos, para citar apenas eles, têm, no meu entender, certa
parcela de “inteligência”, posto que primária e pouco desenvolvida.
Somos
inteligentes quando entendemos, mesmo que minimamente, quem somos, onde estamos
e a que viemos. Quando compreendemos, desenvolvemos e utilizamos habilidades
naturais e peculiares, como o manejo das mãos e dos dedos, por exemplo, que
outros animais não têm. Ou como a capacidade de raciocínio e de abstração. Ou
como a iniciativa de criar, desde o necessário para nossa sobrevivência e
conforto, a obras de arte, para nosso deleite e dos que nos cercam. E vai por
aí afora. Certo grau de inteligência, portanto, é indispensável. Ela varia de
pessoa para pessoa. Uns são muito inteligentes, beirando a genialidade. Outros,
por seu turno... são, digamos, mais obtusos.
Outra
característica necessária para que possamos nos dar bem na vida, são os
sentimentos, ou, mais especificamente, sua qualidade e natureza. Refiro-me,
aqui, aos benignos, aos sadios, aos construtivos, como o amor, a amizade, a
bondade, a solidariedade etc.etc.etc., que devemos cultivar ao máximo. Em
contrapartida, temos que controlar e, se possível, eliminar os negativos, como
o ódio, a cobiça, a inveja, a agressividade etc.etc.etc. que tendem, em grau
extremo, a nos destruir. São os sentimentos bons e sadios que nos aproximam dos
semelhantes, numa troca mútua e positiva de emoções.
Finalmente,
a terceira característica que considero essencial no homem e um dos paradigmas
da racionalidade é a vontade. É ela que nos mobiliza à ação. Podemos, é
verdade, sobreviver sem a inteligência. Mas então andaremos às cegas pelo
mundo, sem entender o que nos fazem e o que fazemos. Sem sentimentos, não
teremos motivação para fazer o que quer que seja, a não ser garantir, e apenas
instintivamente, nossa sobrevivência. E sem vontade... não passaremos de
parasitas vivendo às custas alheias. O médico argentino, naturalizado
brasileiro, Idel Becker, completa esse raciocínio e resume, em poucas palavras,
o que tentei expressar em texto tão longo, ao ponderar: “Sem inteligência, o
homem é cego; sem sentimento, inerte; sem vontade, escravo”. E não é verdade?!!
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